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Dez anos após morte, homem que mais acompanhou Senna nas pistas fala das opiniões sobre Schumacher e dos planos para o futuro que não houve
"Senna odiava o ar da F-1 e achava alemão desleal"
FÁBIO SEIXAS
DA REPORTAGEM LOCAL
O Ayrton Senna que morreu há
exatos dez anos na curva Tamburello, em Imola, achava Michael
Schumacher desleal, detestava o
ambiente da F-1 e hoje estaria
aposentado, longe da categoria.
A descrição é feita pelo homem
que mais trabalhou com o brasileiro. Que conquistou, com ele, o
tricampeonato. Seu patrão por
seis das 11 temporadas que disputou. Que o orientou, via rádio, em
96 dos 161 GPs de sua carreira.
E que decidiu calar neste ano,
diante de tantos pedidos para que
falasse de seu mais famoso pupilo.
Ron Dennis, chefe da McLaren,
falou apenas à revista oficial da
equipe, que será distribuída a partir de hoje na Europa. No Brasil, a
entrevista foi cedida com exclusividade pelo time para a Folha.
"Ayrton achava que havia pessoas na F-1 que estavam dispostas
a vencer a qualquer custo. Não
apenas pilotos, mas também integrantes de equipes ou até mesmo
escuderias inteiras. E ele achava
que Michael se encaixava nessa
categoria, de vencer não importando o método... Essa nunca foi a
maneira dele ou a nossa de encarar as coisas", revelou Dennis.
"Mas não quero ficar falando
sobre isso", completou o inglês.
Naquele início de temporada de
94, o surpreendente ótimo desempenho de Schumacher e da
Benetton, então sua equipe, começava a causar estranheza. Após
a morte de Senna, no dia 1º de
maio, com a disparada do alemão
ao primeiro título, as suspeitas de
irregularidade ganharam força.
Em pelo menos duas ocasiões, o
brasileiro fez questão de mostrar
sua opinião sobre Schumacher.
A primeira, no GP da França de
92, quando os dois se tocaram e
Senna levou a pior, abandonando
a corrida. A outra, na Alemanha,
20 dias depois, após o alemão
frear subitamente na sua frente
durante um treino. Em ambas, o
tricampeão foi até os boxes do novato para tirar satisfações. Da segunda vez, só não o agrediu porque foi contido por mecânicos.
Mas Dennis não falou apenas
sobre o alemão. Fez, também, um
exercício de futurologia. Para ele,
Senna, hoje, estaria longe da F-1.
"Naquela altura da vida, em 94,
ele não tinha nenhum plano de
parar, mas eu sempre o questionava sobre o futuro, sobre uma
possível atuação nos bastidores.
Só que o Ayrton estava completamente desinteressado. Ele já estava decidido a voltar para o Brasil
quando parasse", declarou. "Já
havia começado uma carreira de
empresário e tinha um excelente
contato com o governo. Seria um
executivo magnífico, sei disso."
Segundo o chefe da McLaren,
Senna "não gostava do ambiente
da F-1 extra-pista" e "ficava enfurecido com toda a política, principalmente com as manipulações
que o afetavam diretamente".
Foi por isso, de acordo com ele,
que o tricampeão decidiu parar
após perder o título para o rival
Alain Prost em 89. Na ocasião,
acusou o francês Jean Marie Balestre, então dirigente máximo da
F-1, de favorecer o compatriota e
precisou se retratar para ser liberado a disputar o Mundial de 90.
"Ali, ele se aposentou. Estava
profundamente revoltado com o
que considerava uma injustiça e
achou melhor parar. Precisei me
esforçar muito para convencê-lo a
voltar atrás na decisão", disse.
Dennis ainda descreve Senna
como alguém que sabia dos riscos
da F-1, que conhecia seus limites e
que aceitava o perigo se fosse necessário arriscar um pouco mais
para buscar um resultado. Mas
também como um piloto sensível,
que ficava abalado quando um
colega sofria um acidente grave.
Exatamente o cenário daquele
1º de maio de 94. Era a terceira
etapa do Mundial, e o brasileiro,
favorito ao título, ainda não havia
vencido. Para piorar, na véspera,
assistira à morte de Roland Ratzenberger no treino oficial.
Mas tudo ficou muito pior às
14h12 locais, 9h12 de Brasília, na
curva Tamburello. "Ayrton amava correr e não mudaria nada nesse script", concluiu Dennis.
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