São Paulo, domingo, 01 de julho de 2001

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FUTEBOL
Empate é ótimo

TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA

As seleções principais de Brasil e Uruguai se enfrentaram 21 vezes no Uruguai.
O Brasil venceu apenas três, empatou oito e perdeu dez jogos. Isso mostra que, mesmo se o Brasil tivesse um excepcional time, a partida seria muito difícil.
O empate é um ótimo resultado. A seleção brasileira se manterá no quarto lugar, com três pontos à frente do Uruguai e da Colômbia.
A vitória seria espetacular.
A equipe continuaria na quarta colocação, mas praticamente classificada, com cinco pontos à frente da Colômbia e seis do Uruguai.
Se o Brasil perder, continuará no quarto lugar (pelo saldo de gols), mas a classificação ficará preocupante.
Aumentarão o pessimismo e a intranquilidade. Depois de experimentar várias formações táticas, no último coletivo Felipão optou pelo esquema tradicional brasileiro. Roque Júnior treinou de volante, na frente dos dois zagueiros, e não como um terceiro zagueiro.
São duas funções diferentes. Temo que o jogador não seja um volante nem um zagueiro. Se Roque Júnior e os dois zagueiros ficarem muito atrás e os dois meias ofensivos (Rivaldo e Juninho), muito próximos dos dois atacantes, Emerson ficará sozinho no meio-campo.
Hoje, as melhores seleções, como a França e a Argentina, fazem o contrário. Congestionam o meio-campo, tomam a bola e partem com muitos jogadores para o ataque. Foi o que o Grêmio fez contra o Corinthians.
Surpreendente foi a escalação do Élber ao lado do Romário.
Os dois têm características parecidas. Os três atacantes velocistas convocados pelo técnico (Euller, Geovanni e Ewerton) ficarão na reserva.
O Uruguai vai tentar pressionar, atuar no campo brasileiro e insistir nos cruzamentos pelo alto. Mais importante do que o posicionamento dos zagueiros é evitar esses cruzamentos.
Apesar dos problemas, estou otimista. Espero um bom resultado e não uma partida brilhante. Os jogadores conscientizaram-se da importância do momento. Vão jogar com muita garra. Mas somente isso não basta. Será preciso técnica, criatividade e equilíbrio emocional.

A bagunça não terminou
O tão esperado calendário quadrienal foi anunciado.
Diante da atual bagunça, das denúncias das CPIs, da falência da maioria dos clubes, da intervenção do ministro de Esportes, Carlos Melles, das críticas da imprensa e da indignação dos torcedores, era preciso fazer alguma coisa.
As medidas gerais do calendário são boas e óbvias, como férias de 30 dias e pré-temporada de dez, proibição de se jogar mais de duas vezes por semana e acesso e descenso.
No Brasileiro, quatro times vão descer e dois subir, até o número definitivo de 24 equipes em 2003. Prefiro 20 times com três divisões.
Por outro lado, a divisão das competições durante o ano foi elaborada por péssimos matemáticos e baseada em interesses financeiros.
Em vez de simplificar, complicaram. Era só repetir o que é feito há vários anos, com sucesso, em todo o mundo.
Bastaria deixar os finais de semana para um Campeonato Brasileiro mais longo (sete a oito meses), com turno e returno, e os outros três a quatro meses para os estaduais e regionais.
Nos meios da semana seriam disputados outros torneios, sem justaposição de datas, como a Copa do Brasil, Libertadores, jogos da seleção brasileira e, se houver datas, a Copa dos Campeões e a Mercosul (extinta a partir do próximo ano).
A colocação no Campeonato Brasileiro serviria de critério para as equipes que participariam desses torneios.
Da maneira como foi feita, haverá excessivo número de torneios no primeiro semestre.
Como todos são classificatórios, os times que forem eliminados ficarão parados durante um longo período. Um desastre!
O Campeonato Brasileiro no segundo semestre terá duração de quatro meses, com partidas nos finais e meios de semana, em apenas um turno, o que é uma aberração.
No ano que vem, a Copa do Brasil termina no dia 15 de maio, e a seleção estréia na Copa do Mundo no dia 31.
Na Europa, a maioria dos campeonatos terminará no dia 5 de maio.
É essencial que se faça logo um acordo para que os clubes brasileiros cedam seus jogadores a partir do dia 6 de maio.
Além de todos esses problemas, não se tem certeza se o que foi definido vai funcionar na prática.
Se a bagunça continuar, irei -lembrando o poeta- não para Pasárgada, mas para um lugar bem distante.
Lá, não serei amigo do rei, mas viverei em paz.
Continuarei morando numa casa branca com portas e janelas azuis. Andarei a pé e de bicicleta. No final da tarde, tomarei um bom vinho, numa praça de uma cidade de mil anos. Lerei poemas de Manuel Bandeira e observarei as pessoas.
Mais tarde, dormirei ao lado da companheira e sonharei com um país distante, alegre, tropical e justo, onde os cidadãos e os calendários esportivos são respeitados e bem elaborados.
E-mail tostao.folha@uol.com.br



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