São Paulo, sábado, 01 de julho de 2006

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Foco

Alemães fazem a festa em Berlim no dia em que "tudo era permitido"

PAULO SAMPAIO
ENVIADO ESPECIAL A BERLIM

A vitória de ontem contra a Argentina fez o povo alemão soltar a franga. Uma comemoração sem precedentes na história recente de Berlim levou os torcedores a demonstrações inusuais para os padrões germânicos: eles abraçavam todo mundo, choravam, buzinavam e paravam o trânsito na maior avenida da cidade, a Unter den Linden, espécie de Paulista da capital alemã.
"Não consigo comparar essa festa a nada que eu tenha visto na vida. Talvez à Love Parade (Parada do Amor, que atrai milhares de pessoas em torno de um festival de música)", diz a estudante Daniela Götz, 18.
No Portal de Brandenburgo, que no passado dividia a cidade em lado leste e oeste, cerca de um milhão de pessoas assistiram ao jogo em três telões -segundo a polícia. Outros pontos de aglomeração eram a Alexander Platz, no centro, e os arredores da Hauptbanhof, a principal estação de trem.
Apesar de unidos na torcida, grupos de jovens em Brandenburgo gritavam "Ost Berlim!" e "West Berlim!", como se o jogo fosse entre capitalistas e comunistas. "Muita gente ainda tem o muro na cabeça. Na verdade, no oeste as pessoas são mais materialistas. Eu nasci lá, mas freqüento mais o leste", diz, orgulhosa, a estudante Anja Föster, 19.
O excesso de pessoas nas proximidades dos telões fez com que a polícia precisasse isolar a área com grades.
A maior parte dos torcedores estava relaxada. Um policial urinava em uma árvore do Kindergarten, o maior parque da cidade, enquanto a cerca de 200m dali o funcionário público Michael Speers, 34, fumava maconha. "Hoje eles não vão nem reparar", diz.
Depois do jogo, policiais passavam correndo, em fila, dando a entender que algo grave estava acontecendo. Poucos argentinos "legítimos" foram identificados. Os torcedores que vestiam a camisa do time eram bolivianos ou peruanos. "Que mierda", diz o boliviano Fernando Centena, depois do gol da Alemanha. "La final tiene que ser Argentina e Brasil."


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