São Paulo, domingo, 01 de fevereiro de 2004

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Para Florentino Pérez, equipe de estrelas tem na imagem maior ativo

Presidente diz que fez do Real um vendedor de ilusão

JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO
DA REPORTAGEM LOCAL

Mais do que um time de futebol os ""galácticos" do Real Madrid são uma unidade de negócios.
É assim que o presidente Florentino Pérez descreve aquela que é considerada a maior equipe do mundo na atualidade. Ou, no mínimo, a mais estrelada.
Quando chegou ao poder ao vencer a eleição contra Lorenzo Sanz, recebendo 16.469 votos contra 13.302 de seu antecessor, Pérez, 56, fez uma promessa. A cada temporada faria uma contratação de peso. Em 2000, o time recebeu o reforço do português Figo. Em 2001, do francês Zidane. Em 2002, do brasileiro Ronaldo. Em 2003, do inglês Beckham.
Só o marido de Victoria Adams, a ex-Spice Girl, custou ao clube espanhol mais de 34 milhões.
Mas, como contou Pérez à Folha, se para outros times pode parecer uma tremenda complicação recuperar investimento de tal magnitude, para o Real não é.
""Em um ano temos condições de recuperar pelo menos metade do que investimos na contratação. Em dois anos, o investimento está pago", afirmou o dirigente. ""Só um dos giros asiáticos do Beckham gerou 14 milhões, metade dos quais ficaram com o clube."
Além da questão prática -quanto sai de caixa para contratar uma estrela e quanto volta graças a ela-, existem outros pontos em jogo.
""É difícil mensurar quanto vale um atleta. Para nós certamente vale muito, porque o Real deixou de ser um time, virou um vendedor de ilusão, no bom sentido. Nosso maior ativo é nossa imagem. Estamos no mundo do show business e esse é nosso negócio."
E tanto é verdade que a diretoria do rival Atlético de Madri costuma brincar que, se o Tom Cruise estivesse à venda, certamente teria sido comprado pelo Real.
""É que nossas estrelas valem mais do que o gol ou a assistência que elas dão durante um jogo. Elas valem muito pelo que são também fora dos gramados. Na Espanha e no mundo inteiro falam delas o tempo todo, com quem estão saindo, o que estão vestindo, o que gostam de comer. É disso que elas vivem e, de certa forma, nós também", disse Pérez.
Com as grandes contratações, o dirigente explicou que as receitas de marketing cresceram substancialmente. Quando chegaram ao clube, Zidane, Ronaldo e Beckham conseguiram grandes proezas. O primeiro vendeu 45 mil camisetas logo ao se apresentar no Santiago Bernabéu, o estádio do Real. O segundo, 65 mil em seu primeiro dia. O terceiro, 80 mil.
Cada camisa do Real Madrid custa 65. Se tiver o nome ou o número do jogador nas costas, o preço sobe para 83.
No ano passado, Ronaldo vendeu 800 mil camisas da equipe pelo mundo todo -bateu o recorde no mês de setembro, quando foram vendidas 120 mil.
""Temos 93 milhões de torcedores espalhados pelo mundo, a grande maioria com condições financeiras para comprar nossos produtos. É por isso que precisamos dos "galácticos", ser um time internacional. Isso representa ótimas receitas e ótimas contratações para o futuro."
Com as estrelas, as receitas de marketing, que incluem licenciamento de produtos, campanhas publicitárias com os jogadores e novos parceiros comerciais, aumentaram substancialmente.
Em 2000/2001, traziam 34 milhões para os cofres do Real. Em 2002/2003, 58 milhões. Em 2003/2004, 100 milhões.
Dos 280 milhões que o time fatura por ano, o marketing chegou, portanto, a representar 35% do total, quando nos anos 90 não superava 15% do faturamento.
""Também com grandes jogadores conseguimos aumentar o valor dos direitos de TV e a bilheteria, todo jogo nosso agora é sinal de estádio lotado", declarou Pérez, lembrando ainda que o time estipulou um piso de US$ 2,5 milhões para disputar amistosos.
O valor chega a ser cinco vezes maior do que o pedido por seleções como Brasil e Argentina.
Mas, apesar de falar tanto em dinheiro, o presidente do Real adota um outro discurso quando fala da Bolsa de Valores e condena a entrada do time ao mundo das ações. ""Não sou contra a Bolsa, mas temos outros meios de gerar receitas. Digo e repito: o segredo do Real é estar no coração das pessoas, não no bolso delas."



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