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São Paulo, sexta-feira, 01 de agosto de 2003

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VÔLEI

Técnico que se demitiu na segunda-feira diz que Fernanda Venturini armou complô e incentivou atletas a debandarem

Seleção feminina foi "hospício", diz Motta

MARIANA LAJOLO
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma ação deliberada das jogadoras, influenciadas diretamente por Fernanda Venturini. Segundo o técnico demissionário Marco Aurélio Motta, foi esse o principal motivo da crise que o fez deixar a seleção feminina de vôlei.
"Esses dois anos foram um inferno, um hospício", disse Motta.
O ex-treinador do Brasil diz que a levantadora agiu nos bastidores e deu declarações à imprensa a fim de interferir em seu trabalho.
"Eu sempre gostei mais de ver a Fernanda jogando do que falando. O que sei é que ela não pode fazer isso com o voleibol e com a minha carreira. Uma coisa tão sistemática me assusta", afirmou ele.
Procurada pela Folha, a levantadora disse que considera descabidas as declarações de Motta.
"Pelo que ele falou, eu virei a superpoderosa. Eu tinha grandes amigas naquele time, sempre torci pelo bem da seleção."
A novela que levou à saída de Motta pode ser dividida em três capítulos, segundo o técnico.
Os problemas apareceram antes mesmo de seu trabalho começar e atingiram o auge quando ele mexeu no grupo anterior.
Antes de sua primeira convocação, Motta diz que procurou Bernardinho para cuidar da transição. Não foi atendido: "Tenho o extrato com as ligações que fiz".
O comandante da seleção masculina diz que não foi procurado.
O segundo ato aconteceu após a primeira convocação, em 2001. Motta afirma ter sido recebido com afronta -em sua primeira equipe estavam 10 das 12 atletas de Bernardinho, atual técnico do masculino e marido de Fernanda.
"Era como se a seleção fosse uma propriedade privada", disse.
As divergências internas começaram logo no primeiro ano de trabalho, quando Motta cortou a líbero Ricarda. A jogadora saiu dizendo que havia pedido dispensa.
A partir daí, começaram a pipocar críticas das atletas. As principais queixas eram o fato de Motta ser também o preparador físico e o excesso de lesões nas jogadoras.
"Eu tenho um laudo do clube [Rexona] mostrando que o joelho da Walewska estava como no ano anterior, e ela reclamava", disse.
Em 2002, Motta passou a fazer uma renovação no grupo, mesclando experientes com novatas. Começava o derradeiro capítulo.

Gota d'água
O corte de Elisângela por indisciplina antes da Volley Masters, em junho, teria sido a gota d'água.
Na Suíça, Érika, Walewska, Raquel e Fofão pediram dispensa. Virna deixaria o time depois.
Segundo Motta, elas voltaram ao Brasil e foram à casa de Fernanda Venturini. No dia seguinte, se reuniram na confederação para explicar o motivo da debandada.
"Elas saíram do país orientadas. A Érika alegou que era um problema de metodologia de treinamento. Acho que ela nem sabe o que é metodologia", disse Motta.
As rebeladas admitem que não gostaram do corte. "O caso poderia ter sido resolvido com conversa, sem radicalismo", disse Fofão.
Segundo Motta, na Suíça, as atletas racharam o grupo. "Elas começaram a tirar onda com as mais novas, coisas do tipo "vai na bola que você não pega mesmo"."
Com a debandada, teriam aumentado as críticas de Fernanda. "Tenho 25 matérias dela falando mal de mim", afirmou Motta.
Sem as titulares, o ex-treinador amargou o sétimo lugar no Mundial-2002. Neste ano, mesmo com a volta de Virna e Raquel, foi apenas sétimo no Grand Prix.
Motta e sua comissão técnica creditaram o mau desempenho também às pressões externas.
Jogadoras que ficaram na seleção e não quiseram se identificar dizem que o clima foi prejudicado pelas atitudes das rebeladas. Mas que, após a crise, o grupo se fechou. Algumas chegaram a temer represálias na volta aos clubes.
Desde junho, as rebeladas se esquivaram quando o assunto era o motivo da debandada. Motta diz que nunca soube o porquê. Passada a crise, elas resolveram falar.
"Eu sentei com ele e expliquei. Eu não sou mais uma juvenil, queria continuar um trabalho forte, em busca de resultado. Mas ele tinha na cabeça a idéia de que estávamos sendo influenciadas e não quis escutar", disse Fofão.
"O Marco tentou zerar uma coisa que estava dando certo. Foi uma mudança muito radical", afirmou Walewska.


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