São Paulo, sábado, 1 de agosto de 1998

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FUTEBOL
Adalberto dos Santos recorrerá da decisão da Justiça, que o responsabilizou pela morte de Márcio Gasparin
Torcedor é condenado a 12 anos de prisão

da Reportagem Local

O torcedor palmeirense Adalberto Benedito dos Santos, 23, foi condenado ontem a 12 anos de prisão pela morte do são-paulino Márcio Gasparin da Silva, em 95.
Gasparin foi morto numa briga de torcidas após uma partida entre São Paulo e Palmeiras, no Pacaembu (leia texto abaixo).
O advogado de defesa, Laerte Torrens, disse que vai recorrer da decisão, tomada após um julgamento que durou dois dias, no 1º Tribunal do Júri, em São Paulo.
Ele disse acreditar que daqui a cerca de oito meses o caso será novamente julgado, desta vez pelo Tribunal de Justiça.
Segundo a sentença, lida pelo juiz Cássio Barbosa, Santos terá de cumprir a pena "inicialmente em regime fechado".
A decisão se baseou no argumento de que Santos, ao atingir o são-paulino, assumiu o risco de provocar sua morte.
Foram considerados agravantes a "crueldade" com que foi morto Gasparin e a falta de condição de defesa da vítima.
Não foi aceito o pedido de 15 anos de prisão, feito pela promotoria. Como atenuantes à pena, pesaram o fato de o palmeirense ser réu primário, com bons antecedentes, além de estar em meio a um conflito generalizado.
Também foi levado em conta que Santos tinha menos de 21 anos na época da briga.
"O resultado atende ao anseio da sociedade", disse a promotora Eloisa de Sousa Damasceno.
A decisão mais polêmica do júri, formado por sete pessoas, teria sido na hora de decidir se Santos assumiu o risco de matar Gasparin ao atingi-lo com um pedaço de pau, independentemente de ter sido esse seu objetivo ou não.
O advogado de defesa, Laerte Torrens, disse que o placar de 4 a 3 contra Adalberto, nesse quesito, "não é suficiente para convencer ninguém". "Essa decisão foi atípica. Vou apelar", afirmou.
De qualquer forma, segundo ele, Santos, que está preso há quase três anos, poderá pedir liberdade condicional ao cumprir quatro anos de prisão (um terço da pena).
Torrens disse que a decisão "foi contra os laudos", que, segundo ele, não apontariam com segurança que os golpes de Santos causaram a morte de Gasparin.
Benedita Pinheiro, tia de Santos, considerou o resultado do julgamento "injusto". "Ele está sendo o bode expiatório", afirmou.
Imagens feitas pela televisão mostram que outros torcedores também atingiram Gasparin, mas a polícia conseguiu identificar apenas Adalberto dos Santos.
Segundo Pinheiro, o confronto de torcedores no último domingo, após o jogo entre Palmeiras e São Paulo, pode ter pesado na decisão.
Os pais de Gasparin não foram ao tribunal devido a problemas de saúde com a irmã do torcedor, Shayene, 4, com leucemia.
Gianir Gasparin, tia do são-paulino, disse que "foi feita justiça". Segundo ela, a decisão "vai repercutir e servir de exemplo para que isso não aconteça mais".



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