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IATISMO
Dupla brasileira, conservadora durante toda a competição, decide arriscar na 11ª e última regata, mas queima e termina com o bronze
Grael e Ferreira mudam postura, erram e deixam o ouro escapar
DOS ENVIADOS A SYDNEY
Mais uma medalha de ouro
anunciada para o Brasil escapou
no último momento.
A dupla Torben Grael, 40, e
Marcelo Ferreira, 35, liderava a
classe star, mas, na 11ª regata, a
decisiva, queimou a largada, foi
desclassificada e acabou ficando
com o bronze.
Ouro em Atlanta-1996, os brasileiros tinham cinco pontos de
vantagem sobre os rivais e repetiriam o feito mesmo chegando
quatro colocações atrás de britânicos e norte-americanos.
Os iatistas apostaram em uma
estratégia agressiva, mas se precipitaram na largada, junto com os
barcos espanhol, italiano, irlandês
e norte-americano.
Os EUA, porém, se deram conta
da saída em falso, voltaram para
uma nova largada, retomaram a
corrida, chegaram em segundo e
acabaram por levar o ouro.
A dupla da Grã-Bretanha terminou com a prata.
Com o bronze conquistado ontem, Grael se igualou ao nadador
Gustavo Borges como brasileiro
com mais medalhas olímpicas
(quatro). O iatista leva vantagem
por possuir um ouro olímpico em
seu currículo.
Mas não parecia ligar muito para a marca histórica.
A chegada à marina mostrou
bem isso. Enquanto americanos e
ingleses eram recebidos com bandeiras e gritinhos por seus compatriotas, Grael e Ferreira aportaram cabisbaixos.
Os adversários saíram da água e
deram entrevistas.
Já a primeira providência da dupla nacional foi comer sanduíches
e lavar o barco enquanto buscava
respostas para o fracasso de último momento.
O primeiro a falar foi Lars Grael,
irmão de Torben e diretor técnico
do iatismo que estava em um barco atrás dos competidores.
""Foi um dia infeliz. Quando você tem a medalha de ouro na mão
e deixa escapar por uma falha técnica e um deslize, é triste", sintetizou Lars Grael.
O clima de frustração era maior
porque no dia anterior Robert
Scheidt perdera o ouro na classe
laser também por um erro tático.
Tanto na laser quanto na star, o
Brasil defendia o título de campeão olímpico em Atlanta -conquistou em 1996 também o bronze na classe tornado, com Lars
Grael e Henrique Pelicano.
Por isso, a prata de Scheidt e o
bronze da dupla Grael/Ferreira tiveram um gosto amargo.
Lars tentou confortar o irmão.
""Ele estava muito chateado, mas,
depois que conversei com ele, se
conformou."
Os brasileiros fizeram toda a regata sem saber que estavam desclassificados. Mas, mesmo que a
punição não tivesse acontecido,
outro erro teria definido a queda
da dupla na classificação.
Na largada, o vento soprou para
a direita, beneficiando EUA e
Grã-Bretanha, ao passo que o
Brasil apontou para a esquerda.
Resultado: terminou a 11ª regata
na décima colocação.
""A gente deu sorte nos outros
dias, liderando quase todo o tempo. Sei que poderíamos ter ido
mais longe, mas estou contente
com o bronze", disse Torben.
Sua expressão preferida na entrevista foi: ""Faz parte do jogo".
O iatista assumiu o erro cometido na regata final.
""Fomos conservadores durante
a competição, mas na última prova optamos por deixar o conservadorismo de lado."
Grael e Ferreira também arriscaram na escolha do barco, Vida
Bandida 2, projetado e construído
na Itália especialmente para a
Olimpíada de Sydney.
A dupla nunca tinha treinado
com a embarcação, que foi batizada com champanhe pela iatista
portuguesa Joana Pratas, em uma
superstição que já tinha acontecido nos Jogos de Atlanta.
Ferreira concordou com o parceiro. ""Como já tínhamos o bronze garantido, arriscamos atrás do
ouro. O problema é que a estrela
estava do lado deles."
O iatista também se disse feliz
com o terceiro lugar. ""Não é fácil
ganhar uma medalha. Eu seria
maluco se estivesse decepcionado
com o bronze", afirmou.
Junto com o atletismo, o iatismo
é o esporte que mais medalhas
deu para o Brasil: 12.
A vantagem da vela é que detém
mais ouros, quatro contra três.
A classe star, de Grael e Ferreira,
é a mais antiga -foi criada em
1910 e está no programa olímpico
desde 1932.
Já a laser, de Scheidt, é a mais difundida, com 150 mil praticantes
em 85 países.
Em Sydney-2000, a Grã-Bretanha foi a primeira colocada no iatismo (três ouros e duas pratas),
com a Austrália como vice-campeã, com dois ouros, uma prata e
um bronze.
(ROBERTO DIAS e RODRIGO BERTOLOTTO)
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