São Paulo, sexta-feira, 01 de setembro de 2000

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Investigação apura o elo entre técnico, empresário e agentes de jogadores
O mundo paralelo de Luxemburgo

Antônio Gaudério/Folha Imagem
O técnico da seleção, Wanderley Luxemburgo, que está tendo seus negócios no Paraná investigados pela Receita Federal, descansa em treino em Teresópolis


 Receita Federal analisa negócios do técnico da seleção no Paraná

 Time lucrou R$ 1,2 milhão com a venda de atleta indicado por treinador

 Seus advogados falam em coincidência e amizade e negam má-fé

JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO
ENVIADO ESPECIAL A CURITIBA

O técnico da seleção brasileira é sócio de um empresário. Esse empresário é presidente de um pequeno clube de futebol. Esse pequeno clube mantém relações de parceria com os principais agentes de jogadores do país. E esses agentes detêm, sob contrato, algumas estrelas da seleção brasileira, comandada pelo técnico.
Esse círculo, lícito segundo os envolvidos, é um dos pontos de partida, segundo a Folha apurou, das investigações em torno de Wanderley Luxemburgo que a Receita Federal deflagrou no Paraná assim que o sigilo bancário do técnico da seleção foi quebrado devido às acusações de Renata Carla Alves. Ex-assessora do técnico, ela disse na semana passada que Luxemburgo a usava como "laranja" em negociação de jogadores e na aquisição de bens.
O treinador é sócio do empresário Sérgio Malucelli em uma fábrica de isotônicos, localizada em Irati, no Paraná. Cada um investiu US$ 375 mil no negócio, que conta com um terceiro parceiro.
Malucelli ainda revende automóveis adquiridos por Luxemburgo em leilões em uma loja sua em Curitiba, a Auto News.
Sérgio é irmão de Marcos Malucelli, um dos dois advogados contratados para defender o treinador das autuações da Receita e para processar Renata.
Malucelli é presidente do Iraty, time da segunda divisão paranaense, que mantém relações comerciais com empresários famosos do futebol, como Alexandre Martins e Reinaldo Pitta, responsáveis pela carreira de Ronaldo, da Inter de Milão, e a dupla Juan e Marcel Figer, empresários de Edu, do Corinthians, entre outros.
Aos primeiros, indica revelações do futebol do interior paranaense. Já os Figer controlam as categorias de base do Iraty.
A quebra do sigilo bancário de Luxemburgo indica depósitos e transferências para Malucelli -e deste para o treinador- desde dezembro de 1996.
Segundo o empresário, isso aconteceu -e acontece até os dias de hoje- porque os dois têm negócios em comum. ""Fui representante dele em leilões de carro aqui no Paraná", explica Malucelli. ""Em 1997, comprei duas Cherokees e um Porsche como procurador do Wanderley. Depois montamos um bar temático (Luxemburgo Football) e agora estamos juntos na Beverage (a fábrica de isotônicos)", afirma.
Na semana passada, Luxemburgo declarou que seria apenas "garoto-propaganda" do produto fabricado pela fábrica.
Carros arrematados pelo treinador -pelo menos 14 por intermédio de Renata Alves, que trabalhava para o treinador adquirindo para ele imóveis, veículos e objetos de arte- foram revendidos por Malucelli na Auto News.
Ainda na semana passada, um Mercedes que teria sido comprado pelo treinador, mas que está em nome de Malucelli, está sendo revendido pela loja do empresário. De placas AIY 0099, o veículo, fabricado em 1999, tem cerca de 8.000 km e está sendo negociado por um preço de R$ 125 mil.
Malucelli diz que Luxemburgo não tem sociedade na Auto News. Afirma também que é ""muito amigo (de Luxemburgo)" e não vê problemas em comprar ou vender carros para o treinador.
""Frequento a casa dele, ele frequenta a minha, passamos Natal e réveillon juntos, não entendo se há algum mal nisso", comentou.
Sobre negociação de jogadores, diz que Luxemburgo ""nunca ganhou um centavo".
Em Teresópolis, por intermédio da assessoria de imprensa da CBF, o técnico afirmou que suas relações com Malucelli nunca foram segredo e que não vê nenhum problema nelas.


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