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FUTEBOL
Indagações e preocupações
TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA
Parreira disse na convocação que a seleção vai jogar
com quatro defensores, dois volantes, dois meias e dois atacantes. Fiquei na dúvida se será um
meia de cada lado, como na Copa
de 94, ou se um dos dois vai atuar
mais livre, próximo dos atacantes, como fez Zagallo ao assumir o
comando da equipe após o tetra.
A maioria das principais seleções e equipes da Europa atua como o Brasil de 94. Este esquema
começou em 1966 com a seleção
inglesa, campeã do mundo. Após
37 anos, pouca coisa mudou.
Nesse esquema há uma linha de
quatro armadores que participa
da marcação e quatro defensores,
o que torna a equipe muito forte
na defesa. São oito atrás da linha
da bola, como fala o Parreira. Há
também uma dupla de cada lado,
formada pelo lateral e o armador,
atacando e defendendo.
A presença de um jogador de ligação, livre, como Kaká no São
Paulo, torna o time mais ofensivo,
mas piora a marcação. As jogadas ficam também previsíveis e
centralizadas num único jogador.
Não é difícil anulá-lo. É um dos
problemas do São Paulo quando
enfrenta forte marcação, como a
do Santos.
Prefiro esquemas alternativos
mais flexíveis e que surpreendem.
O Santos atua com dois volantes,
um atacante de cada lado (Robinho e Elano) que defende e ataca
formando dupla com o lateral,
um armador pelo meio (Diego) e
um centroavante (Ricardo Oliveira). Dessa forma a equipe une as
virtudes dos dois esquemas anteriores, desde que haja atletas com
características para executá-lo.
Na Copa de 2002, o grande mérito do Felipão não foi ser o grande chefe da família Scolari, e sim
escalar e posicionar corretamente
os dois Ronaldinhos e o Rivaldo.
Em vez de jogar com um meia de
ligação e dois atacantes, a equipe
jogou com dois meias, com liberdade, e Ronaldo na frente. Isso
confundiu os adversários.
Pelas palavras do Parreira, que
diz que vai jogar com dois meias e
dois atacantes, fiquei com a impressão de que haverá mudanças
no posicionamento do Ronaldinho Gaúcho e do Rivaldo. Um dos
dois, por motivos variados, poderá até ser substituído por mais um
jogador de meio-campo, formando o esquema de 94.
Cada técnico tem a sua preferência e seus argumentos, mas
penso que as boas coisas que o Felipão fez devem ser valorizadas.
Maconha não é doping
Como a maconha é um depressor e não um estimulante, não deveria constar na lista das substâncias dopantes. Em vez de punir
um atleta, como o Giba, ele deveria seguir jogando, ser acompanhado por outros exames e orientado para os males e riscos que a
maconha pode trazer à saúde.
A justificativa para uma severa
punição, a de que o atleta não deveria usar substâncias anti-sociais porque é um mau exemplo
para os jovens e fere o "espírito
olímpico", não convence. Álcool,
fumo, hipocrisia e muitas outras
coisas fazem mal à saúde e são
permitidas. Os jovens toleram
muito menos a falsidade do que
pequenos e eventuais desvios no
comportamento social.
É também uma ilusão achar
que um campeão, um ídolo, é ou
deveria ser um purista. Ninguém
é. Ele é especial por sua obra.
Quem tem, põe
Para responder a alguns leitores, tive alguns motivos para recusar o convite do governo para
participar do Conselho Nacional
de Desenvolvimento Econômico e
Social. Os convidados, além de serem dignos representantes da sociedade, deveriam ter grandes conhecimentos técnicos. Sou um colunista esportivo que procura se
informar e se preocupa com os
graves problemas brasileiros.
Até o vendedor de picolé sabe
que para diminuir as desigualdades sociais é preciso transferir riquezas dos mais ricos para os
mais pobres, dentro da democracia e do respeito às leis. Como fazer isso? Eis a questão. Um dos
meus defeitos é ter um exagerado
ou apurado senso crítico.
Fui convidado também várias
vezes por órgãos públicos para
participar de grupos na área esportiva. Recusei porque não seria
ético um cronista ter outras atividades relacionadas. Perderia a
independência.
Além do mais, quero ficar no
meu canto, cuidando da saúde,
trabalhando e observando a natureza. Se for um bom cidadão, já
darei minha contribuição. Imagine se cada pessoa ou empresa trabalhasse com responsabilidade e,
os que pudessem, contribuíssem
com parte de seus rendimentos
(tem de ser proporcionais) para
diminuir as desigualdades. Quem
tem, põe. Quem não tem, tira.
E-mail
tostao.folha@uol.com.br
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