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São Paulo, domingo, 02 de fevereiro de 2003

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"Não podemos esmorecer", diz chefe da organização

DA REDAÇÃO

Leia a seguir a entrevista respondida por e-mail à Folha pela presidente do comitê organizador de Atenas-2004, Gianna Angelopoulos-Daskalaki. (MD)
 
Folha - Em todo o mundo, segurança é uma das prioridades na organização de eventos de grande porte. Como está sendo pensado o sistema para os Jogos Olímpicos?
Gianna Angelopoulos-Daskalaki -
Nosso sistema será o mais extensivo e sofisticado da história dos Jogos. Serão utilizados 45 mil profissionais treinados, e cada local de competição terá sua própria equipe de segurança. Atenas está investindo US$ 600 milhões em infra-estrutura e equipamentos, além de treino, operações e pessoal. A Divisão de Segurança do Governo Grego para os Jogos Olímpicos [OGSD, sigla em inglês" inclui as forças militares, a polícia, a brigada de incêndio e a guarda-costeira. Além disso, a Grécia faz parte de uma força militar que reúne sete nações -Austrália, Alemanha, França, Israel, Reino Unido e os Estados Unidos- com encontros regulares para discutir problemas referentes ao sistema de proteção na Olimpíada. Nós já estamos conduzindo treinamentos conjuntos com a Scotland Yard [polícia britânica". Nosso primeiro exercício de treinamento conjunto aconteceu em novembro e envolveu mais de 1.800 membros.

Folha - É verdade que o sistema de segurança poderá incluir o uso de mísseis contra ataques aéreos?
Angelopoulos-Daskalaki -
Somente posso dizer que Atenas estará preparada para enfrentar qualquer tipo de ameaça.

Folha - Lembrando o atentado de 11 de setembro de 2001, é um fato que há países que não aceitam mais a convivência pacífica com outros. Como os primeiros Jogos [de verão" após o ataque, a sra. acredita que alguma hostilidade poderá estar presente em Atenas-2004?
Angelopoulos-Daskalaki -
Desde os Jogos antigos, as competições aconteceram mesmo em cenários de conflito ou de guerra. Mas sempre houve uma pausa nas batalhas, com atletas e seus fãs unidos pelos ideais olímpicos e deixando a política para trás por um momento. Todos verão que as competições esportivas reduzem, ao invés de aumentar, a tensão.

Folha - A venda de ingressos costuma ser um dos principais problemas para a organização da Olimpíada. Qual é a solução encontrada para evitar filas, cambistas e falsificações?
Angelopoulos-Daskalaki -
As vendas de ingressos irão começar em 12 de maio. Mais de 5,3 milhões de bilhetes serão colocados à disposição por meio dos comitês olímpicos nacionais e do comitê organizador Atenas-2004. Nossos objetivos são estimular o público com um preço razoável e fazer um processo aberto e transparente, para que fãs de todo o mundo possam entender o sistema e ter uma chance de conseguir um ingresso para o evento que quiser. Nossos preços irão caber no bolso: 3,6 milhões dos bilhetes [68%" irão custar 30 euros [cerca de R$ 118" ou menos; 38% irão custar menos do que 15 euros [aproximadamente R$ 59". E um canal de distribuição, incluindo vendas on-line, limitarão as filas. Nos casos em que a demanda exceder a oferta de ingressos, um processo de escolha aleatório e imparcial será utilizado, por meio de um programa de computador criado especificamente para isso.

Folha - Atlanta-96 teve uma série de problemas no sistema de transporte público e falhas no sistema de computação, principalmente porque havia mais gente do que a cidade podia suportar. Quantos visitantes vocês estão esperando? Quantos a cidade pode suportar sem problemas?
Angelopoulos-Daskalaki -
Nós esperamos 1 milhão de visitantes durante a época dos Jogos. Para colocar em perspectiva, a Grécia recebe anualmente 1,2 milhão de turistas a cada ano. Portanto, temos já uma indústria de turismo e hospitalidade bem estabelecida. O sistema de transporte tem sido uma das prioridades desde que Atenas foi designada para sediar os Jogos. Nós já estamos finalizando a construção do mais moderno aeroporto da Europa. Extensões do metrô e o aumento das linhas de trólebus, com conexões para o sistema de trens urbanos, já estão funcionando para diminuir os congestionamentos. Além disso, estamos construindo ou melhorando 210 quilômetros de estradas e rodovias por toda Atenas e instalando um sistema de monitoramento de tráfego computadorizado que irá ajudar a prevenir possíveis regiões de trânsito lento. Durante os Jogos, os caminhos entre os locais de competição e a Vila Olímpica irão ter faixas de trânsito exclusivas. Como fizeram Sydney [sede dos Jogos de 2000" e Salt Lake City [que hospedou a Olimpíada de Inverno de 2002", Atenas criou um programa no qual casas privadas são oferecidas para acomodar visitantes. A qualidade será assegurada por uma agência de acomodação residencial. Estamos ainda criando uma estratégia de acomodação pela qual muitos visitantes poderão se hospedar fora da área de Atenas durante sua visita.

