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FUTEBOL
O caldeirão do Parreira
MÁRIO MAGALHÃES
COLUNISTA DA FOLHA
Mal acabou o 3 a 2 em cima da Alemanha, e Parreira disparou os elogios generosos:
corajoso e bravo, assim definiu
seu time. Não que estivesse errado, porque a seleção foi isso. Mas
faltou dizer: corajoso e bravo,
mais que todos, foi ele mesmo,
Carlos Alberto Parreira.
Desde a derrota por 3 a 1 no
Monumental, o técnico foi alvo
da hostilidade contra o quarteto
ofensivo. No fundo, uma ilusão
animou o tiroteio: a de que, com
dois meias-atacantes e dois atacantes puros-sangues, é possível
ter o mesmo vigor defensivo de
quem ostenta mais meias pegadores. Não é.
Escrevi que se trata de uma opção estética. É também ideológica. Jogar com os "fab four" implica correr riscos. É o ônus. O bônus
é o poderio do ataque. Como demonstrou diante de Grécia, Alemanha e Argentina, na Copa das
Confederações, o quarteto não
exige abandonar a retaguarda à
própria sorte. Ou azar, como frente a México e Japão.
Herói da resistência, Parreira
apanhou, mas não cedeu à transformação do quadrado em triângulo. Acreditava e provou: é possível encarar assim qualquer esquadrão. Deu lições defensivas a
Ronaldinho, Kaká, Robinho e
Adriano -todos ajudaram atrás.
Imagino como é difícil resistir.
Há o debate legítimo sobre como
armar a equipe. Repito: tática
não é religião. Ao ousar com uma
geração fabulosa, Parreira leva
muita paulada. Se o Brasil vai
mal, a controvérsia não se restringe a opções: insinua-se a inépcia
do treinador.
Já falei da ciclotimia da torcida.
Mas há ciclotimia igual: a do jornalismo esportivo. Jornalistas costumamos condenar o entra-e-sai
de técnicos por causa dos resultados. Mas muitas vezes agimos
deste modo: venceu, é bestial; perdeu, é besta -como dizia Oto
Glória.
Ignora-se o meio-termo. No cinema, Truffaut não viveu só de
genialidades como "Os Incompreendidos" (o melhor filme sobre
infância e juventude de todos os
tempos) ou "A Mulher do Lado"
(o mais sensual). No futebol, não
se acerta sempre.
Parreira é conservador, avesso a
mudanças, mas muda. Não é retranqueiro. No projeto original
para 94, só tinha um volante.
Acabou com três. No Corinthians,
venceu com três atacantes. Estreou o quarteto em Montevidéu.
É sua aposta mais radical, e que
encontra identidades no passado,
como no solitário volante da seleção em 92 e 93. Parreira reencontra suas pegadas e seu caminho.
Nos EUA, passou à história como estrategista. Agora, quer ser
regente de virtuoses. É o que o
anima, intuo. O Parreira pintor
pinta a calmaria das marinas. No
campo, desenha serpentes, como
descobriram na Alemanha. É um
artista.
Ele treina o time e o melhora
(há quem piore). Ajustou a zaga e
foi campeão. Falta muito. No futebol total dos 4 a 1, os argentinos
conheceram a sensação que me
atordoa nesses dias de desventuras do país: ficaram zonzos. A poção que os estonteou saiu do caldeirão do craque Parreira.
Divergências
Meu time, hoje, para a Copa
(que não é hoje): Marcos (Parreira prefere Dida), Cafu, Edmilson, Alex (para o técnico,
Lúcio e Roque) e Roberto Carlos; Emerson e Gilberto Silva
(Parreira vai de Zé Roberto; sou
mais dois cães de guarda); Ronaldinho e Kaká; Ronaldo e Robinho (banco de Parreira, que
prefere Adriano). São cinco divergências com o treinador.
Adriano é pop
Brilhante, Adriano, o craque da
Copa das Confederações. Para
mim, contudo, ele está para Ronaldo como Fernandinha Takai, do Pato Fu, para a jovem
Rita Lee. Fernandinha reluz. É
de arrepiar cantando "Uma lágrima", no tributo a Odair José.
Mas não é a Rita dos Mutantes e
do Tutti Frutti.
E-mail
mario.magalhaes@uol.com.br
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