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TOSTÃO
Sonho adiado
Pela quarta vez consecutiva
(Grêmio, Cruzeiro e Vasco
também foram finalistas), um
time brasileiro perde o Mundial interclubes.
Marcos, o melhor jogador do
Palmeiras durante todo o ano,
falhou no gol do
Manchester United.
O Palmeiras se
preparou corretamente para este jogo, atuou melhor do
que eu esperava,
pressionou sem deixar sua defesa desprotegida, criou
mais oportunidades
de gol, mas falhou
nas finalizações. Júnior foi o destaque do time.
O Manchester ganhou seu
quarto título na temporada:
campeão do Inglês, da Copa da
Inglaterra, europeu e mundial.
A equipe teve mais tranquilidade, confirmou sua experiência, mas mostrou também as
deficiências de sua defesa, lenta e facilmente driblada pelos
brasileiros. O goleiro Mark
Bosnich foi o melhor do jogo.
Mesmo considerando que o Palmeiras foi melhor, o
Brasil perdeu outro
título internacional. O fato confirma
as evidências, que
não querem enxergar, de que o futebol
brasileiro está entre
os melhores do
mundo, mas não é o
melhor.
O Brasil só voltará a ganhar
títulos com mais frequência
quando tiver mais equilíbrio
emocional e perder a auto-suficiência e o ufanismo.
Pênalti não é loteria
Uma boa cobrança de pênalti
depende da técnica e treino do
batedor, de seu equilíbrio emocional (a responsabilidade do
cobrador é maior), da qualidade, do tamanho e elasticidade
do goleiro e também da sorte.
Está evidente que um jogador que perde um pênalti numa partida não deve bater outro, mesmo se for experiente e
tiver, como Raí, uma ótima
média de aproveitamento.
A obrigação de reparar seu
erro faz com que ele tenha menos tranqüilidade que na primeira cobrança. Se o Raí batesse o terceiro, provavelmente
perderia, igualando o recorde
do jogador argentino Palermo,
que perdeu três pênaltis contra
a Colômbia, na Copa América.
Será uma falta de bom senso
escalar o Raí novamente para
cobrar na próxima partida.
Dida defendeu três dos nove
pênaltis no Corinthians. Na seleção, defendeu quatro pênaltis. Em outra oportunidade,
porém, Dida rebateu, e um mexicano marcou. Qual o segredo
do Dida na defesa dos pênaltis?
Ele escolhe um canto, e, antes
da partida da bola, dá um passo à frente (o que é ilegal) e,
com impulso e favorecido por
seu tamanho, consegue saltar e
fechar todo um lado do gol.
Se tivesse esperado o chute
para pular, seria impossível defendê-lo, mesmo o chute não
sendo forte. A solução é chutar
alto, forte e no outro canto.
A escolha do canto certo parece sorte, como o próprio Dida
disse, mas é uma intuição, um
saber inconsciente, influenciado pela posição do corpo do batedor. Como ele sabe? Sabendo.
Ele sabe, mas não sabe que sabe. Existe um saber que foge à
compreensão humana.
Defesa e ataque
Corinthians e São Paulo confirmaram, domingo, a excelente qualidade de seus ataques e
a fraqueza de suas defesas.
O sistema defensivo do Vitória falhou na goleada contra o
Atlético-MG. O Galo só melhorou no campeonato depois que
arrumou sua defesa. Cláudio
Caçapa, um dos jogadores
mais fracos no início, é hoje um
dos destaques do time.
Vitória e Atlético-MG também têm ótimos atacantes (Tuta, Guilherme, Marques etc.).
O Cruzeiro caiu fora cedo
porque sua defesa falhou muito, em todo o torneio. Tomou
dez gols nos últimos três jogos,
e o Vasco levou 11, nos quatro
últimos. O Flamengo, então,
nem se fala. Sem comentários.
Por que as defesas dos times
brasileiros estão tão ruins e os
ataques tão bons? Será pela
qualidade dos jogadores, ou
porque os times jogam muito
ofensivamente? Penso que as
duas hipóteses estão certas.
Em outras épocas, o futebol
brasileiro era muito ofensivo.
Defender era uma opção dos
cabeças-de-bagre, dos violentos e por falta de criatividade.
Jogador bom, com algumas exceções, era atacante.
Depois da Copa de 94, em
que o Brasil deu show de eficiência na defesa (por isto
aquela seleção não é valorizada) ocorreu uma transformação no país. Todos os times
passaram a jogar na defesa,
atrair o rival e explorar o contra-ataque. Confundiram defender bem (que é também
uma arte) com defensivismo. O
futebol tornou-se feio, aumentaram os empates e os torcedores sumiram dos estádios.
Nos últimos anos, após a vitória passar a valer três pontos,
os times voltaram a jogar no
ataque, pressionar o adversário e valorizar os jogadores habilidosos no meio-campo.
Os ataques de novo melhoraram e as defesas pioraram. Organizar um bom sistema defensivo com muitos jogadores é
fácil, nem é preciso treinar.
O difícil é ter uma boa defesa
jogando ofensivamente. Os técnicos não perceberam que
quanto mais se ataca, mais se
precisa treinar a defesa.
A postura ofensiva não explica a deficiência individual de
nossos defensores. De qualquer
forma, é preciso atingir o equilíbrio. O mito de que a melhor
defesa é o ataque já era.
Tostão escreve às quartas-feiras e aos
domingos
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