São Paulo, quarta-feira, 01 de maio de 2002

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FUTEBOL

Correr atrás do lucro

TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA

Hoje conheceremos os finalistas da Copa do Brasil. O Corinthians tem dois gols, e o Brasiliense tem três gols de vantagem sobre São Paulo e Atlético-MG, respectivamente. O chavão do futebol diz que 2 a 0 é um resultado perigoso. É mais do que 1 a 0 e menos do que 3 a 0.
Qual deveria ser a postura de uma equipe com essa vantagem? Não mudar o comportamento, não recuar nem se limitar a tocar a bola. Procurar fazer gols. Para descontar a diferença, o adversário terá que arriscar. Diz o chavão que "perdido por um, perdido por mil". Mas, se um time for todo pra frente, desorganizado, leva mais um gol. Acabam as esperanças.
O raciocínio contrário, de que, se uma equipe fez dois ou três gols, a outra também pode fazer sem mudar o comportamento, não funciona. Uma coisa é marcar muitos gols naturalmente, a outra é ter a obrigação de fazer.
De algum modo, a equipe em desvantagem precisa planejar e executar algo diferente. A melhor forma é pressionar desde o início, armar bem a defesa para o contra-ataque, tentar fazer logo um gol e desestabilizar o outro time.
Para executar isso, não basta um pedido do técnico aos atletas. É preciso treinar essa marcação até torná-la um hábito. Num único treino não dá para aprender. Também não adianta os técnicos ficarem desesperados e gritarem na lateral para apertar a marcação quando sua equipe está perdendo. A maioria dos jogadores brasileiros não sabe fazer isso.
Marcar no campo rival é uma tática de grande risco. Há também um enorme desgaste físico. Quando se perde a bola -ou os armadores são driblados-, abrem-se espaços na defesa. Por isso deve ter sempre um terceiro defensor na sobra, que pode ser alternadamente um lateral.
Das principais seleções, a Argentina é a que mais adota essa postura. No segundo tempo das eliminatórias, não deixou o Brasil trocar passes e não permitiu que passasse do meio-campo. Com sucesso, a França fez o mesmo contra o Brasil na Copa das Confederações. Portugal também tomou a bola com facilidade nos primeiros 20 minutos do último amistoso. Essa postura poderá ser uma das novidades no Mundial.
Felipão precisa treinar a equipe para sair e executar essa marcação. Isso é mais simples e eficiente para a equipe ficar mais ofensiva do que mudar todo o esquema tático e escalar mais atacantes.
Quando se toma a bola no outro campo, os armadores e os alas estão próximos do gol e tornam-se atacantes. São sete na frente e três atrás. Normalmente, no time brasileiro acontece o contrário.
Na primeira fase, contra equipes mais fracas, o Brasil poderá utilizar essa tática para definir logo a partida e "não deixar o adversário gostar do jogo", como diz um outro clichê do futebol.
Voltando à Copa do Brasil, os dois times em desvantagem terão de pressionar desde o início, especialmente o São Paulo, já que uma das grandes qualidades do Corinthians é não entregar facilmente a bola para o adversário. São Paulo e Atlético terão de correr atrás do lucro, não do prejuízo -mais um chavão do futebol.

A volta dos pontas
Uma outra novidade na Copa do Mundo de 2002 poderá ser o retorno dos pontas. A diferença é que os atuais também entram em diagonal pelo meio, para finalizar (como o corintiano Deivid), e marcam os avanços dos laterais.
Além disso, a melhor maneira de inibir o apoio dos laterais é colocar um jogador veloz em suas costas.
Uma das opções da França na Copa será a presença dos atacantes Henry e Wiltord nas pontas e Trezeguet pelo meio. A Argentina normalmente joga com Ortega pela direita, Gonzales pela esquerda e Crespo ou Batistuta como centroavantes. Portugal também utiliza Figo e Sérgio Conceição pelos lados, e o Brasil terá a opção de Edílson e Denílson.
Zé Roberto, que sempre jogou bem nas posições de lateral, ala, volante e meia-esquerda no Bayern Leverkusen, vive seu melhor momento quase como um ponta-esquerda. Denílson também está muito bem no Betis e na seleção, jogando desta maneira. Ele e Zé Roberto têm muita velocidade e também habilidade.
Com obsessão em adaptar o jogador ao esquema tático, os técnicos modernos, das equipes principais e de base, acabaram com os excelentes pontas. Eles foram jogar de atacantes pelo meio ou de armadores.
Nos próximos anos, a grande novidade poderá ser o retorno dos pontas. O que é novo hoje, já foi velho ontem.

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