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FUTEBOL
O peso do passado
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
Os campeonatos estaduais
começam a esquentar, mas
hoje vamos falar de outra coisa:
seleção brasileira.
O amistoso contra a China não
tem grande importância, mas a
primeira convocação de um novo
técnico adquire sempre um caráter simbólico que convém perscrutar para ter uma idéia da filosofia que será implantada.
Parreira, de modo geral, apostou no garantido. Até aí, tudo
bem. Como reza o ditado, em time que está ganhando não se mexe. Mas será mesmo?
Um treinador da seleção não
pode pensar apenas no momento,
mas num trabalho de longo prazo, tendo no horizonte as competições mais importantes dos próximos anos (no caso, a Copa de
2006, incluindo as suas eliminatórias).
Em 2002, o Brasil foi campeão
mesclando jogadores já testados
em outras Copas (Cafu, Ronaldo,
Rivaldo, Roberto Carlos) com outros menos experientes (Ronaldinho, Gilberto Silva, Kléberson). É
uma boa política, e parece que
Parreira vai segui-la.
Nessa primeira convocação do
novo velho treinador, contudo,
penso que o conservadorismo da
comissão técnica falou mais alto.
Mexeu-se muito pouco no elenco
de 2002, mesmo sabendo que alguns dos convocados já terão,
muito provavelmente, "passado
do ponto" na Copa de 2006.
Discordo particularmente de
três nomes: Cafu, Belletti e Emerson. Cada um por um motivo, eles
não me parecem os mais indicados para integrar uma seleção
que está começando uma longa e
espinhosa caminhada.
Cafu soube se servir de seu vigor
físico para exercer com eficiência
as funções de lateral e de ala, num
período de carência brasileira no
setor. Mas seu fôlego já não é mais
o mesmo. Penso que cumpriu dignamente seu papel na Copa-2002
e poderia deixar essa imagem de
triunfo na memória da torcida.
Dificilmente estará em forma na
próxima Copa, quando terá 36
anos.
Alguém dirá: Romário também
tinha essa idade no ano passado,
e muitos o queriam na seleção. A
diferença é que Cafu nunca foi
um craque. Romário, atacante
excepcional, soube mudar seu
modo de jogar para adaptar-se ao
inevitável declínio físico.
O erro foi agravado pela convocação de Belletti, que não deixou
nenhuma vaga para os laterais-direitos que estão se esforçando
no Brasil para alcançar um lugar
ao sol: Mancini, Rogério, Leonardo, Alessandro... Foi uma ducha
de água fria para todos eles.
Não que Belletti seja propriamente ruim. É um jogador mediano, cujas limitações já conhecemos. Se Cafu aposentasse sua
desbotada amarelinha, talvez Belletti pudesse ser opção como reserva de um dos laterais citados
acima. O que desanima é ver os
dois juntos.
Já a convocação de Emerson me
parece um retrocesso em termos
de filosofia do futebol.
Justamente quando começam a
surgir volantes mais leves, que
conseguem conciliar uma marcação não-faltosa com uma boa saída de bola (como Renato, Paulo
Almeida e Fábio Simplício, entre
outros), Parreira resolve investir
num xerife de velho tipo, dos que
atropelam mais do que jogam.
Não por acaso, Emerson é o jogador mais faltoso da atual temporada italiana.
Se a idéia é homenagear esses
velhos combatentes, que se faça
um belo jogo de despedida. O futuro não pode ser soterrado pelo
passado.
Fartura e miséria
O empate contra a Lusa na última quarta-feira mostrou de
modo cristalino o problema
central que o Corinthians enfrenta. Insatisfeito com a produção de seu time, Geninho
alternou em campo cinco
atacantes: Gil, Deivid, Leandro e os novos contratados
Liedson e Lucas. À exceção
de alguns lampejos de Gil,
ninguém rendeu muito. Por
quê? Porque o time não tem
ninguém na armação. Desse
jeito, pode pôr até o Ronaldo
e o Raúl lá na frente que não
vai acontecer nada.
Comissão de frente
O Santos, ao contrário do que
se temia, não apenas conseguiu segurar suas jovens estrelas como reforçou sensivelmente seu elenco. A entrada de Ricardo Oliveira, especialmente, dotou o time de
um poder de fogo ainda
maior. Quando melhorar seu
entrosamento com Diego e
Robinho, coitados dos rivais.
E-mail jgcouto@uol.com.br
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