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FUTEBOL
Correr atrás do lucro
TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA
Hoje conheceremos os finalistas da Copa do Brasil. O
Corinthians tem dois gols, e o
Brasiliense tem três gols de vantagem sobre São Paulo e Atlético-MG, respectivamente. O chavão
do futebol diz que 2 a 0 é um resultado perigoso. É mais do que 1
a 0 e menos do que 3 a 0.
Qual deveria ser a postura de
uma equipe com essa vantagem?
Não mudar o comportamento,
não recuar nem se limitar a tocar
a bola. Procurar fazer gols. Para
descontar a diferença, o adversário terá que arriscar. Diz o chavão
que "perdido por um, perdido por
mil". Mas, se um time for todo pra
frente, desorganizado, leva mais
um gol. Acabam as esperanças.
O raciocínio contrário, de que,
se uma equipe fez dois ou três
gols, a outra também pode fazer
sem mudar o comportamento,
não funciona. Uma coisa é marcar muitos gols naturalmente, a
outra é ter a obrigação de fazer.
De algum modo, a equipe em
desvantagem precisa planejar e
executar algo diferente. A melhor
forma é pressionar desde o início,
armar bem a defesa para o contra-ataque, tentar fazer logo um
gol e desestabilizar o outro time.
Para executar isso, não basta
um pedido do técnico aos atletas.
É preciso treinar essa marcação
até torná-la um hábito. Num único treino não dá para aprender.
Também não adianta os técnicos
ficarem desesperados e gritarem
na lateral para apertar a marcação quando sua equipe está perdendo. A maioria dos jogadores
brasileiros não sabe fazer isso.
Marcar no campo rival é uma
tática de grande risco. Há também um enorme desgaste físico.
Quando se perde a bola -ou os
armadores são driblados-,
abrem-se espaços na defesa. Por
isso deve ter sempre um terceiro
defensor na sobra, que pode ser
alternadamente um lateral.
Das principais seleções, a Argentina é a que mais adota essa
postura. No segundo tempo das
eliminatórias, não deixou o Brasil
trocar passes e não permitiu que
passasse do meio-campo. Com sucesso, a França fez o mesmo contra o Brasil na Copa das Confederações. Portugal também tomou a
bola com facilidade nos primeiros
20 minutos do último amistoso.
Essa postura poderá ser uma das
novidades no Mundial.
Felipão precisa treinar a equipe
para sair e executar essa marcação. Isso é mais simples e eficiente
para a equipe ficar mais ofensiva
do que mudar todo o esquema tático e escalar mais atacantes.
Quando se toma a bola no outro campo, os armadores e os alas
estão próximos do gol e tornam-se atacantes. São sete na frente e
três atrás. Normalmente, no time
brasileiro acontece o contrário.
Na primeira fase, contra equipes mais fracas, o Brasil poderá
utilizar essa tática para definir logo a partida e "não deixar o adversário gostar do jogo", como diz
um outro clichê do futebol.
Voltando à Copa do Brasil, os
dois times em desvantagem terão
de pressionar desde o início, especialmente o São Paulo, já que
uma das grandes qualidades do
Corinthians é não entregar facilmente a bola para o adversário.
São Paulo e Atlético terão de correr atrás do lucro, não do prejuízo
-mais um chavão do futebol.
A volta dos pontas
Uma outra novidade na Copa
do Mundo de 2002 poderá ser o
retorno dos pontas. A diferença é
que os atuais também entram em
diagonal pelo meio, para finalizar (como o corintiano Deivid), e
marcam os avanços dos laterais.
Além disso, a melhor maneira
de inibir o apoio dos laterais é colocar um jogador veloz em suas
costas.
Uma das opções da França na
Copa será a presença dos atacantes Henry e Wiltord nas pontas e
Trezeguet pelo meio. A Argentina
normalmente joga com Ortega
pela direita, Gonzales pela esquerda e Crespo ou Batistuta como centroavantes. Portugal também utiliza Figo e Sérgio Conceição pelos lados, e o Brasil terá a
opção de Edílson e Denílson.
Zé Roberto, que sempre jogou
bem nas posições de lateral, ala,
volante e meia-esquerda no Bayern Leverkusen, vive seu melhor
momento quase como um ponta-esquerda. Denílson também está
muito bem no Betis e na seleção,
jogando desta maneira. Ele e Zé
Roberto têm muita velocidade e
também habilidade.
Com obsessão em adaptar o jogador ao esquema tático, os técnicos modernos, das equipes principais e de base, acabaram com os
excelentes pontas. Eles foram jogar de atacantes pelo meio ou de
armadores.
Nos próximos anos, a grande
novidade poderá ser o retorno dos
pontas. O que é novo hoje, já foi
velho ontem.
E-mail
tostao.folha@uol.com.br
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