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análise
O país de Ping, Pang e Pong e a abertura
LEANDRO KARNAL
ESPECIAL PARA A FOLHA
Em 1926, estreou a ópera
Turandot, de Puccini. Na peça, três funcionários imperiais divertiam a platéia com
o simples enunciado dos
seus nomes: Ping, Pong e
Pang. A China de então era
uma república mítica para o
mundo ocidental.
Quarenta anos depois, o
governo de Mao Tsé-tung liderou a Revolução Cultural
que mudou os rumos do gigante chinês. O movimento
aprofundou o choque com a
ex-aliada, a URSS. O governo
de Pequim vinha se afastando há vários anos da influência de Moscou. Os norte-americanos, atolados no
Vietnã, viam com simpatia a
divisão do bloco comunista.
"O inimigo do meu inimigo é
meu amigo." A máxima do
realismo político lançava as
bases da aproximação EUA-China comunista.
O campo do encontro lembrava os ministros da ópera
de Puccini. No Japão, o Mundial de pingue-pongue ocorria na primavera de 1971. Um
atleta norte-americano e um
chinês, Glenn Cowan e
Chuang Tse-tung, iniciaram
um diálogo amistoso. O gelo
tinha sido quebrado. A foto
deles sorrindo era um pretexto muito aguardado.
Pouco tempo depois, o time dos EUA de pingue-pongue seria o primeiro grupo
oficial a entrar na China desde a revolução de 1949. Estava estabelecida a "diplomacia pingue-pongue".
Esportes sempre tiveram
conotações políticas. Os boicotes dos EUA à Olimpíada
de Moscou-1980 e da URSS a
Los Angeles-1984 são a ponta de uma longa cadeia de relações entre interesses geopolíticos e eventos atléticos.
Poucas vezes, porém, uma
atividade física foi tão fundamental para estabelecer um
movimento político como o
pingue-pongue.
Em 1972, o presidente Nixon visitou a China de Mao,
escoltado por Henry Kissinger. Nixon renunciou dois
anos após a histórica visita, e
Mao morreu em 1976.
Porém as relações sino-americanas estavam bem sólidas quando Den Xiaoping
iniciou a revolução econômica que levou a China à situação de potência mundial.
As relações entre Washington e Pequim só cresceram desde então. Quem poderia supor que uma raquetada de pingue-pongue mudaria toda a economia mundial do século seguinte? Seria
este o sonho do Barão de
Coubertin? Meus sobrinhos,
Camila e Guilherme Karnal,
campeã e vice-campeão gaúchos nas suas categorias de
tênis de mesa, não pensam
muito na diplomacia do pingue-pongue. Eles pensam
nos Jogos de Londres-2012.
LEANDRO KARNAL é professor da História
da Unicamp
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