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"Não podemos esmorecer", diz chefe da organização
DA REDAÇÃO
Leia a seguir a entrevista respondida por e-mail à Folha pela
presidente do comitê organizador
de Atenas-2004, Gianna Angelopoulos-Daskalaki.
(MD)
Folha - Em todo o mundo, segurança é uma das prioridades na organização de eventos de grande
porte. Como está sendo pensado o
sistema para os Jogos Olímpicos?
Gianna Angelopoulos-Daskalaki -
Nosso sistema será o mais extensivo e sofisticado da história dos
Jogos. Serão utilizados 45 mil profissionais treinados, e cada local
de competição terá sua própria
equipe de segurança. Atenas está
investindo US$
600 milhões em
infra-estrutura e
equipamentos,
além de treino,
operações e pessoal. A Divisão de
Segurança do Governo Grego para
os Jogos Olímpicos [OGSD, sigla
em inglês" inclui
as forças militares,
a polícia, a brigada
de incêndio e a
guarda-costeira.
Além disso, a Grécia faz parte de
uma força militar
que reúne sete nações -Austrália, Alemanha,
França, Israel, Reino Unido e os
Estados Unidos- com encontros
regulares para discutir problemas
referentes ao sistema de proteção
na Olimpíada. Nós já estamos
conduzindo treinamentos conjuntos com a Scotland Yard [polícia britânica". Nosso primeiro
exercício de treinamento conjunto aconteceu em novembro e envolveu mais de 1.800 membros.
Folha - É verdade que o sistema
de segurança poderá incluir o uso
de mísseis contra ataques aéreos?
Angelopoulos-Daskalaki - Somente posso dizer que Atenas estará preparada para enfrentar
qualquer tipo de ameaça.
Folha - Lembrando o atentado de
11 de setembro de 2001, é um fato
que há países que não aceitam
mais a convivência pacífica com outros. Como os primeiros Jogos [de
verão" após o ataque, a sra. acredita que alguma hostilidade poderá
estar presente em Atenas-2004?
Angelopoulos-Daskalaki - Desde
os Jogos antigos, as competições
aconteceram mesmo em cenários
de conflito ou de guerra. Mas
sempre houve uma pausa nas batalhas, com atletas e seus fãs unidos pelos ideais olímpicos e deixando a política para trás por um
momento. Todos verão que as
competições esportivas reduzem,
ao invés de aumentar, a tensão.
Folha - A venda de ingressos costuma ser um dos principais problemas para a organização da Olimpíada. Qual é a solução encontrada
para evitar filas, cambistas e falsificações?
Angelopoulos-Daskalaki - As
vendas de ingressos irão começar
em 12 de maio. Mais de 5,3 milhões de bilhetes serão colocados
à disposição por meio dos comitês olímpicos nacionais e do comitê organizador Atenas-2004.
Nossos objetivos são estimular o
público com um preço razoável e
fazer um processo aberto e transparente, para que fãs de todo o
mundo possam entender o sistema e ter uma chance de conseguir
um ingresso para o evento que
quiser. Nossos preços irão caber
no bolso: 3,6 milhões dos bilhetes
[68%" irão custar 30 euros [cerca
de R$ 118" ou menos; 38% irão
custar menos do
que 15 euros
[aproximadamente R$ 59". E
um canal de distribuição, incluindo
vendas on-line, limitarão as filas.
Nos casos em que
a demanda exceder a oferta de ingressos, um processo de escolha
aleatório e imparcial será utilizado,
por meio de um
programa de computador criado especificamente para isso.
Folha - Atlanta-96 teve uma série
de problemas no sistema de transporte público e falhas no sistema
de computação, principalmente
porque havia mais gente do que a
cidade podia suportar. Quantos visitantes vocês estão esperando?
Quantos a cidade pode suportar
sem problemas?
Angelopoulos-Daskalaki - Nós
esperamos 1 milhão de visitantes
durante a época dos Jogos. Para
colocar em perspectiva, a Grécia
recebe anualmente 1,2 milhão de
turistas a cada ano. Portanto, temos já uma indústria de turismo e
hospitalidade bem estabelecida.
