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LEGISLAÇÃO
Ricardo Teixeira viaja há um mês pelo país para engendrar movimento de resistência ao projeto de Pelé
Presidente da CBF visita ninhos tucanos
MÁRIO MAGALHÃES
da Sucursal do Rio
A principal vertente do lobby dos
dirigentes de clubes contrários ao
projeto de lei Pelé é discreta e tem à
frente o principal cabo eleitoral
das entidades esportivas, Ricardo
Teixeira, presidente da CBF.
Ele há um mês viaja pelo país,
conversando com políticos que
controlam bancadas numerosas
do Congresso, em particular do
PSDB, partido do presidente Fernando Henrique Cardoso.
A discrição de Teixeira é a outra
faceta do movimento de resistência ao projeto de Pelé.
Na Câmara, deputados como
Eurico Miranda (PPB-RJ), vice-presidente do Vasco, fazem barulho atacando propostas como a
obrigatoriedade de os clubes se
transformarem em empresas.
Enquanto isso, Teixeira viaja em
silêncio e expõe restrições ao projeto. Na sexta-feira, ele almoçou
em Fortaleza com o governador do
Ceará, Tasso Jereissati (PSDB), seu
ex-colega de escola no Rio.
Num almoço no Palácio do
Cambeba, entre 13h e 15h, Teixeira
expôs ao amigo argumentos contra o projeto do governo.
Ontem, Teixeira tinha um encontro marcado, fora da agenda,
com o governador de Minas Gerais, Eduardo Azeredo (PSDB).
Há dois anos, Azeredo pediu a
Teixeira que retirasse uma punição contra o América-MG, clube
de coração do governador. O presidente da CBF, mineiro e torcedor
do Cruzeiro, o atendeu.
Ainda ontem, depois de passar
por Belo Horizonte, Teixeira iria a
Brasília, onde conversará com deputados e senadores.
Amanhã, ele estará em Cuiabá,
onde tem uma reunião prevista
com o prefeito Roberto França
(PSDB) e deputados.
De acordo com um aliado seu, o
presidente da CBF só deverá voltar
ao Rio, onde mora, na sexta-feira.
Mesmo com dirigentes do futebol, Teixeira tem sido reticente sobre o resultado das conversas. Mas
seu roteiro é conhecido.
Seguindo um plano detalhado,
ele tem considerado até divergências interpartidárias estaduais.
Há duas semanas, esteve com o
prefeito de Contagem e ex-governador de Minas, Newton Cardoso,
um torcedor que já auxiliou financeiramente o Atlético-MG.
Possível candidato do PMDB a
governador, Cardoso é adversário,
no partido, do prefeito de Juiz de
Fora, Tarcísio Delgado.
Anteontem, Ricardo Teixeira esteve com Delgado na cidade, onde
a CBF está desenvolvendo projeto
de escolinhas de futebol.
As conversas com estrelas do
PSDB têm a vantagem, para o
lobby dos clubes, de buscar adeptos dentro da base governista.
O principal argumento tem sido
contra o regime de urgência com
que o presidente FHC encaminhou o projeto ao Congresso.
Na Câmara, os clubes contabilizam pelo menos cem deputados
com ligações muito próximas a
agremiações esportivas.
Dois exemplos da bancada gaúcha, conforme análise dos dirigentes, segundo a Folha apurou: seriam aliados "naturais" Darcísio
Perondi (PMDB-RS), irmão do
presidente da Federação Gaúcha
de Futebol, Emídio Perondi.
Outro: Germano Rigotto
(PMDB-RS), que teria sido eleito
com votação expressiva da torcida
do Caxias, clube contrário ao projeto de Pelé. Um dos argumentos
do lobby dos dirigentes do futebol
com governadores e prefeitos que
influenciam vários congressistas é
que, se o projeto virar lei, uma liga
nacional terá poucos clubes.
Todo o Congresso está mapeado
futebolisticamente.
O presidente do Senado, Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA),
que anteontem se pronunciou
contra o regime de urgência para o
projeto de Pelé, torce pelo Vitória,
assim como seu filho, líder do governo na Câmara, Luís Eduardo
Magalhães (PFL-BA). O clube confirma a filiação dos dois: ACM é
conselheiro desde 15 de dezembro
de 1990, e Luís Eduardo, desde 7 de
dezembro do mesmo ano.
Uma das ponderações dos dirigentes: o fim do passe, proposto
por Pelé, seria desastroso para o
Vitória, um dos clubes brasileiros
que mais formam atletas.
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