São Paulo, sexta-feira, 02 de maio de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Foco

"Estrela" da comissão técnica da seleção de 1958 morre aos 84 anos no Rio

DA REPORTAGEM LOCAL

Uma leitura superficial das páginas esportivas dos jornais de 1958 não deixa dúvida: Paulo Amaral era "o cara" na comissão técnica da seleção brasileira, que conquistaria, em 29 de junho daquele ano, a Copa da Suécia.
Primeiro especialista em preparação física da história da seleção, Amaral morreu ontem aos 84 anos, em sua casa em Copacabana, no Rio. Ele enfrentava um câncer havia mais de cinco anos, e sua situação se agravou nas últimas semanas. O enterro, ontem, reuniu cerca de 50 pessoas no cemitério do Caju, zona norte da cidade. Paula Amaral, 44, sua única filha, lembrou histórias do pai.
Carioca, formou-se na Escola de Educação Física e Desportos em 1953, ano em que começou no Botafogo.
"A preparação física era feita de forma simples, como se fosse um aquecimento. Nos clubes e na seleção, os técnicos eram também preparadores. Fui o primeiro formado em uma faculdade", lembrou, em entrevista publicada pelo site da CBF em 2006.
Paulo Amaral chegou à seleção brasileira em 1958, a convite do presidente da então CBD, João Havelange. Pela primeira vez o Brasil investia na formação de uma comissão com profissionais especializados -além do preparador, destacavam-se um dentista e até um psicólogo.
Os treinamentos comandados por Amaral na fase de preparação da seleção para o Mundial sueco impressionavam pela duração -e ainda mais pela inclemência.
Apesar disso, cativou os jogadores ao impor estilo profissional e sem privilégios. A ponto de transformar o técnico Vicente Feola praticamente num coadjuvante.
Por dias, os jornais gastaram linhas e linhas relatando os métodos do "durão" Paulo Amaral, que punha os jogadores para fazer coisas nunca antes vistas, como saltar simulando cabeceios.
Presente ao enterro, Humberto Torgado, 62, ex-goleiro do Vasco, 62, confirma a fama de Amaral. "Treinávamos até debaixo de chuva e à noite, como preparação para as partidas noturnas", disse.
Carismático, fez sucesso na Suécia pela simpatia com a qual tratava os torcedores nas atividades da seleção. "As crianças me adoravam. Eu não conseguia ficar parado e, depois dos treinos, dava preparação física para eles, que se divertiam muito", relembrou o preparador em 2006.
Amaral -que também esteve na comissão técnica bicampeã do mundo quatro anos mais tarde, no Chile- foi também um técnico de sucesso. Nos aspirantes do Botafogo, ganhou 52 jogos seguidos. Dirigiu Juventus e Genoa (ITA) e Porto (POR).
"Paulo merecia mais atenção. Ele fez muito e recebeu muito pouco. Uma homenagem no Maracanã é o mínimo que ele tinha que receber", sintetizou Amarildo, 69, bicampeão mundial em 1962.


Colaborou a Sucursal do Rio


Texto Anterior: Clone: Herói da goleada quer ser "2º Rincón"
Próximo Texto: São Paulo: Borges diz estar de "saco cheio" e faz desabafo
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.