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São Paulo, domingo, 02 de fevereiro de 2003

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HÓQUEI

Hayley Wickenheiser, 24, entra para a história após assinar contrato com time profissional masculino da Finlândia

Canadense é primeira a jogar com homens

Jussi Nukari - 10.jan.03/Associated Press
Hayley Wickenheiser, primeira mulher a jogar num time profissional masculino de hóquei no gelo, participa de treino na Finlândia


MARIANA LAJOLO
TATIANA CUNHA
DA REPORTAGEM LOCAL

Wickenheiser recebe o disco, desliza pela pista de gelo e o empurra para Tevanen, que bate com força e marca o primeiro gol do Kirkkonummi Salamat.
Esta seria mais uma jogada do Campeonato Finlandês de hóquei da segunda divisão não fosse por alguns detalhes. Wickenheiser fazia sua estréia pela equipe. Wickenheiser é mulher. A primeira a jogar na linha em um time profissional masculino e a primeira a dar assistência para um gol.
Hayley Wickenheiser, 24, nasceu na pequena e rural Shaunavon, no Canadá, onde sua maior diversão no longo inverno era brincar na neve com os irmãos.
Seu pai, Tom, costumava jogar água com uma mangueira no quintal de sua casa para improvisar um rinque para as crianças.
Foi assim, quase que por acaso, que começou a carreira da melhor jogadora de hóquei do mundo na atualidade. Medalha de prata na Olimpíada de Inverno de Nagano em 1998, ouro nos quatro últimos Mundiais, ouro nos Jogos de Inverno de Salt Lake City no ano passado, eleita a melhor jogadora da competição. E não pára por aí.
Há duas semanas, Hayley entrou para a história ao assinar um contrato até o fim desta temporada com o Salamat e ser a primeira mulher a jogar na linha em um torneio masculino de hóquei -outras três americanas já o fizeram, mas sempre como goleiras.
"Quando estou no gelo, não me vejo como mulher ou homem, e sim como um jogador", afirmou à Folha, por telefone, da Finlândia.
"Uma das razões pela qual preferi jogar com os homens é que a seleção canadense não pode treinar o ano inteiro junta", disse.
Na verdade, essa não foi sua primeira tentativa de participar de um campeonato masculino. No ano passado, Hayley chegou a assinar contrato com um time italiano, mas a federação de hóquei local não permitiu que ela jogasse.
"Sempre quis ser capaz de me sustentar só com o esporte, e isso eu não poderia fazer nos times femininos. Queria melhorar o nível do meu jogo, queria uma mudança, precisava de um desafio."
Foi aí que o acaso mais uma vez apareceu em seu caminho, com um convite para jogar na Finlândia, país de bastante tradição no esporte -tem uma prata e três bronzes em Olimpíadas. "Estava jogando um torneio no Canadá com EUA, Finlândia e Suécia, e um dos finlandeses me procurou dizendo que poderia me ajudar."
"Depois de umas semanas eu liguei para saber se ele estava falando sério, e ele disse que sim."
Em seu primeiro jogo no país, há três semanas, Hayley foi titular, jogou quase 12 minutos e deu a assistência que resultou no primeiro gol de seu time, que bateu o Imatra Kettera por 7 a 3.
"Meu primeiro jogo com o Kirkkonummi teve muita atenção da mídia, muita pressão. Acho que no final fui bem, mas não fiz nada de especial", disse a atleta, que tem um vestiário só para ela.
Nem a violência do esporte nem a discriminação parecem assustá-la. "Algumas vezes na minha vida jogadores me perseguiram porque eu era uma mulher entre eles, às vezes alguns pais me xingavam das arquibancadas, mas acho que consegui provar que posso jogar como eles. Agora sou respeitada."
Para quem superou tantas barreiras, seu próximo desafio parece uma tarefa fácil. Hayley agora vai procurar um lugar para morar e poder levar à Finlândia o marido, Thomas, e o filho, Noah, de dois anos e meio, que ficaram no Canadá. Ou quem sabe conseguir um time na NHL, a liga profissional americana de hóquei no gelo.



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