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São Paulo, sábado, 01 de fevereiro de 2003

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FUTEBOL

O peso do passado

JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA

Os campeonatos estaduais começam a esquentar, mas hoje vamos falar de outra coisa: seleção brasileira.
O amistoso contra a China não tem grande importância, mas a primeira convocação de um novo técnico adquire sempre um caráter simbólico que convém perscrutar para ter uma idéia da filosofia que será implantada.
Parreira, de modo geral, apostou no garantido. Até aí, tudo bem. Como reza o ditado, em time que está ganhando não se mexe. Mas será mesmo?
Um treinador da seleção não pode pensar apenas no momento, mas num trabalho de longo prazo, tendo no horizonte as competições mais importantes dos próximos anos (no caso, a Copa de 2006, incluindo as suas eliminatórias).
Em 2002, o Brasil foi campeão mesclando jogadores já testados em outras Copas (Cafu, Ronaldo, Rivaldo, Roberto Carlos) com outros menos experientes (Ronaldinho, Gilberto Silva, Kléberson). É uma boa política, e parece que Parreira vai segui-la.
Nessa primeira convocação do novo velho treinador, contudo, penso que o conservadorismo da comissão técnica falou mais alto. Mexeu-se muito pouco no elenco de 2002, mesmo sabendo que alguns dos convocados já terão, muito provavelmente, "passado do ponto" na Copa de 2006.
Discordo particularmente de três nomes: Cafu, Belletti e Emerson. Cada um por um motivo, eles não me parecem os mais indicados para integrar uma seleção que está começando uma longa e espinhosa caminhada.
Cafu soube se servir de seu vigor físico para exercer com eficiência as funções de lateral e de ala, num período de carência brasileira no setor. Mas seu fôlego já não é mais o mesmo. Penso que cumpriu dignamente seu papel na Copa-2002 e poderia deixar essa imagem de triunfo na memória da torcida. Dificilmente estará em forma na próxima Copa, quando terá 36 anos.
Alguém dirá: Romário também tinha essa idade no ano passado, e muitos o queriam na seleção. A diferença é que Cafu nunca foi um craque. Romário, atacante excepcional, soube mudar seu modo de jogar para adaptar-se ao inevitável declínio físico.
O erro foi agravado pela convocação de Belletti, que não deixou nenhuma vaga para os laterais-direitos que estão se esforçando no Brasil para alcançar um lugar ao sol: Mancini, Rogério, Leonardo, Alessandro... Foi uma ducha de água fria para todos eles.
Não que Belletti seja propriamente ruim. É um jogador mediano, cujas limitações já conhecemos. Se Cafu aposentasse sua desbotada amarelinha, talvez Belletti pudesse ser opção como reserva de um dos laterais citados acima. O que desanima é ver os dois juntos.
Já a convocação de Emerson me parece um retrocesso em termos de filosofia do futebol.
Justamente quando começam a surgir volantes mais leves, que conseguem conciliar uma marcação não-faltosa com uma boa saída de bola (como Renato, Paulo Almeida e Fábio Simplício, entre outros), Parreira resolve investir num xerife de velho tipo, dos que atropelam mais do que jogam. Não por acaso, Emerson é o jogador mais faltoso da atual temporada italiana.
Se a idéia é homenagear esses velhos combatentes, que se faça um belo jogo de despedida. O futuro não pode ser soterrado pelo passado.

Fartura e miséria
O empate contra a Lusa na última quarta-feira mostrou de modo cristalino o problema central que o Corinthians enfrenta. Insatisfeito com a produção de seu time, Geninho alternou em campo cinco atacantes: Gil, Deivid, Leandro e os novos contratados Liedson e Lucas. À exceção de alguns lampejos de Gil, ninguém rendeu muito. Por quê? Porque o time não tem ninguém na armação. Desse jeito, pode pôr até o Ronaldo e o Raúl lá na frente que não vai acontecer nada.

Comissão de frente
O Santos, ao contrário do que se temia, não apenas conseguiu segurar suas jovens estrelas como reforçou sensivelmente seu elenco. A entrada de Ricardo Oliveira, especialmente, dotou o time de um poder de fogo ainda maior. Quando melhorar seu entrosamento com Diego e Robinho, coitados dos rivais.

E-mail jgcouto@uol.com.br


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