São Paulo, quinta-feira, 01 de agosto de 2002

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Alta do dólar deixa clubes de portas abertas

JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO
RICARDO PERRONE
DA REPORTAGEM LOCAL

A crise cambial no Brasil deixou as portas dos clubes nacionais ainda mais escancaradas aos times estrangeiros.
Com o dólar a R$ 3,47, quem quiser comprar um jogador brasileiro terá mais facilidade. Como diz o consultor Luiz Fernando Ferreira, diretor da ESM, agência de marketing que cuida da imagem de atletas como Alex e Ricardinho, ""será muito difícil segurar os jogadores no Brasil".
""Os clubes brasileiros ficam fragilizados. Quem aparece com uma proposta em dólar leva uma grande vantagem sobre quem só pode pagar em real", declarou.
""Qualquer jogador que se destaque pode receber proposta do exterior e para segurá-lo não vai ser fácil. É só ver o caso do Gilberto Silva [que foi para o Arsenal, da Inglaterra" e do Kléberson [do Atlético-PR". Já, já ele vai estar jogando por um clube estrangeiro."
O presidente do São Paulo, Marcelo Portugal Gouvêa, concorda. ""A vontade do jogador de sair do país vai aumentar. Ele vai receber a oferta, fazer as contas, multiplicar por mais de três e perceber que receberá muito mais no exterior", declarou o dirigente.
O que alivia um pouco a situação para os times nacionais é o fato de boa parte das equipes européias também enfrentar problemas financeiros. ""Com a queda das receitas de TV, que virou um fenômeno mundial, não falta time reduzindo salário de jogador", lembrou Ferreira. Mesmo assim, ""o simples fato de os atletas [brasileiros" receberem em dólar [ou em euro, moeda que tem se fortalecido" representa muito dada a baixa do real", completou.
Um dos mercados que devem se abrir para os brasileiros é o asiático. Diferentemente do que acontece na Europa, os clubes da Ásia enfrentam um momento favorável, graças, principalmente, à organização da Copa-2002 por Coréia do Sul e Japão.
Pelo menos quatro países asiáticos estão acertando intercâmbio com clubes sul-americanos. Com o real cada vez mais fraco, fica mais fácil recrutar brasileiros.
O Hyundai Tigers, por exemplo, um dos times da K-League, a liga de futebol sul-coreana, mandará representantes ao Brasil para observar jogadores que possam ser contratados.
Com o futebol japonês não é diferente. Com o iene em alta diante do dólar e o real em baixa, dois empresários japoneses foram assistir a São Caetano x Olimpia para analisar a atuação dos atletas do time do ABC e, eventualmente, tentar contratá-los.
Mas nem tudo está perdido, lembra Antonio Roque Citadini, vice de futebol do Corinthians. ""Há dois anos teria sido terrível, mas agora, principalmente depois da desvalorização de 1999, os clubes ficaram mais precavidos. No Corinthians, não temos nenhum salário indexado ao dólar."
No São Paulo, a situação é parecida. Segundo o presidente do clube, nenhum jogador tem seus vencimentos vinculados a moedas estrangeiras. A exceção era o zagueiro Ameli, que havia combinado de ganhar US$ 30 mil mensais e queria receber de acordo com a cotação do dia. Mas a diretoria, preocupada com a alta da moeda, convenceu o argentino a aceitar um valor que não dependesse da variação cambial.
No Clube dos 13, que reúne 20 dos principais times do país, apenas três teriam atletas com salários atrelados ao dólar.



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