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TOSTÃO
Futebol no campo e na TV
O torcedor deveria ir mais aos estádios e ver menos jogos na TV. Já para o comentarista, há vantagens e desvantagens
RECENTEMENTE, o vice-presidente do Cruzeiro, Zezé Perrella, disse que eu não poderia
criticar o time e o clube porque não
ia aos treinos. Se fosse assim, comentarista de política e de economia que não estivesse em Brasília
não poderia falar do governo.
Na verdade, Perrella reclamou das
críticas de um ex-jogador e da minha ausência em eventos do clube.
Ele confunde passado com presente. Não compreende que preciso
manter um distanciamento físico e
afetivo para ter total independência
e liberdade no meu trabalho.
Os treinadores costumam criticar
também os comentaristas pelo fato
de não irmos aos treinos e de que vemos muito mais jogos pela TV que
nos estádios.
Assim, não conheceríamos as jogadas ensaiadas durante os treinamentos, os problemas por que passam os técnicos para escalar e substituir e, pela TV, não teríamos boas
condições para fazer uma análise tática e para ver o posicionamento e a
movimentação dos atletas que estão
fora do lance.
Contra fatos há argumentos. Por
falta de tempo é impossível ir aos
treinos. Não sou comentarista de
um único estado e muito menos de
um único clube. Além disso, acompanho pelos jornais, rádios e TVs o
trabalho diário dos repórteres. Estou bem informado.
Há também vantagens de assistir
ao futebol pela televisão. Além da insegurança, do desconforto, da violência, do transporte ruim e do longo tempo para ir e voltar dos estádios, vejo em um dia vários jogos pela TV em horários diferentes e posso
até assistir a duas partidas ao mesmo tempo -não tenho esse hábito.
Não sou comentarista de melhores
momentos, de repetir a opinião dos
outros nem analisar somente por informação da internet.
Na TV, posso acompanhar as análises do pré e do pós-jogo, saber mais
detalhes técnicos pelas repetições
dos lances, ter mais informações sobre os jogadores, equipes e ainda
aprender com alguns comentaristas.
Parafraseando Jô Soares e não
querendo ser pretensioso, mas sendo, aprendi com o tempo a ver pela
TV os pequenos detalhes táticos das
duas equipes, a movimentação dos
jogadores e a deduzir com segurança
muitas coisas que não ficam claras
no vídeo.
Para fazer isso, muito me ajudou a
época em que trabalhei nos estádios
como comentarista e os meus tempos de atleta, quando tinha a preocupação de conhecer a maneira de
jogar das equipes.
Da mesma forma, alguns técnicos
aprendem a ver detalhes coletivos
do jogo, mesmo ficando na lateral do
campo, de onde se vê pior que lá de
cima.
Sinto falta da festa das torcidas, da
emoção de uma partida real, e não
da virtual que vemos pela TV.
Pretendo neste ano sair um pouco
do conforto de casa, espantar a preguiça e ir mais aos estádios, principalmente nos grandes jogos e nos da
seleção brasileira.
Por causa da exclusividade em várias competições, sou ainda obrigado a ver partidas em uma única
emissora. Isso não é bom. Cansei do
Galvão Bueno.
Deveria haver uma lei que permitisse a todas as TVs transmitirem as
partidas do time brasileiro. A seleção nacional é um patrimônio público.
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