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ATLETISMO
Em entrevista à Folha, ex-padre irlandês diz que não se arrepende de ter atacado brasileiro "pequeno e frágil"
"Cristo dará a Vanderlei o ouro que tirei"
ÉRICA FRAGA
DE LONDRES
Cornelius Horan, o ex-padre irlandês que atacou Vanderlei Cordeiro de Lima, no domingo, na
maratona que encerrou Atenas-2004, não se arrepende do que fez.
Lamenta apenas que o atleta era
muito "pequeno e frágil".
Em entrevista à Folha ontem,
depois de ter voltado para Londres, onde vive, Horan disse que
foi liberado pela polícia grega sem
ter pago a fiança de 1.000. "Cristo dará a Vanderlei algo muito
melhor do que a medalha de ouro
que tirei dele", afirmou.
A "demonstração", forma como Horan descreve o ataque a Lima, havia sido cuidadosamente
planejada por ele, que viajou para
Atenas no último domingo de
manhã. "Eu planejei fazer com
quem estivesse liderando, fosse
ele italiano, alemão ou argentino.
Não importava. Não tinha idéia
de que seria um brasileiro. Quis
fazer isso na Olimpíada, que é o
maior evento do esporte."
Horan disse, no entanto, que
não pretendia agarrar o brasileiro.
"Minha intenção era apenas parar
na frente dele por alguns segundos e deixá-lo prosseguir. Não
queria afetar o resultado da maratona. Mas eu sou uma pessoa
muito nervosa, estava tenso, não
sei o que aconteceu, porque acabei fazendo aquilo", declarou.
O ex-padre, no entanto, diz não
se arrepender, já que conseguiu
atrair a atenção para a sua mensagem de que "a segunda vinda do
Cristo está para ocorrer".
No ano passado, Horan já havia
protagonizado cena parecida ao
invadir o circuito de Silverstone,
durante o GP da Inglaterra. Curiosamente, na ocasião, Rubens
Barrichello ganhou a corrida.
Bastante seguro em suas respostas, Horan se lembrava -e mencionou espontaneamente- a vitória do brasileiro na ocasião. Segundo ele, desde então, planejava
uma segunda "demonstração".
Horan disse à Folha que nunca
mais fará nada parecido. "Já consegui passar minha mensagem.
Atingi meu objetivo." No entanto,
não é a primeira vez que o irlandês faz essa promessa.
"Depois de Silverstone, ele havia dito que nunca mais faria
aquilo", disse Leslie Broad, editor
de versões eletrônicas de três livros que Horan escreveu, dois sobre a "volta de Cristo" e um terceiro, uma espécie de autobiografia.
"Eu jurei que nunca mais voltaria a fazer aquilo na Inglaterra,
não em outro país estrangeiro, como a Grécia", respondeu Horan,
que ficou dois meses preso pela
invasão na F-1 no ano passado.
Segundo ele, a polícia grega o liberou anteontem e sem multa. A
próxima instância do processo na
Grécia ocorrerá em seis meses, e
ele ainda não sabe se terá de pagar. "Tenho pouco dinheiro. Vivo
da assistência do governo."
A atitude de Horan envergonhou sua família e seus amigos.
Broad disse, por exemplo, que
não sabe se continuará sendo
amigo de Horan. "Ele fez papel de
bobo. Cometeu um ato absurdo
contra um homem que se revelou
um cavalheiro, um atleta que deveria servir de exemplo a todo o
mundo do esporte", disse.
Horan diz que muitas pessoas
-inclusive a família- não entendem "sua missão". Faz questão de dizer que, ao contrário do
que a imprensa tem publicado, ele
ainda mantém o título de padre,
mas confirma que já não atua em
nenhuma paróquia há dez anos.
Afirma ainda sofrer de depressão.
Em relação a Lima, Horan disse
ainda que gostaria muito de conversar com o atleta brasileiro e
que sofreu muito ao ver as imagens da cena depois. "Eu não consegui vê-lo antes de partir para cima dele, não sabia que ele era tão
frágil. Queria falar com ele."
Lima chegaria na madrugada de
hoje ao Brasil. Pela manhã, o maratonista será homenageado por
um de seus patrocinadores e receberá prêmio de R$ 200 mil -o valor seria pago apenas em caso de
ouro. Após a solenidade, o paranaense segue para Maringá. A
chegada está prevista para as 15h.
Com a Reportagem Local
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