São Paulo, quinta-feira, 02 de março de 2000


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FUTEBOL
Um cara normal

SONINHA

No fim-de-semana passado, tive a oportunidade de participar de uma entrevista com Ronaldo. Eu e a torcida do Flamengo, eu sei... Meio mundo passou por Teresópolis nesses dias para falar com ele, mas não deixa de ser uma ocasião rara, interessante.
É estranha a sensação de falar com alguém que você conhece bem, mas nunca viu pessoalmente; de chegar perto de uma das pessoas mais famosas do mundo. Eu me lembrei da época da Copa e das imagens de crianças com a camisa 9 da seleção no Paquistão, na Jamaica, no Egito.
Todas o conhecem, admiram, querem um sorriso dele, querem imitá-lo, querem ser ele. E então ele vem andando; aquela imagem tão familiar se mexe, reage, escuta e responde. E parece mais ainda que você já o conhecia, porque tudo nele é familiar e normal.
Não precisa nem alguém ser muito famoso e biliardário para se sentir acima e diferente dos demais. É muito fácil se deslumbrar com fama e poder, seja qual for a escala, e se sentir digno de tratamento especial e reverência.
Sinceramente, não percebi isso em Ronaldo. É verdade, ele se atrasou bastante para a entrevista, o que poderia ser mau sinal; há um vai-e-vem de carros importados em torno dele (até aí..., em qualquer restaurante dos Jardins também); várias pessoas se estabelecem a sua volta, mas não chegam a constituir um séquito.
Claro que ele estava apenas cumprindo um compromisso, e seu comportamento poderia ser só cortesia profissional, mas não acho que ele seja muito diferente entre seus amigos ou entre completos estranhos.
Ele não foi afetado ou arrogante; não parece se achar superior, infalível, um gênio incompreendido. E olha que é alguém que já conheceu o êxtase da glória mundial, bem como o fardo do fracasso imperdoável, imputado por todo um país. Tudo isso, como lembrou o Milton Leite, antes dos 23.

Não sei por que essa história de dizer que agora o Palmeiras é um time solidário; agora é um time que tem a cara do treinador raçudo, brigador, mesmo sendo limitado tecnicamente. Isso é o que sempre disseram dos times do Felipão, inclusive do Palmeiras!
Desde que ele chegou ao Parque Antarctica, só se fala no ""adeus à Academia". Ninguém nunca disse antes que ele trabalhava com talentos. Quando se falava nas estrelas do Palmeiras, essa qualificação se devia muito mais ao preço do passe dos jogadores, ao currículo de cada um ou ao estilo de comportamento fora de campo do que à habilidade deles.
Nunca vi alguém da imprensa dizer que Oséas era um craque, que Paulo Nunes era um dos melhores atacantes do Brasil ou coisa parecida. Não estou discutindo se são ou não, só lembrando que ninguém se referia a eles dessa maneira. O Palmeiras sempre foi o que ""joga feio e chega lá".
A própria torcida vivia pegando no pé deles: um tá gordo, outro é gandaieiro, outro faz corpo mole, ninguém tinha vida fácil. Zinho, por exemplo, que é habilidoso, sempre foi solidário e agora é uma das estrelas que se foram.
Claro, nenhum time vendeu tanto e comprou tão pouco nesse começo de temporada, mas o Palmeiras já tinha um belo estoque. Atacantes, por exemplo, eram uns seis ou sete. Asprilla e Evair eram reservas! Pena, Euller e Edmilson também. Os zagueiros Cléber e Júnior Baiano passaram mais tempo parados do que jogando no segundo semestre, por lesão.
O banco pode estar menos reforçado, só que mais da metade do time continua como estava em 1999: Marcos, Arce, Roque Júnior, Júnior, César Sampaio, Galeano, Rogério, Alex.
Vejo nessa lista uma quantidade razoável de jogadores habilidosos. Junto com Pena e Euller, que não são novidade, com Argel , que ainda não barbarizou (ave!), com o bom Basílio, temos aí um time que não é só ""garra e solidariedade".
Não que essas sejam qualidades desprezíveis para qualquer equipe, muuuuuito pelo contrário.
(Não vi a final do Rio-São Paulo antes de escrever, mas juro que o resultado do jogo não mudaria minha opinião, mesmo que nem o talento nem a raça se manifestassem. Já falei aqui que uma única partida não prova nada, e continuo acreditando nisso).

E-mail soninha.folha@uol.com.br


Sonia Francine, a Soninha, escreve às quintas-feiras







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