São Paulo, quarta-feira, 02 de janeiro de 2008

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TOSTÃO

Futebol no campo e na TV

O torcedor deveria ir mais aos estádios e ver menos jogos na TV. Já para o comentarista, há vantagens e desvantagens

RECENTEMENTE, o vice-presidente do Cruzeiro, Zezé Perrella, disse que eu não poderia criticar o time e o clube porque não ia aos treinos. Se fosse assim, comentarista de política e de economia que não estivesse em Brasília não poderia falar do governo.
Na verdade, Perrella reclamou das críticas de um ex-jogador e da minha ausência em eventos do clube. Ele confunde passado com presente. Não compreende que preciso manter um distanciamento físico e afetivo para ter total independência e liberdade no meu trabalho.
Os treinadores costumam criticar também os comentaristas pelo fato de não irmos aos treinos e de que vemos muito mais jogos pela TV que nos estádios.
Assim, não conheceríamos as jogadas ensaiadas durante os treinamentos, os problemas por que passam os técnicos para escalar e substituir e, pela TV, não teríamos boas condições para fazer uma análise tática e para ver o posicionamento e a movimentação dos atletas que estão fora do lance.
Contra fatos há argumentos. Por falta de tempo é impossível ir aos treinos. Não sou comentarista de um único estado e muito menos de um único clube. Além disso, acompanho pelos jornais, rádios e TVs o trabalho diário dos repórteres. Estou bem informado.
Há também vantagens de assistir ao futebol pela televisão. Além da insegurança, do desconforto, da violência, do transporte ruim e do longo tempo para ir e voltar dos estádios, vejo em um dia vários jogos pela TV em horários diferentes e posso até assistir a duas partidas ao mesmo tempo -não tenho esse hábito. Não sou comentarista de melhores momentos, de repetir a opinião dos outros nem analisar somente por informação da internet.
Na TV, posso acompanhar as análises do pré e do pós-jogo, saber mais detalhes técnicos pelas repetições dos lances, ter mais informações sobre os jogadores, equipes e ainda aprender com alguns comentaristas.
Parafraseando Jô Soares e não querendo ser pretensioso, mas sendo, aprendi com o tempo a ver pela TV os pequenos detalhes táticos das duas equipes, a movimentação dos jogadores e a deduzir com segurança muitas coisas que não ficam claras no vídeo.
Para fazer isso, muito me ajudou a época em que trabalhei nos estádios como comentarista e os meus tempos de atleta, quando tinha a preocupação de conhecer a maneira de jogar das equipes.
Da mesma forma, alguns técnicos aprendem a ver detalhes coletivos do jogo, mesmo ficando na lateral do campo, de onde se vê pior que lá de cima.
Sinto falta da festa das torcidas, da emoção de uma partida real, e não da virtual que vemos pela TV.
Pretendo neste ano sair um pouco do conforto de casa, espantar a preguiça e ir mais aos estádios, principalmente nos grandes jogos e nos da seleção brasileira.
Por causa da exclusividade em várias competições, sou ainda obrigado a ver partidas em uma única emissora. Isso não é bom. Cansei do Galvão Bueno.
Deveria haver uma lei que permitisse a todas as TVs transmitirem as partidas do time brasileiro. A seleção nacional é um patrimônio público.


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