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HÓQUEI
Hayley Wickenheiser, 24, entra para a história após assinar contrato com time profissional masculino da Finlândia
Canadense é primeira a jogar com homens
Jussi Nukari - 10.jan.03/Associated Press
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Hayley Wickenheiser, primeira mulher a jogar num time profissional masculino de hóquei no gelo, participa de treino na Finlândia |
MARIANA LAJOLO
TATIANA CUNHA
DA REPORTAGEM LOCAL
Wickenheiser recebe o disco,
desliza pela pista de gelo e o empurra para Tevanen, que bate
com força e marca o primeiro gol
do Kirkkonummi Salamat.
Esta seria mais uma jogada do
Campeonato Finlandês de hóquei
da segunda divisão não fosse por
alguns detalhes. Wickenheiser fazia sua estréia pela equipe. Wickenheiser é mulher. A primeira a jogar na linha em um time profissional masculino e a primeira a
dar assistência para um gol.
Hayley Wickenheiser, 24, nasceu na pequena e rural Shaunavon, no Canadá, onde sua maior
diversão no longo inverno era
brincar na neve com os irmãos.
Seu pai, Tom, costumava jogar
água com uma mangueira no
quintal de sua casa para improvisar um rinque para as crianças.
Foi assim, quase que por acaso,
que começou a carreira da melhor
jogadora de hóquei do mundo na
atualidade. Medalha de prata na
Olimpíada de Inverno de Nagano
em 1998, ouro nos quatro últimos
Mundiais, ouro nos Jogos de Inverno de Salt Lake City no ano
passado, eleita a melhor jogadora
da competição. E não pára por aí.
Há duas semanas, Hayley entrou para a história ao assinar um
contrato até o fim desta temporada com o Salamat e ser a primeira
mulher a jogar na linha em um
torneio masculino de hóquei
-outras três americanas já o fizeram, mas sempre como goleiras.
"Quando estou no gelo, não me
vejo como mulher ou homem, e
sim como um jogador", afirmou à
Folha, por telefone, da Finlândia.
"Uma das razões pela qual preferi jogar com os homens é que a
seleção canadense não pode treinar o ano inteiro junta", disse.
Na verdade, essa não foi sua primeira tentativa de participar de
um campeonato masculino. No
ano passado, Hayley chegou a assinar contrato com um time italiano, mas a federação de hóquei
local não permitiu que ela jogasse.
"Sempre quis ser capaz de me
sustentar só com o esporte, e isso
eu não poderia fazer nos times femininos. Queria melhorar o nível
do meu jogo, queria uma mudança, precisava de um desafio."
Foi aí que o acaso mais uma vez
apareceu em seu caminho, com
um convite para jogar na Finlândia, país de bastante tradição no
esporte -tem uma prata e três
bronzes em Olimpíadas. "Estava
jogando um torneio no Canadá
com EUA, Finlândia e Suécia, e
um dos finlandeses me procurou
dizendo que poderia me ajudar."
"Depois de umas semanas eu liguei para saber se ele estava falando sério, e ele disse que sim."
Em seu primeiro jogo no país,
há três semanas, Hayley foi titular, jogou quase 12 minutos e deu
a assistência que resultou no primeiro gol de seu time, que bateu o
Imatra Kettera por 7 a 3.
"Meu primeiro jogo com o
Kirkkonummi teve muita atenção
da mídia, muita pressão. Acho
que no final fui bem, mas não fiz
nada de especial", disse a atleta,
que tem um vestiário só para ela.
Nem a violência do esporte nem
a discriminação parecem assustá-la. "Algumas vezes na minha vida
jogadores me perseguiram porque eu era uma mulher entre eles,
às vezes alguns pais me xingavam
das arquibancadas, mas acho que
consegui provar que posso jogar
como eles. Agora sou respeitada."
Para quem superou tantas barreiras, seu próximo desafio parece
uma tarefa fácil. Hayley agora vai
procurar um lugar para morar e
poder levar à Finlândia o marido,
Thomas, e o filho, Noah, de dois
anos e meio, que ficaram no Canadá. Ou quem sabe conseguir
um time na NHL, a liga profissional americana de hóquei no gelo.
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