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pingue-pong
Frank Fischbeck/Getty Images
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Equipe feminina dos EUA assiste a jogo contra chineses em 71
China de ontem e hoje ainda choca e encanta pioneiros
Jogadores da seleção de tênis de mesa encontraram país totalmente fechado em 1971 e, quase 40 anos depois, assombram-se com as mudanças da região
Para os atletas, era uma viagem um
tanto assustadora, mas bastante
curiosa. Para o mundo, as raquetadas dos mesa-tenistas eram
uma importante transformação geopolítica.
Em 1971, aqueles atletas se tornaram o primeiro grupo oficial dos EUA a pisar na China
comunista desde a revolução de 1949.
A viagem, que para muitos começou como
brincadeira, ganhou caráter histórico. Tornou-se um marco na abertura do país ao Ocidente. Movimento que, nos anos seguintes,
com as relações entre os países consolidadas,
levaria a China ao atual status de potência.
DA REPORTAGEM LOCAL
Glenn Cowan, um californiano de 19 anos, rompeu a barreira de seguranças que acompanhava a delegação norte-americana e ganhou as ruas. Cabelos longos, calça jeans manchada, bandana vermelha, em poucos minutos arrastava atrás de
si uma multidão de curiosos.
"Os chineses olhavam para
nós como se fôssemos alienígenas. E nós éramos mesmo, se
você pensar que muitos nunca
haviam visto um norte-americano na vida", declarou à Folha
o ex-jogador Tim Boggan.
Outros o tinham feito pela
última vez durante a Guerra da
Coréia (1950 a 1953).
Se os norte-americanos causaram curiosidade entre os chineses, o primeiro contato com
o país comunista também impressionou os visitantes.
O convite ocorreu durante o
Mundial do Japão. Alguns atletas, como Boggan, intuíram
que aquela era uma viagem
apenas simbólica, e não uma
competição real de tênis de
mesa. Outros decidiram aceitar
o convite por curiosidade.
"Tudo o que eu sabia sobre a
China vinha dos livros e da TV,
que mostravam coisas como
fome e desrespeito aos direitos
humanos. Eu só sabia que não
estava indo para uma viagem
comum, mas não imaginava
que participava de algo tão importante", disse Connie Sweeris, em entrevista após a visita.
Para os dois grupos, no entanto, o primeiro contato com
o país foi impactante.
"Fui arrebatado pela insipidez de uma cidade grande como Guangzhou [capital da
mais rica Província, o antigo
Cantão]. Havia montes de entulho, edifícios sem pintura,
animais levando carros, muitas
bicicletas", diz Boggan, que
ainda se lembra da combinação
de hinos e músicas marciais tocada para recepcioná-los.
Durante a viagem, de 10 a 17
de abril, os norte-americanos
foram levados para um tour pelas principais atrações turísticas de Pequim e região.
No restante do tempo, ficavam sempre em locais controlados. O que aumentou ainda
mais a ignorância dos viajantes
sobre a importância da visita.
"Eu estava muito contente,
mas tinha medo. Eu não tinha
idéia do que era a China. Eu
sou americana, era um mundo
totalmente diferente. Só soube
o valor do que eu tinha feito
quando voltei aos EUA", diz Olga Soltesz, 17 anos à época.
"Meu filho um dia achou
uma foto minha na Grande
Muralha em seu livro escolar.
Acho que foi quando eu tive noção do que aconteceu. Quando
viajei de volta para lá, percebi
que foi nosso grupo quem ajudou a tornar essas viagens possíveis", afirma Connie.
Ao chegarem em casa, os jogadores viraram celebridades e
perderam a conta das entrevistas concedidas e dos artigos escritos para revistas e jornais.
As surpresas com a China, no
entanto, não ficaram restritas à
primeira viagem. As transformações do país nos últimos
anos se tornam ainda mais impressionantes quando o visitante tem como parâmetro memórias de quase 40 anos.
Às vésperas de a China mostrar sua força na Olimpíada, veteranos da "diplomacia pingue-pongue" ainda se espantam com as transformações realizadas pelos chineses.
Olga voltou a Pequim na festa de 35 anos da excursão. Reconheceu velhos amigos, mas
não o país que eles habitam.
"Não se parecia com nada do
que vi. Antes, as pessoas andavam praticamente com a mesma roupa, agora estão na moda.
Há lojas, shoppings, as pessoas
andam na rua como nos EUA.
É incrível como um país tão fechado se abriu e, apesar de ainda ter um regime totalitário,
parece mais democrático", diz.
"Sou sortuda de ter conhecido esses dois mundos. O primeiro não tem nada a ver com
o novo. É um privilégio."
(LUÍS FERRARI E MARIANA LAJOLO)
TIJOLOS VIRAM
REDE PARA
JOGOS INFANTIS
A cena vista pelos
americanos em 1971
se repete até hoje em
ruas da China. Com
placas de concreto e
tijolos, crianças jogam
pingue-pongue
JANTAR COM
10 PRATOS
ERA ATRAÇÃO
"Primeiro, eu queria
saber o que era cada
um. Mas, após ouvir
coisas como sopa de
pé de galinha,
desisti", relembra
Connie Sweeris
FILME "FORREST
GUMP" MOSTRA
O EPISÓDIO
No filme de 1994, o
personagem joga tênis
de mesa na seleção. "É
brincadeira, mas
mostra como aquilo
foi grande", diz a ex-atleta Olga Soltesz
Frases
"Não
pensávamos neles
como rivais. Não os
conhecíamos, mas
obviamente
aquelas partidas
não foram reais,
foram apenas
simbólicas"
TIM BOGGAN
ex-jogador de tênis de mesa
"Glenn
Cowan, um
californiano de 19
anos, saiu por
Pequim com jeans e
uma bandana
vermelha estilo
Rambo. As crianças
o seguiam pela rua"
CONNIE SWEERIS
ex-jogadora de tênis de mesa
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