O sistema de transporte tem sido
uma das prioridades desde que
Atenas foi designada para sediar
os Jogos. Nós já estamos finalizando a construção do mais moderno aeroporto da Europa. Extensões do metrô e o aumento das
linhas de trólebus, com conexões
para o sistema de trens urbanos,
já estão funcionando para diminuir os congestionamentos. Além
disso, estamos construindo ou
melhorando 210 quilômetros de
estradas e rodovias por toda Atenas e instalando um sistema de
monitoramento de tráfego computadorizado que irá ajudar a
prevenir possíveis regiões de trânsito lento. Durante os Jogos, os caminhos entre os locais de competição e a Vila Olímpica irão ter faixas de trânsito exclusivas. Como
fizeram Sydney [sede dos Jogos de
2000" e Salt Lake City [que hospedou a Olimpíada de Inverno de
2002", Atenas criou um programa
no qual casas privadas são oferecidas para acomodar visitantes. A
qualidade será assegurada por
uma agência de acomodação residencial. Estamos ainda criando
uma estratégia de acomodação
pela qual muitos visitantes poderão se hospedar fora da área de
Atenas durante sua visita.
Folha - Qual será o conceito da Vila Olímpica?
Angelopoulos-Daskalaki - Entre
nossos projetos isolados, a Vila
Olímpica é o maior deles, incluindo mais de 2.200 apartamentos,
além de facilidades para área gastronômica, um centro de saúde e
um grande espaço para o lazer.
Ao lado da Vila haverá um complexo de treinamento onde mais
de 5.500 atletas e 2.500 treinadores poderão exercer suas atividades, em 11 modalidades diferentes, treinando para as competições. Essa será uma inovação que
facilitará para os atletas treinarem
e também aliviará a demanda pelo sistema de transporte. Quando
os Jogos acabarem, a Vila Olímpica será convertida em um complexo de casas que
serão vendidas para famílias de baixa renda.
Folha - Na página
dos Jogos na internet, a organização
se refere a Atenas-
2004 como um
evento em "escala
humana". É algum
tipo de censura às
inovações tecnológicas vistas em
Barcelona-92,
Atlanta-96 e
Sydney-2000?
Angelopoulos-Daskalaki - Nossa visão de "uma
Olimpíada única em escala humana" dá o senso de proporção à
maneira como conduzimos a organização e é baseada no antigo
conceito grego de
que o "homem é a
medida de todas
as coisas". Para
nós, essa idéia ajuda a balancear todos os elementos
que formam uma
Olimpíada hoje,
como tecnologia,
comunicação ou
patrocínio. Por
exemplo, tomamos uma decisão,
logo no começo,
de reduzirmos
nosso número de
patrocinadores
para 40, em diversas categorias, para que possamos trabalhar de maneira bem próxima com eles, para
que não se tornem apenas fornecedores de recursos, mas participantes. E a resposta tem sido bem
positiva. Os Jogos passados tiveram mais de 200 patrocinadores,
por exemplo. E, ao mesmo tempo
em que as inovações tecnológicas
irão ajudar Atenas a providenciar
segurança e manutenção do tráfego, também irão ajudar a contar a
todos as histórias de nossos atletas e seus desempenhos. A Olimpíada está voltando para casa, não
somente para um país, mas para
um ethos [do grego, costume, uso,
maneira como fazemos". Temos
que recordar a cada dia que os Jogos de Atenas serão únicos e extraordinários. E nós queremos dizer isso ao mundo.
Folha - Está tudo correndo dentro
do calendário ou há atrasos significativos? As críticas têm sido fortes
na imprensa local.
Angelopoulos-Daskalaki - Quando assumi o comitê, um grande
número de projetos estava bastante atrasado. Mas, desde então,
nós aceleramos consideravelmente esse caminho. Durante
uma recente visita a Atenas, o presidente do Comitê Olímpico Internacional, Jacques Rogge, disse
que o progresso é extraordinário e
evidente. Neste momento, tudo
está correndo mais rápido que
nós poderíamos imaginar. Mas
todos sabem que não podemos
esmorecer por um segundo, que
temos que manter e mesmo acelerar o nosso ritmo para que possamos cumprir nossos compromissos com os Jogos e com os testes
que já começam neste ano.
Folha - O futebol brasileiro é pentacampeão do mundo, mas nunca
conquistou a medalha de ouro
olímpica. Há uma grande expectativa para isso em 2004. A presença
da seleção brasileira, talvez com
Ronaldo, poderá ser uma atração à
parte na Olimpíada?
Angelopoulos-Daskalaki - O futebol é o esporte mais popular do
planeta, e qualquer partida envolvendo uma equipe tão talentosa
como o Brasil e um jogador tão
espetacular quanto Ronaldo seria
um grande evento. E os brasileiros que viajarem para acompanhar o futebol poderão se envolver também com as outras competições olímpicas.
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