São Paulo, sexta-feira, 01 de setembro de 2000

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FUTEBOL
Entidade se curva à União Européia e enterra as rescisões contratuais
Fifa propõe mudanças nas transferências de atletas

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

""É o fim das exorbitantes indenizações nas transferências."
A frase foi dita ontem pelo presidente da Fifa, o suíço Joseph Blatter, após reunião da cúpula da máxima entidade do futebol mundial com dirigentes da Uefa, a entidade que controla o futebol europeu, clubes e representantes de jogadores da Europa.
A Fifa anunciou que várias modificações serão feitas no sistema de transferências de jogadores.
Blatter disse que as mudanças são um ""sim" à União Européia, que vinha pressionando as máximas entidades do futebol, a Fifa e a Uefa, para que vejam os atletas como ""trabalhadores comuns".
Houve um ""consenso" entre todos na reunião de ontem, segundo o presidente da Fifa. Há algumas semanas, Blatter havia criticado a ingerência da União Européia no futebol, dizendo que o sistema de transferências de jogadores visto atualmente é ""perfeito".
Após a reunião, o discurso do máximo dirigente do futebol mudou. Blatter e os demais dirigentes reunidos ontem em Zurique admitiram o fim do pagamento pela rescisão de contrato dos jogadores com mais de 24 anos, como vem exigindo a União Européia.
""Os jogadores profissionais deverão ter um contrato de, no mínimo, um ano com um clube. Haverá um sistema de compensação em caso de ruptura unilateral do contrato. Vários outros sistemas são possíveis, mas teremos que discuti-los", disse Blatter.
A direção da Comissão Européia que cuida do tema entende que o sistema atual de transferências de jogadores fere os princípios do Tratado de Roma sobre a livre circulação de trabalhadores nos países do continente.
Clubes europeus arbitram valores vultosos para as rescisões contratuais de seus atletas. Jogadores de poderosos times espanhóis, como o lateral brasileiro Roberto Carlos (Real Madrid), têm rescisões contratuais que superam os US$ 100 milhões, por exemplo.
Os jogadores conseguirão maior ""liberdade" no mercado europeu agora, mas a cúpula do futebol reunida ontem propôs que um atleta só possa se transferir uma vez por temporada -a medida visa impedir que um jogador mude de clube de duas em duas semanas, por exemplo.
Outra novidade no sistema de transferências de atletas deverá atingir os jogadores mais jovens. Menores de 18 anos não poderão se transferir para outro país.
Pelo plano da Fifa, o clube que formar um atleta poderá cobrar indenização compensatória quando este for negociado (vale para jogadores entre 18 e 24 anos).
""Ao apresentar tais pontos, fizemos algo muito positivo. Esperamos que a Comissão Européia veja assim", disse Blatter.
O presidente da Fifa anunciou a criação de um ""grupo de trabalho" para desenvolver a discussão. A partir da próxima semana, o grupo irá programar uma forma de apresentar as novas propostas à Comissão Européia em Bruxelas, na Bélgica.
Blatter espera pela aprovação das propostas, pois entende que o projeto da Comissão Européia para o futebol pode trazer ""nefastas consequências", o ""caos".
""O objetivo do encontro (a reunião de ontem) foi encontrar uma solução que traga benefícios para o mundo do futebol e não seja contrária às determinações da União Européia", disse Blatter.
A União Européia avisou a Fifa e a Uefa que aceitará alternativas para um novo sistema de transferências de jogadores até 20 de setembro. Caso nenhuma proposta seja oferecida pela cúpula do futebol europeu, os planos da União Européia para o esporte serão introduzidos de forma forçada.
Blatter pede mais tempo para a União Européia. O dirigente quer que o prazo para mostrar propostas seja estendido pelo menos até o final da Olimpíada, em outubro.


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