São Paulo, domingo, 02 de maio de 2004

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FUTEBOL

Em palestra, ex-dirigente diz que faltou "chantilly" para Paulista-2004

Farah afirma que sua saída da FPF foi culpa da Globo

Juca Varella - 27.abr.04/Folha Imagem
O ex-presidente da Federação Paulista de Futebol Eduardo José Farah, durante palestra gratuita para empresários em São Paulo


JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO
DA REPORTAGEM LOCAL

"Tirei a Globo do campo, ela me tirou da federação." Em palestra para empresários de São Paulo, foi essa a explicação de Eduardo José Farah para seu afastamento da FPF após 15 anos como presidente da entidade (1988-2003).
O ex-dirigente, que completou 70 anos ontem, culpa a emissora por sua saída de cena.
""Eles me convenceram a fortalecer a Liga [Rio-SP], voltaram atrás e abandonaram o projeto. Daí fecharam com a CBF um Brasileiro mais longo e quase mataram os Estaduais", disse Farah.
Marcelo Campos Pinto, diretor da Globo Esportes, refuta as declarações do cartola. Para ele, ""a Globo não tem esse poder". ""Se tivesse, muita coisa já teria mudado no futebol. O Brasileiro [por exemplo] teria mata-mata, sistema de disputa mais atraente que o dos pontos corridos", afirmou.
O executivo da Globo também considera injusto o ex-dirigente dizer que a emissora acabou com os regionais, embora tenha desistido de incentivá-los por achar o projeto caro demais.
E disse ainda que ""Farah não nos tirou do campo". ""Tanto que vencemos na Justiça, transmitimos o Paulista e continuamos com a prioridade de renovação para o campeonato de 2004."
Campos Pinto se referia a imbróglio pelos direitos de TV do Estadual. Cláusula no contrato do Paulista-02 previa o direito de preferência da emissora pelo torneio de 2003. Como a FPF insistia que a Globo não se manifestara, Farah assinou com o SBT. O caso foi parar na Justiça, e as duas acabaram transmitindo o Estadual.
Na conversa com integrantes da Corpes -Corporação de Estudos Sociais-, grupo de 50 empresários e profissionais liberais de São Paulo, Farah também alfinetou Marco Polo Del Nero, seu sucessor na presidência da federação.
""A dona-de-casa, quando faz um bolo, tem que colocar um recheio, um chantilly... Com ele, [Del Nero] é a mesma coisa, deveria ter valorizado o produto que tinha, mas deu nota 5,5 [para o Paulista] e, depois, se arrependeu. Se fosse eu, teria dado nove", afirmou, tirando risos da platéia.
O atual presidente da FPF, no entanto, nega que tenha se arrependido dos 5,5. ""Tenho autocrítica e não sou mentiroso", afirmou Del Nero, por intermédio de sua assessoria de imprensa.
O regulamento do torneio, que previa que os vencedores dos dois grupos da primeira fase se enfrentariam nas semifinais, e não na decisão, foi outro ponto que recebeu críticas de Farah. ""Copiar [regulamentos anteriores] não é feio, mas copiar mal é horrível."
Durante o Paulista, a federação justificou o cruzamento com o argumento de que havia sido aprovado em assembléia pelos clubes.
Mas não foi só sobre a Globo e a gestão de Del Nero que Farah teceu comentários. Durante cerca de duas horas, o ex-dirigente opinou sobre tudo, desde noitadas de jogadores -""Vágner Love tem direito de sair à noite"- até a administração Marta Suplicy -""a loira que parou São Paulo".
Indagado por um empresário se, diante do fracasso do público do Paulista-04, cuja média foi de 4.263 pagantes por jogo, não seria melhor abrir os portões dos estádios, respondeu: ""Se liberarmos a entrada, a torcida leva tudo, desde as privadas dos banheiros até as redes e as traves do campo".
Sobre os dirigentes brasileiros, elogiou Mustafá Contursi, do Palmeiras, mas disse achar que Alberto Dualib já deveria ter deixado a presidência do Corinthians.
""O Mustafá pecou em apenas um ano de sua gestão [em 2002, quando o time foi rebaixado para a Série B do Brasileiro], os outros dez [anos] foram muito bons."
Já Dualib, acredita, deveria pensar em passar o bastão para a frente, especialmente devido à difícil situação que o Corinthians vive em campo. ""Ele é um homem de quase 85 anos, que segue trabalhando, não vale a pena manchar toda uma administração, com as conquistas que teve, por uma fase complicada como a atual."
A curto prazo, com o time que tem, Farah não acredita que a situação corintiana vá melhorar, mas a médio e longo prazo mostra otimismo. ""A dívida do Corinthians é de R$ 40 milhões, perto do Real Madrid, que deve US$ 500 milhões, não é nada."

Colaborou Fernando Mello, do Painel FC

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