São Paulo, domingo, 01 de julho de 2007

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JUCA KFOURI

Dunga dá sinais de despreparo


Ao perder a paciência diante de uma pergunta normal, o técnico da CBF revela o quão penoso é seu estágio


ANTES DA PÍFIA estréia da seleção da CBF, Dunga deu seus primeiros sinais de absoluto descontrole quando abordado pelo repórter Rodrigo Bueno, desta Folha, sobre suas relações com empresários de futebol.
Em vez de responder com a naturalidade de quem convive no meio e não pode mesmo desconhecer tais figuras, partiu para um suspeito ataque, reação de quem não está tranqüilo com a situação.
E ainda, exaltado segundo relatou Bueno, criticou jornalistas que "não vão a jogos há anos", esquecido, certamente, de que nenhum deles dirige a seleção sem nunca ter sido técnico de futebol.
Claro que melhor seria que os jornalistas vissem todos os treinos e todos os jogos em campo.
Mas não só Dunga aparenta não se dar conta de que hoje em dia até treino se vê pela TV como, ainda por cima, que raramente é útil estar em tais práticas. A não ser para constatar sua completa inutilidade.
Na Copa da Alemanha, por exemplo, estávamos todos lá, para testemunhar treinos ditos alemães, embora mais parecessem japoneses, com todo respeito.
E para entrar em filas homéricas na tentativa de colher uma declaração ensaiada dos atletas ou dormir nas coletivas do treinador, invariavelmente desmentidas pelos fatos, pelos jogos, pela vida.
E pior: para depois ouvir, passados poucos meses, os mesmos personagens justificarem o fiasco com os argumentos que embasaram as perguntas e as críticas dos jornalistas que não babam ovo para as estrelas da seleção.
Dunga foi um atleta exemplar, mas não se preparou para a função que ora exerce. Por isso mete os pés pelas mãos e falha naquilo que não poderia falhar; depois de duas semanas de treinos, em vez de ter um time, tem um bando, composto por alguns bons jogadores e por outros que só podem ter uma justificativa para estar na seleção da CBF: empresários influentes, amigos ou conhecidos, íntimos ou distantes.
E é assim mesmo, porque, afinal, cada macaco no seu galho.
Reconheça-se, no entanto, que neste seu estágio Dunga, ao menos, acertou ao dizer que temia o México, apesar de ter sido antes de saber que enfrentaria um time com oito reservas. Porque, pelo que se viu, imagine se fossem os titulares.
Razão pela qual há razão de sobra para temer também os chilenos, que, na estréia, mostraram um time mais atrevido que o do México.

Pobreza
Não poderia ser mais medíocre este debate, que tinha tudo para ser rico e arejado, sobre a presença de homossexuais no esporte.
É um tal de advogado exigir provas, de cartola dizer que conhece o caráter de seu atleta, de mãe dizer que seu filho é saudável, como se a vida sexual de cada um tivesse a ver com essas coisas.
Não há acusação alguma em dizer que alguém é homossexual, como sê-lo não é desvio de caráter e nem doença. Os que fazem chacota com seus risinhos cínicos vivem num mundo obscurantista, e os que fazem discursos moralistas, como padres, deveriam ter um mínimo de decoro. Porque pedofilia, sim, é crime.
Mundinho hipócrita!

blogdojuca@uol.com.br


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