São Paulo, terça-feira, 02 de março de 2004

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FUTEBOL

Frango com chucrute

MARCOS AUGUSTO GONÇALVES
EDITOR DE OPINIÃO

Oliver Kahn talvez tenha contrariado a recomendação de Jorge Benjor e entrado em campo com fome para enfrentar o Real Madrid pela Copa dos Campeões, na semana passada, no estádio Olímpico de Berlim. O esperto compositor popular ensina, numa sábia canção, que "goleiro não pode falhar/ não pode ficar com fome/ na hora de jogar/ senão, um frango aqui, um frango ali, um frango acolá".
A essa altura, mesmo quem não acompanhou a partida já deve ter visto a constrangedora cena, repetida pela mídia mundial, na qual o arqueiro do Bayern aceita um chute perfeitamente defensável de Roberto Carlos em cobrança de falta.
A polêmica que se seguiu, como não poderia deixar de ser, foi se Kahn, afinal, ainda mereceria ser considerado o melhor goleiro do mundo. A meu ver, não.
O título, como se sabe, foi consolidado na Copa passada. Numa votação realizada antes da partida final (o que é um completo absurdo), o gigante germânico ficou com o galardão de melhor jogador do Mundial. A escolha, totalmente duvidosa, mostrou-se ainda mais complicada depois de o goleiro ter "batido roupa" de forma bisonha no lance do gol de Ronaldo. Ainda assim, mesmo que não merecesse ser o melhor jogador da Copa, combinou-se que ele poderia ficar com o epíteto de melhor goleiro do planeta.
Apesar de tudo, também acabei convencendo-me de que isso deveria ser justo, especialmente depois de ouvir o veredicto -de certa forma comprometido, mas inegavelmente qualificado- de Franz Beckembauer. O Kaiser certamente viu incontáveis partidas de Kahn e conhece futebol de sobra para julgar. Infelicidades acontecem e devem ser avaliadas dentro de uma série mais ampla de eventos.
A penosa da última semana, no entanto, acabou com o mito. Se é certo que falhar é humano, o problema de Kahn é que seus erros acontecem -ou pelo menos duas vezes aconteceram- em momentos decisivos. Justamente quando mais se necessitava da segurança que um grande goleiro deve oferecer ao time, ele amarelou.
 
Nem todos devem ter entendido a comemoração de Roberto Carlos imitando um frango depois do gol. Na Europa, frango não é frango. Na Alemanha, segundo me dizem, não nem mesmo uma gíria para essa falha clamorosa.
 
Frangos aconteceram aos montes na história do futebol. Uma verdadeira granja. O mais humilhante é aquele típico, em que a bola escorrega lentamente por entre as pernas do goleiro.
Pouca coisa se compara, entretanto, ao que aconteceu no dia 16 de março de 1964, no Maracanã. Naquela data, o goleiro Valdir, do Vasco, fez algo incrível. A partida era contra o Bangu e a equipe de São Januário vencia por um gol. Num lance normal, ao tentar repor a bola com a mão, Valdir girou o corpo de tal forma que a atirou contra suas próprias redes.

Love x Fabiano
No chatérrimo Paulista em curso, cheio de clubes inexpresivos e jogos fracos, salvam-se alguns rachões com muitos gols e uma ou outra atuação individual de qualidade. Entre elas, é de se destacar as de Vágner Love. Se bem que às vezes meio rebolativo, o atacante palmeirense está confirmando a boa impressão que deixou na conquista da Segundona. No fim de semana, igualou-se na artilharia a Luis Fabiano, o melhor centro-avante do país. A briga pela artilharia é boa e promissora. E um ingrediente que ajuda a animar um pouco o campeonato.

Luxemburgo
Os motivos são vários para a saída de Luxemburgo do Cruzeiro, mas ter que engolir o Guilherme já seria, de fato, mais do que suficiente...

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