São Paulo, domingo, 01 de outubro de 2000

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IATISMO

Dupla brasileira, conservadora durante toda a competição, decide arriscar na 11ª e última regata, mas queima e termina com o bronze
Grael e Ferreira mudam postura, erram e deixam o ouro escapar

DOS ENVIADOS A SYDNEY

Mais uma medalha de ouro anunciada para o Brasil escapou no último momento.
A dupla Torben Grael, 40, e Marcelo Ferreira, 35, liderava a classe star, mas, na 11ª regata, a decisiva, queimou a largada, foi desclassificada e acabou ficando com o bronze.
Ouro em Atlanta-1996, os brasileiros tinham cinco pontos de vantagem sobre os rivais e repetiriam o feito mesmo chegando quatro colocações atrás de britânicos e norte-americanos.
Os iatistas apostaram em uma estratégia agressiva, mas se precipitaram na largada, junto com os barcos espanhol, italiano, irlandês e norte-americano.
Os EUA, porém, se deram conta da saída em falso, voltaram para uma nova largada, retomaram a corrida, chegaram em segundo e acabaram por levar o ouro.
A dupla da Grã-Bretanha terminou com a prata.
Com o bronze conquistado ontem, Grael se igualou ao nadador Gustavo Borges como brasileiro com mais medalhas olímpicas (quatro). O iatista leva vantagem por possuir um ouro olímpico em seu currículo.
Mas não parecia ligar muito para a marca histórica.
A chegada à marina mostrou bem isso. Enquanto americanos e ingleses eram recebidos com bandeiras e gritinhos por seus compatriotas, Grael e Ferreira aportaram cabisbaixos.
Os adversários saíram da água e deram entrevistas.
Já a primeira providência da dupla nacional foi comer sanduíches e lavar o barco enquanto buscava respostas para o fracasso de último momento.
O primeiro a falar foi Lars Grael, irmão de Torben e diretor técnico do iatismo que estava em um barco atrás dos competidores.
""Foi um dia infeliz. Quando você tem a medalha de ouro na mão e deixa escapar por uma falha técnica e um deslize, é triste", sintetizou Lars Grael.
O clima de frustração era maior porque no dia anterior Robert Scheidt perdera o ouro na classe laser também por um erro tático.
Tanto na laser quanto na star, o Brasil defendia o título de campeão olímpico em Atlanta -conquistou em 1996 também o bronze na classe tornado, com Lars Grael e Henrique Pelicano.
Por isso, a prata de Scheidt e o bronze da dupla Grael/Ferreira tiveram um gosto amargo.
Lars tentou confortar o irmão. ""Ele estava muito chateado, mas, depois que conversei com ele, se conformou."
Os brasileiros fizeram toda a regata sem saber que estavam desclassificados. Mas, mesmo que a punição não tivesse acontecido, outro erro teria definido a queda da dupla na classificação.
Na largada, o vento soprou para a direita, beneficiando EUA e Grã-Bretanha, ao passo que o Brasil apontou para a esquerda. Resultado: terminou a 11ª regata na décima colocação.
""A gente deu sorte nos outros dias, liderando quase todo o tempo. Sei que poderíamos ter ido mais longe, mas estou contente com o bronze", disse Torben.
Sua expressão preferida na entrevista foi: ""Faz parte do jogo".
O iatista assumiu o erro cometido na regata final.
""Fomos conservadores durante a competição, mas na última prova optamos por deixar o conservadorismo de lado."
Grael e Ferreira também arriscaram na escolha do barco, Vida Bandida 2, projetado e construído na Itália especialmente para a Olimpíada de Sydney.
A dupla nunca tinha treinado com a embarcação, que foi batizada com champanhe pela iatista portuguesa Joana Pratas, em uma superstição que já tinha acontecido nos Jogos de Atlanta.
Ferreira concordou com o parceiro. ""Como já tínhamos o bronze garantido, arriscamos atrás do ouro. O problema é que a estrela estava do lado deles."
O iatista também se disse feliz com o terceiro lugar. ""Não é fácil ganhar uma medalha. Eu seria maluco se estivesse decepcionado com o bronze", afirmou.
Junto com o atletismo, o iatismo é o esporte que mais medalhas deu para o Brasil: 12.
A vantagem da vela é que detém mais ouros, quatro contra três.
A classe star, de Grael e Ferreira, é a mais antiga -foi criada em 1910 e está no programa olímpico desde 1932.
Já a laser, de Scheidt, é a mais difundida, com 150 mil praticantes em 85 países.
Em Sydney-2000, a Grã-Bretanha foi a primeira colocada no iatismo (três ouros e duas pratas), com a Austrália como vice-campeã, com dois ouros, uma prata e um bronze. (ROBERTO DIAS e RODRIGO BERTOLOTTO)



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