São Paulo, segunda-feira, 01 de julho de 2002

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Técnico ora, berra, se emociona, agradece e diz que a conquista vai "fazer o Brasil crescer"

Maravilhado, Scolari hesita entre Europa e permanência

DOS ENVIADOS A YOKOHAMA

Não chegou a ser uma final típica dos times do técnico Luiz Felipe Scolari, com o resultado indefinido até o último instante, o coração do torcedor a sair pela boca e a catimba onipresente.
Contudo foi uma decisão bem ao estilo do "novo Scolari", o da Copa-2002, que conseguiu a façanha de mudar a realidade da seleção brasileira em menos de um ano e, chegando ao Mundial, transformar a si próprio.
O time retranqueiro sumiu, os gols vieram em cascata, e o prestígio, abalado pelo desprezo a Romário, voltou com força.
Agora campeão, e tendo terminado o contrato com a Confederação Brasileira de Futebol, terá de dar uma resposta ao convite da entidade para permanecer no cargo, hipótese que, por recomendação de amigos, já havia praticamente descartado -citam sempre Carlos Alberto Parreira, campeão do Mundial dos EUA-94, que saiu "por cima".
Caso ouça os amigos, seu destino deve ser a Europa, onde confessou que sonha em trabalhar. Por outro lado, gostou tanto da experiência da seleção e está tão feliz com o apoio dos brasileiros que fica balançado em ficar. Sonha em disputar uma Olimpíada e conquistar o inédito ouro.
"Queria dizer a todos os brasileiros que fiquem com a imagem vencedora dessa seleção, com o carinho, o amor, a amizade. Não sou político, mas é assim que a gente vai fazer crescer o Brasil", afirmou após o jogo, no mesmo tom ufanista que utilizara depois da vitória de virada sobre a Inglaterra nas quartas-de-final.
Convidado para o cargo após a CBF constatar, por uma pesquisa, que ele era o preferido para suceder Leão, devolveu o reconhecimento. "Obrigado ao Brasil porque foram eles [os torcedores" que me colocaram aqui."
No momento mais emocionado da curta entrevista que deu à Fifa após o jogo, Scolari, com os olhos marejados, lembrou-se, sem citar o nome do filho caçula, de Fabrício. Inseguro, ele cobrava ao pai o título e se abalava com as críticas da torcida. "Ao meu filho, quero dizer que o pai é penta."
Agora ele vai ficar uma semana de folga entre Rio Grande do Sul e Santa Catarina para decidir seu futuro. Deve ir à Farroupilha, ao santuário de Nossa Senhora de Caravaggio, de quem é devoto, agradecer a graça alcançada.
Apesar de ter transformado a seleção em campo nos últimos meses, ontem Scolari manteve muitos dos seus hábitos. Comandou a oração no gramado, ficou histérico à beira do campo, abraçou os jogadores. Quando Collina apitou o final da partida, parecia incrédulo até ser abraçado pelo preparador físico Paulo Paixão e depois pelo sobrinho Darlan Schneider, auxiliar de Paixão.
Vestia o inseparável agasalho, marca de seu estilo despojado, que contrasta com os ternos dos seus antecessores Leão e Luxemburgo. Justamente por isso, Scolari recebeu um agasalho de Ricardo Teixeira ao assumir o cargo, em junho de 2001.
Natural de Passo Fundo (RS), marido de Olga e pai de Leonardo, 18, e Fabrício, 15, Scolari, 53, conseguiu, enfim, impor seu carimbo à seleção. Numa época em que treinadores ofuscam craques, alterando o linguajar dos amantes do futebol -que falam do Corinthians de Parreira em vez do Corinthians de Ricardinho-, esse time deu algum sentido à estranha mudança.
O time pentacampeão será sempre lembrado como o Brasil do atacante Ronaldo ou do meia-atacante Rivaldo. Mas não são poucos os que no futuro recordarão a equipe como o Brasil de Felipão. (FÁBIO VICTOR, FERNANDO MELLO, JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO, JOSÉ ALBERTO BOMBIG, PAULO COBOS, RODRIGO BUENO E SÉRGIO RANGEL)


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