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Juca Kfouri
Meio Choque-Rei
Um 0 a 0 para esquecer no primeiro tempo e um segundo que mereceu gols. Mas valeu
HÁ 0 a 0 e 0 a 0.
O do primeiro tempo no Morumbi foi de doer. Emoção só em mais um gol perdido por Luis Fabiano.
O Palmeiras aceitava a superioridade técnica do São Paulo e revelava pouca ambição, como se o empate fosse o máximo. Mas até o tímido Gilson Kleina se deu conta de que a tal superioridade tricolor estava mais no papel do que no gramado. Daí o 0 a 0 do segundo tempo ter sido outra coisa.
Se a primeira metade do Choque--Rei não mereceu mais do que os 18 mil pagantes, a segunda mereceu o dobro. Patrik Vieira entrou no lugar de Charles, e o Palmeiras foi para cima do São Paulo.
A expulsão de Lúcio, em tarde de trombadão para lembrar o começo de sua carreira, permitiu ao alviverde aumentar a pressão, mas mesmo antes dela, com Valdivia jogando bem, o Palmeiras dava as cartas.
Então foi a vez de Ney Franco errar e acertar. Errar ao tirar Ganso que acertava todos os passes e acertar ao botar o melhor jogador do tricolor na atualidade, o destemido Osvaldo, que pôs fogo no ataque e não deu paz à defesa palmeirense.
Jogador destro pela esquerda é sempre uma arma e o cearense sabe fazer disso uma muito bem calibrada. De tudo, só uma conclusão está terminantemente proibida: a de que Valdivia é como mulher de malandro. A outra evidente: os próprios jogadores do Palmeiras trataram de punir o centroavante Kléber. Não lhe deram a bola para nada.
O Palmeiras será assim, ciente de suas inúmeras limitações. E o São Paulo precisa de um choque, se não rei, ao menos presidencial...
CONSTRANGEDOR
Chega a ser constrangedor ter de voltar ao tema, mas se impõe.
José Maria Marin agora diz que seu aparte ao colega de extrema-direita Wadih Helu não se referiu a Vladimir Herzog. Helu criticou da tribuna da Assembleia Legislativa paulista, em 1975, o jornalismo da TV Cultura, dirigido por Herzog, chamando a emissora de "Televisão Vietnan Cultura de São Paulo". E Marin o aparteou, em apoio, dizendo: "É preciso mais do que nunca uma providência, a fim de que a tranquilidade volte a reinar não só nesta Casa [TV Cultura], mas principalmente nos lares paulistanos". O deputado estadual Marin tinha 43 anos.
A "providência" não tardou e Herzog morreu sob tortura nas mãos da polícia da ditadura.
Que ele negue ter surrupiado uma medalha, ou argumente que a gambiarra de luz elétrica feita por ele se deu porque se esqueceu dela ao vender o segundo apartamento que tinha abaixo do que reside, só pode ser atribuído a um estado doentio, mas negar a alcaguetagem explícita, na flor da idade, não triunfará.
Ninguém quer vê-lo, aos 81, preso. Mas o responsáveis pelos crimes de Estado têm de ser identificados. E um deles não deve abrir a Copa do Mundo no Brasil democrático.