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São Paulo, quarta-feira, 02 de abril de 2003

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Vigilância Sanitária ameaça GP Brasil com até R$ 20 mi em multas e cogita mandado de segurança

Governo trabalha em MP para liberar cigarro na F-1

Lalo de Almeida/Folha Imagem
Mecânico e carenagem da Ferrari, em Interlagos, sem a logomarca de seu patrocinador tabagista


FÁBIO SEIXAS
DA REPORTAGEM LOCAL

De um lado, a Anvisa, Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Do outro, o governo federal, os promotores da F-1 no Brasil, a Prefeitura de São Paulo, a Rede Globo, as equipes da categoria e os grupos fabricantes de cigarro.
O conflito já está armado. E vai explodir entre hoje e amanhã, atingindo com força o GP Brasil, neste final de semana, e ameaçando as próximas edições da prova.
No centro de mais uma discussão entre o governo e uma agência reguladora está a lei federal 10.167, de 27 de dezembro de 2000, que proíbe a publicidade de cigarro em carros de corrida desde o dia 1º de janeiro de 2003.
O texto veta "o patrocínio de atividade esportiva" e ainda "a propaganda fixa ou móvel em estádio, pista (...) ou local similar".
Neste ano, cinco das dez equipes da F-1 carregam patrocínios da indústria tabagista: Ferrari, McLaren, BAR, Jordan e Renault.
Aí está o problema. As quatro últimas estão dispostas a treinar a partir de sexta-feira fazendo propaganda de cigarro. Ontem, nos boxes do circuito, seus carros ostentavam os logotipos proibidos.
A Anvisa, agência com independência administrativa, promete aplicar a sua multa máxima, de R$ 2 milhões, a cada uma das partes envolvidas na organização do GP.
A prefeitura paulistana, petista, prepara o contragolpe e já acionou Brasília. A Folha apurou que, à primeira sinalização de problemas, o governo federal derrubará o veto à publicidade tabagista na F-1 com uma medida provisória.
Segundo a assessoria do Ministério do Esporte, "a MP seria a última opção para garantir o GP Brasil". O titular da pasta, Agnelo Queiroz, é companheiro de PC do B da secretária municipal de Esporte, Nádia Campeão, e está escalado para entregar o troféu ao vencedor da prova de domingo.
"Quem descumprir a lei será autuado. A responsabilidade será de todos, prefeitura, Globo, equipes e fabricantes de cigarro", afirmou Ricardo Oliva, diretor da Anvisa.
"A corrida estaria afrontando uma lei conhecida há três anos. Seria uma infração voluntária, objetiva e consciente. Farei questão de aplicar a multa máxima."
A desobediência geraria uma receita de R$ 20 milhões à Anvisa -R$ 8 milhões de quatro equipes, R$ 8 milhões de quatro fabricantes, R$ 2 milhões da prefeitura e mais R$ 2 milhões da Globo.
A Anvisa ainda estuda entrar com um mandado de segurança preventivo, até amanhã, para garantir o cumprimento da lei.
Caso a Justiça acate o pedido, haverá duas saídas para as equipes e organizadores da corrida: cassarem o mandado ou afrontá-lo, sujeitando-se a outra multa.
Elaborada por José Serra, então ministro da Saúde, a lei 10.167 foi promulgada em 2000. Alegando necessidade de se adaptar, a categoria ganhou moratória de dois anos. O prazo expirou em janeiro.
A sanção à publicidade de cigarro ameaça o futuro da F-1 no país. A FIA (entidade máxima do automobilismo) diz que não vai mais realizar GPs em países com legislação antitabagista.
Até ontem, apenas a assessoria da Ferrari estava no autódromo. Nos boxes, os carros eram montados sem a marca da Marlboro.
"Se existe uma lei, temos que obedecê-la", declarou Luca Colajanni, assessor da escuderia.
A Folha procurou a Globo e a prefeitura. Em ambos os casos, foi informada que as pessoas indicadas para comentar o assunto estavam participando de reuniões.
O advogado Ives Gandra da Silva Martins, que estudou o caso a pedido da promoção do GP, mostrou confiança. Em seu parecer, ele defende que a Constituição só prevê restrições, e não proibições, para a propaganda em geral.
"Se multarem, vão perder depois na Justiça. E todas as partes envolvidas poderão pedir ressarcimento dos prejuízos", afirmou.

Colaborou a Sucursal de Brasília


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