São Paulo, quinta-feira, 01 de outubro de 2009

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JUCA KFOURI

Nem Rio, nem Brasil


Mas é triste chegar quase aos 40 anos de profissão e não querer ver uma Olimpíada no país em que nasci


NEM RIO-2016, nem São Paulo- -2020, nem Brasília-2024.
Quem sabe, e tomara, Rio- -2028. Tomara mesmo.
Mesmo que, tomara outra vez, não esteja aqui para ver. Ou, então, se estiver, desde que apto a cobrir, jovem aos 78 anos.
Porque um país que não dá a menor pelota para o esporte como fator de saúde pública ou de inclusão social não tem por que pleitear ser sede de uma Olimpíada.
E não acho graça nenhuma em dizer isso, prestes a completar 40 anos de jornalismo.
Primeiro, porque quero muito ver o Rio voltar a ser o que um dia foi nas décadas de 50 e 60, quando o conheci, admirado.
Em segundo lugar, porque, por mais que meus conterrâneos paulistas não me perdoem por isso, acho que esse tipo de evento é sim muito mais vocação do Rio, cartão de visita do Brasil.
Quem sabe se o país não tomará juízo com mais uma decepção e começará a fazer a lição de casa com vistas a pensar em ter o Rio como sede olímpica daqui a 20 anos?
Porque terei das maiores surpresas de minha vida se o Rio for escolhido amanhã, por mais que saibamos o que rola por trás desse tipo de escolha e da capacidade de convencimento que nossa cartolagem tem, ainda mais depois dos fracassos das campanhas Brasília-2000, Rio- -2004 e Rio-2012.
Tanto que, convenhamos, desta vez o marketing está tão benfeito que tem gente bem informada que jura que dará Rio na cabeça.
A surpresa será ainda maior depois que a Casa Branca confirmou a presença de Barack Obama em Copenhague, de onde certamente não cogita voltar de mãos abanando.
Sim, é injusto que pela quinta vez os Estados Unidos sediem a Olimpíada, enquanto a América do Sul continue a chupar os dedos.
Mas a América do Sul é um continente sem tradição esportiva e, portanto, sem tradição olímpica. E nem pode mesmo, porque não tem política esportiva, não tem que correr atrás de medalhas se nem garante educação física nas escolas, coisa obrigatória.
A Espanha, por exemplo, quando resolveu fazer Barcelona-92, trouxe junto uma política cujos frutos rendem até hoje e renderão provavelmente para sempre, como rende a dos Estados Unidos desde há muito tempo e passou a render a da China.
E há ainda, contra nós, a corrupção, a sangria dos cofres públicos. Respeito o argumento dos que dizem que, se deixarmos de fazer as coisas por causa de corrupção, não faremos mais nada no Brasil. Até porque o fenômeno não é monopólio nacional, embora a impunidade quase seja -basta dizer que os mesmos que pleitearam Brasília- -2000 estão aí pleiteando a Rio-2016, porque só de candidaturas gerações inteiras enchem o papo, algo em torno de, calcula-se, R$ 180 milhões, boa parte sem prestação de contas até hoje.
Aliás, outro bom motivo para torcer contra a vitória nacional está em que, ao que tudo indica, a derrota significará o fim do reinado de Carlos Arthur Nuzman, o déspota perfumado, que viveria sua derradeira oportunidade. Tomara, tomara.
O Pan-2007 já foi o que foi. Nem tem mais quem o defenda. Chega!

blogdojuca@uol.com.br

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