São Paulo, domingo, 02 de maio de 2004

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FUTEBOL

Campeão do mundo, não da América

RODRIGO BUENO
DA REPORTAGEM LOCAL

Quando o Corinthians venceu o Mundial de Clubes da Fifa muitos colocaram em xeque o valor dessa conquista porque o time do Parque São Jorge nunca obteve título continental. Se não venceu a Libertadores, como poderia ser o campeão do planeta?
Os que usam esse argumento para menosprezar a maior glória corintiana talvez tenham que repensar a questão neste ano. Santos e São Paulo, os únicos brasileiros bicampeões mundiais, não estão tão longe de um tricampeonato que, pela configuração da Libertadores e pelas ""zebras" na Europa, pode soar estranho.
O regulamento do principal interclubes do continente proíbe que um time mexicano represente a América do Sul no Mundial interclubes, que nesta temporada deve acontecer no dia 12 de dezembro em Yokohama, no Japão.
Pois bem. O mexicano América é um dos mais fortes candidatos ao título. O Santos Laguna, seu conterrâneo, corre por fora, mas também não pode ser desmerecido (levou a melhor nos duelos diretos com o Cruzeiro, atual campeão brasileiro, na primeira fase).
Ambos estão no lado mais forte da chave do mata-mata, mas não seria loucura apontar até uma semifinal mexicana. Santos e São Paulo, por sua vez, têm caminho mais suave até a semifinal, quando podem se enfrentar. Esse hipotético confronto garantiria um time brasileiro na final da Libertadores e, como trato aqui, possivelmente no Mundial interclubes.
Agora imagine como seria para santistas ou são-paulinos perder a final da Libertadores para o América e vencer depois o La Coruña no Mundial interclubes, nos pênaltis, após empate sem gols (creio que haveria festa, mas os corintianos poderão dizer que o campeão mundial não venceu a competição continental e que não houve brilho nessa conquista).
O Deportivo, sem grandes estrelas, segurou o Porto fora de casa em um 0 a 0, placar que deu o tom nas semifinais da Copa da Uefa, aliás. Pode até ser que o time galego caia no jogo de volta, mas ele é um bom exemplo de adversário que difere bastante do Benfica de 1962, do Milan de 1963, do Barcelona de 1992 e do Milan de 1993.
O nobre interclubes europeu já ficou marcado nesta temporada pelas incríveis derrocadas dos supertimes de Real Madrid e Milan (o Arsenal também tem seus galácticos, mas não foi eliminado de forma estrondosa). O campeão europeu deste ano, seja qual for, não terá favoritismo claro contra o representante da Conmebol na tradicional partida no Japão, fato bem raro nos últimos 15 anos.
Focando de novo a Libertadores, que vê nos próximos dias o início das oitavas-de-final, há uma figura tão estranha quanto poderosa entre os postulantes ao título. O São Caetano é o único dos 16 que nunca foi campeão nacional. Pode ser campeão continental e mundial sem uma taça do principal torneio de seu país.
A Europa já desvirtuou sua Copa dos Campeões há alguns anos. Antes, só quem era campeão disputava. Agora é tão aberta que quase o Bayer Leverkusen, ""virgem" em título alemão, ganhou.
Está cada vez mais fácil para os clubes pular etapas no mundo.

Campeão da Inglaterra, não da Europa
O Arsenal segue como o mais tradicional time europeu a não ter ganho a Copa dos Campeões, mas o título inglês desta temporada deverá ter valor incalculável se a taça for conquistada de forma invicta (o time empatou ontem). A Premier League divulga com pompa seus números, vendendo-se como o campeonato nacional que reúne o maior número de atletas estrangeiros de qualidade. São 315 ""gringos" (59% do total), sendo que 85 atuaram na Copa-2002 (15% dos que jogaram o torneio). São 58 os países com representantes na liga.

Campeão da Europa, não de seu país
O Porto é o único semifinalista da Champions League que entrou nela como campeão nacional. Chelsea, La Coruña e Monaco podem ser campeões europeus vendo a taça nacional de novo com outro.


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