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NATAÇÃO
Argentino bate no Rio marca de Anthony Nesty nos 100 m borboleta
Acaba legado do 1º negro a ganhar ouro em Olimpíada
GUILHERME ROSEGUINI
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma das performances mais
antológicas da história da natação
perdeu ontem, no Rio, seu último
resquício de memória.
Durante o segundo dia de finais
do Troféu Brasil, o argentino Jose
Meolans, 24, que defende o Pinheiros, cravou 52s83 nos 100 m
borboleta e melhorou em 17 centésimos o recorde continental do
surinamês Anthony Nesty, obtido
nos Jogos de Seul-1988.
Era a única marca sul-americana em provas individuais que pertencia a um atleta negro. Era, também, o último registro nos livros
de recordes da façanha que arrebatou o mundo há 15 anos.
"Então quebraram meu recorde? Pensei que ninguém se lembrava mais dele. O nome desse
nadador [Meolans] não me é estranho, mas não posso dizer que o
conheço. De qualquer forma,
achei o tempo muito bom", disse
Nesty, ao ser informado do resultado pela Folha ontem à tarde.
"Vim ao Brasil esperando marcar em torno de 53s30, nunca
imaginei fazer abaixo dos 53 segundos do Anthony", confessou
Meolans após o evento.
A surpresa do novo recordista
encontra respaldo no impacto
que a marca de Nesty causou ao
ser lograda. Em 1988, na Coréia
do Sul, ele surpreendeu todos os
espectadores ao vencer os 100 m
borboleta nos Jogos Olímpicos.
Completou a prova em 53s cravados, um centésimo de segundo
à frente do norte-americano Matt
Biondi, um dos mais badalados
nadadores da história. Deixou a
piscina rápido, com pouca vibração. O tempo, à época, figurou como recorde olímpico.
No pódio, ao ouvir o hino do
Suriname, tornou-se o primeiro
atleta negro de toda a história a
conquistar uma medalha de ouro
na natação. E, de quebra, estragou
os ambiciosos planos de seu principal rival norte-americano.
Biondi chegou a Seul proclamando-se candidato a sete medalhas de ouro. Queria igualar o feito do compatriota Mark Spitz, obtida nas piscinas de Munique
(ALE) na Olimpíada de 1972. "Se
eu não tivesse cortado as unhas,
talvez ganhasse os 100 m borboleta", disse Biondi, que terminou
aquela Olimpíada com cinco ouros, uma prata e um bronze.
Na época, Nesty já treinava na
Universidade da Flórida (EUA),
da qual hoje é assistente técnico,
porque seu país dispunha de apenas uma piscina olímpica (50 m) e
dez semi-olímpicas (25 m).
Mas, após os Jogos, com o ouro
em punho, Nesty seguiu para Paranamaribo, capital do Suriname,
e comemorou com os conterrâneos. Foi presenteado com um
montante de dinheiro arrecadado
entre os 380 mil habitantes do
país e enriquecido com uma verba oficial do governo.
O maior estádio da cidade recebeu seu nome, e uma série comemorativa de selos foi emitida.
No ano passado, o ex-atleta visitou o Brasil pela primeira vez. Ele
foi convidado pela Federação
Aquática Paulista para promover
o 1º Torneio Afro-Brasileiro, torneio que buscou aproximar a população negra da natação.
"Ainda não sei como essa marca
dos 100 m borboleta durou tanto.
Acho que era muito forte para a
época. Mas já faz tanto tempo que
tudo aquilo aconteceu, é difícil recordar e achar explicações."
A memória de Anthony Conrad
Nesty, 34, já começa a falhar, ao
mesmo tempo em que os últimos
vestígios de suas braçadas na piscinas começam a desaparecer.
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