Folha - Qual será o conceito da Vila Olímpica?
Angelopoulos-Daskalaki -
Entre nossos projetos isolados, a Vila Olímpica é o maior deles, incluindo mais de 2.200 apartamentos, além de facilidades para área gastronômica, um centro de saúde e um grande espaço para o lazer. Ao lado da Vila haverá um complexo de treinamento onde mais de 5.500 atletas e 2.500 treinadores poderão exercer suas atividades, em 11 modalidades diferentes, treinando para as competições. Essa será uma inovação que facilitará para os atletas treinarem e também aliviará a demanda pelo sistema de transporte. Quando os Jogos acabarem, a Vila Olímpica será convertida em um complexo de casas que serão vendidas para famílias de baixa renda.

Folha - Na página dos Jogos na internet, a organização se refere a Atenas- 2004 como um evento em "escala humana". É algum tipo de censura às inovações tecnológicas vistas em Barcelona-92, Atlanta-96 e Sydney-2000?
Angelopoulos-Daskalaki -
Nossa visão de "uma Olimpíada única em escala humana" dá o senso de proporção à maneira como conduzimos a organização e é baseada no antigo conceito grego de que o "homem é a medida de todas as coisas". Para nós, essa idéia ajuda a balancear todos os elementos que formam uma Olimpíada hoje, como tecnologia, comunicação ou patrocínio. Por exemplo, tomamos uma decisão, logo no começo, de reduzirmos nosso número de patrocinadores para 40, em diversas categorias, para que possamos trabalhar de maneira bem próxima com eles, para que não se tornem apenas fornecedores de recursos, mas participantes. E a resposta tem sido bem positiva. Os Jogos passados tiveram mais de 200 patrocinadores, por exemplo. E, ao mesmo tempo em que as inovações tecnológicas irão ajudar Atenas a providenciar segurança e manutenção do tráfego, também irão ajudar a contar a todos as histórias de nossos atletas e seus desempenhos. A Olimpíada está voltando para casa, não somente para um país, mas para um ethos [do grego, costume, uso, maneira como fazemos". Temos que recordar a cada dia que os Jogos de Atenas serão únicos e extraordinários. E nós queremos dizer isso ao mundo.

Folha - Está tudo correndo dentro do calendário ou há atrasos significativos? As críticas têm sido fortes na imprensa local.
Angelopoulos-Daskalaki -
Quando assumi o comitê, um grande número de projetos estava bastante atrasado. Mas, desde então, nós aceleramos consideravelmente esse caminho. Durante uma recente visita a Atenas, o presidente do Comitê Olímpico Internacional, Jacques Rogge, disse que o progresso é extraordinário e evidente. Neste momento, tudo está correndo mais rápido que nós poderíamos imaginar. Mas todos sabem que não podemos esmorecer por um segundo, que temos que manter e mesmo acelerar o nosso ritmo para que possamos cumprir nossos compromissos com os Jogos e com os testes que já começam neste ano.

Folha - O futebol brasileiro é pentacampeão do mundo, mas nunca conquistou a medalha de ouro olímpica. Há uma grande expectativa para isso em 2004. A presença da seleção brasileira, talvez com Ronaldo, poderá ser uma atração à parte na Olimpíada?
Angelopoulos-Daskalaki -
O futebol é o esporte mais popular do planeta, e qualquer partida envolvendo uma equipe tão talentosa como o Brasil e um jogador tão espetacular quanto Ronaldo seria um grande evento. E os brasileiros que viajarem para acompanhar o futebol poderão se envolver também com as outras competições olímpicas.



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