São Paulo, domingo, 01 de agosto de 2004

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FUTEBOL

O país dos pênaltis

RODRIGO BUENO
DA REPORTAGEM LOCAL

O país do futebol já pode ser chamado de país dos pênaltis. A decisão da Copa América colocou o Brasil em posição privilegiada na história das disputas de penalidades entre países.
Levantamento feito pela coluna tendo como base os principais torneios de seleções do planeta (Mundial, Olimpíada, Copa das Confederações e competições continentais) apontou que a final entre Brasil e Argentina foi a centésima decisão por pênaltis entre países em uma disputa de peso. Os brasileiros estiveram em 10% dessas decisões. Nenhum outro país bateu tanto pênalti importante quanto o Brasil.
O país pentacampeão mundial esteve envolvido em três disputas de pênaltis em Copas, em duas em Jogos Olímpicos e em cinco em Copas América. Argentina, Camarões, México e Nigéria, os que mais bateram pênaltis depois do Brasil, registram na história sete decisões cada um.
No total, 70 países já tiveram que decidir sua sorte "na marca da cal" (20 desses não obtiveram ainda uma vitória sequer nas disputas fatais). Pegando apenas as seleções que fizeram um número considerável de decisões por pênaltis (mais de três foi o critério), só 11 mostram um aproveitamento de vitórias superior a 50%. O Brasil, com 70%, é o sexto país mais vitorioso nos pênaltis, proporcionalmente. Curiosamente, o quinto é a Argentina, com 71,4% de aproveitamento. Os vizinhos só perderam nos pênaltis do Brasil: duas vezes em Copa América.
Entre os 17 melhores por aproveitamento, aparecem apenas dois países europeus, o que derruba bastante a tese de que jogadores do velho continente são melhores batedores de penalidades pela frieza e qualidade de suas finalizações. Holandeses, ingleses e italianos não têm trauma de pênaltis à toa. Suas seleções mostram pobre aproveitamento de 20% de vitórias nas penalidades em relevantes torneios. Em meio à última Eurocopa, até crianças inglesas se ofereceram para ensinar ao Beckham como bater penalidades, e os holandeses, quem diria, começaram a treinar cobranças -venceram assim pela primeira vez na história uma disputa de pênaltis: 5 a 4 na Suécia.
Alemanha e França, com 66,6% e 60% de vitórias nos pênaltis, respectivamente, aparecem como os países europeus mais bem-sucedidos (os tchecos têm 100% de aproveitamento, mas estiveram em só três disputas).
A Europa, de um modo geral, não se familiariza com as penalidades. Mais que isso, evita os pênaltis com prorrogações, gol fora de casa como desempate, gol de ouro e gol de prata, sistema que a Fifa infelizmente aposentou.
Estamos em ano de competições continentais (a Ásia é a bola da vez), e a Eurocopa responde por só 11% das cem disputas de pênaltis entre seleções na história.
A Copa da África, contando suas suicidas fases eliminatórias, já registrou 37 disputas de penalidades. Na hora de um Mundial ou de uma Olimpíada, essa experiência pode pesar.
O Brasil, único campeão mundial nos pênaltis, acertou suas últimas 14 cobranças. Se já era difícil batê-lo no tempo normal...

Países dos pênaltis
Eis a lista dos países que mais participaram de disputas de pênaltis importantes e seus respectivos aproveitamentos de vitória: Brasil (dez disputas; 70%), Argentina (sete; 71,4%), Camarões (sete disputas; 57,1%), México (sete; 42,8%), Nigéria (sete; 57,1%), Alemanha (seis; 66,6%), Espanha (seis; 33,3%), Uruguai (seis; 50%), Argélia (cinco; 40%), Egito (cinco; 60%), EUA (cinco; 80%), França (cinco; 60%), Gana (cinco; 40%), Holanda (cinco; 20%), Inglaterra (cinco; 20%), Itália (cinco, 20%), Arábia Saudita (quatro; 100%), Colômbia (quatro; 75%), Coréia do Sul (quatro; 75%), Costa do Marfim (quatro; 50%), Irã (quatro; 25%) e Tunísia (quatro; 50%). Senegal pode ser apontado hoje como o pior país em pênaltis, com três derrotas registradas em três disputas de penalidades máximas -aproveitamento de 0%.

E-mail: rbueno@folhasp.com.br



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