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FUTEBOL
Um cara normal
SONINHA
No fim-de-semana passado, tive
a oportunidade de participar de
uma entrevista com Ronaldo. Eu
e a torcida do Flamengo, eu sei...
Meio mundo passou por Teresópolis nesses dias para falar com
ele, mas não deixa de ser uma
ocasião rara, interessante.
É estranha a sensação de falar
com alguém que você conhece
bem, mas nunca viu pessoalmente; de chegar perto de uma das
pessoas mais famosas do mundo.
Eu me lembrei da época da Copa e
das imagens de crianças com a camisa 9 da seleção no Paquistão,
na Jamaica, no Egito.
Todas o conhecem, admiram,
querem um sorriso dele, querem
imitá-lo, querem ser ele. E então
ele vem andando; aquela imagem
tão familiar se mexe, reage, escuta
e responde. E parece mais ainda
que você já o conhecia, porque tudo nele é familiar e normal.
Não precisa nem alguém ser
muito famoso e biliardário para
se sentir acima e diferente dos demais. É muito fácil se deslumbrar
com fama e poder, seja qual for a
escala, e se sentir digno de tratamento especial e reverência.
Sinceramente, não percebi isso
em Ronaldo. É verdade, ele se
atrasou bastante para a entrevista, o que poderia ser mau sinal; há
um vai-e-vem de carros importados em torno dele (até aí..., em
qualquer restaurante dos Jardins
também); várias pessoas se estabelecem a sua volta, mas não chegam a constituir um séquito.
Claro que ele estava apenas
cumprindo um compromisso, e
seu comportamento poderia ser só
cortesia profissional, mas não
acho que ele seja muito diferente
entre seus amigos ou entre completos estranhos.
Ele não foi afetado ou arrogante; não parece se achar superior,
infalível, um gênio incompreendido. E olha que é alguém que já conheceu o êxtase da glória mundial, bem como o fardo do fracasso imperdoável, imputado por todo um país. Tudo isso, como lembrou o Milton Leite, antes dos 23.
Não sei por que essa história de
dizer que agora o Palmeiras é um
time solidário; agora é um time
que tem a cara do treinador raçudo, brigador, mesmo sendo limitado tecnicamente. Isso é o que
sempre disseram dos times do Felipão, inclusive do Palmeiras!
Desde que ele chegou ao Parque
Antarctica, só se fala no ""adeus à
Academia". Ninguém nunca disse antes que ele trabalhava com
talentos. Quando se falava nas estrelas do Palmeiras, essa qualificação se devia muito mais ao preço do passe dos jogadores, ao currículo de cada um ou ao estilo de
comportamento fora de campo
do que à habilidade deles.
Nunca vi alguém da imprensa
dizer que Oséas era um craque,
que Paulo Nunes era um dos melhores atacantes do Brasil ou coisa parecida. Não estou discutindo
se são ou não, só lembrando que
ninguém se referia a eles dessa
maneira. O Palmeiras sempre foi
o que ""joga feio e chega lá".
A própria torcida vivia pegando
no pé deles: um tá gordo, outro é
gandaieiro, outro faz corpo mole,
ninguém tinha vida fácil. Zinho,
por exemplo, que é habilidoso,
sempre foi solidário e agora é
uma das estrelas que se foram.
Claro, nenhum time vendeu
tanto e comprou tão pouco nesse
começo de temporada, mas o Palmeiras já tinha um belo estoque.
Atacantes, por exemplo, eram uns
seis ou sete. Asprilla e Evair eram
reservas! Pena, Euller e Edmilson
também. Os zagueiros Cléber e
Júnior Baiano passaram mais
tempo parados do que jogando
no segundo semestre, por lesão.
O banco pode estar menos reforçado, só que mais da metade
do time continua como estava em
1999: Marcos, Arce, Roque Júnior,
Júnior, César Sampaio, Galeano,
Rogério, Alex.
Vejo nessa lista uma quantidade razoável de jogadores habilidosos. Junto com Pena e Euller,
que não são novidade, com Argel
, que ainda não barbarizou
(ave!), com o bom Basílio, temos
aí um time que não é só ""garra e
solidariedade".
Não que essas sejam qualidades
desprezíveis para qualquer equipe, muuuuuito pelo contrário.
(Não vi a final do Rio-São Paulo antes de escrever, mas juro que
o resultado do jogo não mudaria
minha opinião, mesmo que nem
o talento nem a raça se manifestassem. Já falei aqui que uma
única partida não prova nada, e
continuo acreditando nisso).
E-mail soninha.folha@uol.com.br
Sonia Francine, a Soninha, escreve às quintas-feiras
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