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São Paulo, domingo, 02 de fevereiro de 2003

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FUTEBOL

Indagações e preocupações

TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA

Parreira disse na convocação que a seleção vai jogar com quatro defensores, dois volantes, dois meias e dois atacantes. Fiquei na dúvida se será um meia de cada lado, como na Copa de 94, ou se um dos dois vai atuar mais livre, próximo dos atacantes, como fez Zagallo ao assumir o comando da equipe após o tetra.
A maioria das principais seleções e equipes da Europa atua como o Brasil de 94. Este esquema começou em 1966 com a seleção inglesa, campeã do mundo. Após 37 anos, pouca coisa mudou.
Nesse esquema há uma linha de quatro armadores que participa da marcação e quatro defensores, o que torna a equipe muito forte na defesa. São oito atrás da linha da bola, como fala o Parreira. Há também uma dupla de cada lado, formada pelo lateral e o armador, atacando e defendendo.
A presença de um jogador de ligação, livre, como Kaká no São Paulo, torna o time mais ofensivo, mas piora a marcação. As jogadas ficam também previsíveis e centralizadas num único jogador. Não é difícil anulá-lo. É um dos problemas do São Paulo quando enfrenta forte marcação, como a do Santos.
Prefiro esquemas alternativos mais flexíveis e que surpreendem. O Santos atua com dois volantes, um atacante de cada lado (Robinho e Elano) que defende e ataca formando dupla com o lateral, um armador pelo meio (Diego) e um centroavante (Ricardo Oliveira). Dessa forma a equipe une as virtudes dos dois esquemas anteriores, desde que haja atletas com características para executá-lo.
Na Copa de 2002, o grande mérito do Felipão não foi ser o grande chefe da família Scolari, e sim escalar e posicionar corretamente os dois Ronaldinhos e o Rivaldo. Em vez de jogar com um meia de ligação e dois atacantes, a equipe jogou com dois meias, com liberdade, e Ronaldo na frente. Isso confundiu os adversários.
Pelas palavras do Parreira, que diz que vai jogar com dois meias e dois atacantes, fiquei com a impressão de que haverá mudanças no posicionamento do Ronaldinho Gaúcho e do Rivaldo. Um dos dois, por motivos variados, poderá até ser substituído por mais um jogador de meio-campo, formando o esquema de 94.
Cada técnico tem a sua preferência e seus argumentos, mas penso que as boas coisas que o Felipão fez devem ser valorizadas.

Maconha não é doping
Como a maconha é um depressor e não um estimulante, não deveria constar na lista das substâncias dopantes. Em vez de punir um atleta, como o Giba, ele deveria seguir jogando, ser acompanhado por outros exames e orientado para os males e riscos que a maconha pode trazer à saúde.
A justificativa para uma severa punição, a de que o atleta não deveria usar substâncias anti-sociais porque é um mau exemplo para os jovens e fere o "espírito olímpico", não convence. Álcool, fumo, hipocrisia e muitas outras coisas fazem mal à saúde e são permitidas. Os jovens toleram muito menos a falsidade do que pequenos e eventuais desvios no comportamento social.
É também uma ilusão achar que um campeão, um ídolo, é ou deveria ser um purista. Ninguém é. Ele é especial por sua obra.

Quem tem, põe
Para responder a alguns leitores, tive alguns motivos para recusar o convite do governo para participar do Conselho Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social. Os convidados, além de serem dignos representantes da sociedade, deveriam ter grandes conhecimentos técnicos. Sou um colunista esportivo que procura se informar e se preocupa com os graves problemas brasileiros.
Até o vendedor de picolé sabe que para diminuir as desigualdades sociais é preciso transferir riquezas dos mais ricos para os mais pobres, dentro da democracia e do respeito às leis. Como fazer isso? Eis a questão. Um dos meus defeitos é ter um exagerado ou apurado senso crítico.
Fui convidado também várias vezes por órgãos públicos para participar de grupos na área esportiva. Recusei porque não seria ético um cronista ter outras atividades relacionadas. Perderia a independência.
Além do mais, quero ficar no meu canto, cuidando da saúde, trabalhando e observando a natureza. Se for um bom cidadão, já darei minha contribuição. Imagine se cada pessoa ou empresa trabalhasse com responsabilidade e, os que pudessem, contribuíssem com parte de seus rendimentos (tem de ser proporcionais) para diminuir as desigualdades. Quem tem, põe. Quem não tem, tira.

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