São Paulo, domingo, 01 de agosto de 2004

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ATENAS 2004

Das 22 federações brasileiras na Grécia, 17 têm dirigentes que vão, no mínimo, para sua segunda Olimpíada

Sem suar, cartolas fazem de Jogos rotina

PAULO COBOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Ir para duas, três, quatro ou até cinco Olimpíadas. A façanha, que é das mais difíceis para quem veste calção e camiseta, é moleza para quem usa cartola no Brasil.
Das 22 federações esportivas que vão mandar representantes para Atenas, nada menos do que 17, ou 77%, são comandadas por dirigentes que já têm uma Olimpíada no currículo.
A conta só não é maior porque esportes em que o Brasil não conseguia classificação há muito tempo, como o pentatlo moderno, irão retornar aos Jogos.
Nem metade dos 245 atletas que o país vai enviar para a Grécia já foram para uma Olimpíada, e a maioria da turma que vai repetir o feito vai para sua segunda experiência. Já entre os cartolas, o gosto de sentir o espírito olímpico perdeu o sabor de novidade.
O ala Oscar suou para estar em cinco Olimpíadas. Já o presidente da Confederação Brasileira de Atletismo, Roberto Gesta de Melo, irá igualar em Atenas a marca do cestinha só nos bastidores: comanda a entidade desde 1987 e desde Seul-88 está à frente do esporte mais importante dos Jogos.
Gesta não é o único que estava no poder de uma confederação desde a década de 80.
Ricardo Teixeira assumiu a CBF em 1989. Alaor Gaspar Pinto Azevedo manda no tênis de mesa desde 1986 (só ficou afastado durante um período nos anos 90).
Os dois já sofreram pesadas acusações de administração lesiva aos seus esportes, mas vão para uma nova Olimpíada assim como Nelson Nastás, que viaja com o tênis para os Jogos pela terceira vez mesmo com a rejeição total dos principais jogadores do país.
Em alguns casos a história das confederações se confunde de forma absoluta com a de seus cartolas. A Confederação Brasileira de Canoagem foi fundada em 1989 e desde então tem como presidente João Tomasini Schwertner, que na Grécia irá completar a sua quarta Olimpíada.
A falta de resultados expressivos não é motivo para um cartola deixar uma federação. Com um currículo cheio de glórias, como define o site da entidade, Rodney Bernardes de Araújo comanda a Confederação Brasileira de Remo desde 1991 -nas três Olimpíadas sob o comando do cartola o esporte não chegou ao pódio.
Só que também existe o grupo que não larga o cargo mas tem bons resultados para mostrar.
Vicélia Florenzano, a única mulher a dirigir uma federação esportiva brasileira que vai para a Grécia, é a "dona" da ginástica desde 1991. Com ela, o país vai ter uma equipe completa (no feminino) pela primeira vez nos Jogos e boas chances, com Daiane dos Santos, de subir ao pódio.
Outras confederações com bons resultados recentes e dirigentes "estáveis" são a de vela, chefiada por Walcles Osório, e a de desportos aquáticos, por Coaracy Nunes.
A simbiose é tamanha que muitas vezes as entidades estão instaladas longe das grandes metrópoles, mas perto de onde se estabeleceram os cartolas.
A sede do atletismo é em Manaus, terra de Gesta. A da canoagem, em Curitiba, de Schwertner.
O handebol fica em Aracaju, cidade de Manoel Luiz Oliveira, presidente da CBHb. O triatlo fica em Vila Velha, Espírito Santo, Estado do presidente Carlos Fróes.
Oficialmente, somente Ricardo Teixeira recebe dinheiro pelo serviço prestado à confederação (salário de pelo menos R$ 35 mil mensais). Os demais dizem que sua dedicação duradoura deve-se ao "amor ao esporte".



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