São Paulo, quarta, 1 de outubro de 1997.



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LEGISLAÇÃO
Ricardo Teixeira viaja há um mês pelo país para engendrar movimento de resistência ao projeto de Pelé
Presidente da CBF visita ninhos tucanos

MÁRIO MAGALHÃES
da Sucursal do Rio

A principal vertente do lobby dos dirigentes de clubes contrários ao projeto de lei Pelé é discreta e tem à frente o principal cabo eleitoral das entidades esportivas, Ricardo Teixeira, presidente da CBF.
Ele há um mês viaja pelo país, conversando com políticos que controlam bancadas numerosas do Congresso, em particular do PSDB, partido do presidente Fernando Henrique Cardoso.
A discrição de Teixeira é a outra faceta do movimento de resistência ao projeto de Pelé.
Na Câmara, deputados como Eurico Miranda (PPB-RJ), vice-presidente do Vasco, fazem barulho atacando propostas como a obrigatoriedade de os clubes se transformarem em empresas.
Enquanto isso, Teixeira viaja em silêncio e expõe restrições ao projeto. Na sexta-feira, ele almoçou em Fortaleza com o governador do Ceará, Tasso Jereissati (PSDB), seu ex-colega de escola no Rio.
Num almoço no Palácio do Cambeba, entre 13h e 15h, Teixeira expôs ao amigo argumentos contra o projeto do governo.
Ontem, Teixeira tinha um encontro marcado, fora da agenda, com o governador de Minas Gerais, Eduardo Azeredo (PSDB).
Há dois anos, Azeredo pediu a Teixeira que retirasse uma punição contra o América-MG, clube de coração do governador. O presidente da CBF, mineiro e torcedor do Cruzeiro, o atendeu.
Ainda ontem, depois de passar por Belo Horizonte, Teixeira iria a Brasília, onde conversará com deputados e senadores.
Amanhã, ele estará em Cuiabá, onde tem uma reunião prevista com o prefeito Roberto França (PSDB) e deputados.
De acordo com um aliado seu, o presidente da CBF só deverá voltar ao Rio, onde mora, na sexta-feira.
Mesmo com dirigentes do futebol, Teixeira tem sido reticente sobre o resultado das conversas. Mas seu roteiro é conhecido.
Seguindo um plano detalhado, ele tem considerado até divergências interpartidárias estaduais.
Há duas semanas, esteve com o prefeito de Contagem e ex-governador de Minas, Newton Cardoso, um torcedor que já auxiliou financeiramente o Atlético-MG.
Possível candidato do PMDB a governador, Cardoso é adversário, no partido, do prefeito de Juiz de Fora, Tarcísio Delgado.
Anteontem, Ricardo Teixeira esteve com Delgado na cidade, onde a CBF está desenvolvendo projeto de escolinhas de futebol.
As conversas com estrelas do PSDB têm a vantagem, para o lobby dos clubes, de buscar adeptos dentro da base governista.
O principal argumento tem sido contra o regime de urgência com que o presidente FHC encaminhou o projeto ao Congresso.
Na Câmara, os clubes contabilizam pelo menos cem deputados com ligações muito próximas a agremiações esportivas.
Dois exemplos da bancada gaúcha, conforme análise dos dirigentes, segundo a Folha apurou: seriam aliados "naturais" Darcísio Perondi (PMDB-RS), irmão do presidente da Federação Gaúcha de Futebol, Emídio Perondi.
Outro: Germano Rigotto (PMDB-RS), que teria sido eleito com votação expressiva da torcida do Caxias, clube contrário ao projeto de Pelé. Um dos argumentos do lobby dos dirigentes do futebol com governadores e prefeitos que influenciam vários congressistas é que, se o projeto virar lei, uma liga nacional terá poucos clubes.
Todo o Congresso está mapeado futebolisticamente.
O presidente do Senado, Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), que anteontem se pronunciou contra o regime de urgência para o projeto de Pelé, torce pelo Vitória, assim como seu filho, líder do governo na Câmara, Luís Eduardo Magalhães (PFL-BA). O clube confirma a filiação dos dois: ACM é conselheiro desde 15 de dezembro de 1990, e Luís Eduardo, desde 7 de dezembro do mesmo ano.
Uma das ponderações dos dirigentes: o fim do passe, proposto por Pelé, seria desastroso para o Vitória, um dos clubes brasileiros que mais formam atletas.



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