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Rio recolhe os sem-teto antes de comitiva passar
Funcionário da prefeitura diz que ação foi motivada pela visita do comitê olímpico
Folha flagra moradores de rua sendo levados de locais próximos de onde passou equipe do COI que avalia o Rio, candidato aos Jogos-16
SÉRGIO RANGEL
SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO
A Prefeitura do Rio recolheu
os sem-teto que ficavam pelo
trajeto em que a comitiva da
Comissão de Avaliação do COI
(Comitê Olímpico Internacional) passaria ontem.
Funcionários da Secretaria
Municipal de Assistência Social
retiraram dezenas de moradores de rua de pelo menos três
pontos do Rio, de manhã e à
tarde: o Centro, o aterro do Flamengo e o Maracanã.
Por essas áreas passaram os
comissários do COI que avaliam a capital fluminense, candidata a sede dos Jogos-2016.
O relatório da comissão deve
ficar pronto até 2 de setembro.
A votação do COI é em 2 de outubro. Devem votar 98 cartolas
do comitê no primeiro escrutínio. O Rio é finalista da disputa,
como Madri, Tóquio e Chicago.
Por volta das 13h30, a Folha
flagrou ação dos servidores na
avenida Calógeras, na região
central. Um homem, que não
quis se identificar, vestindo colete com a sigla SMAS (Secretaria Municipal de Assistência
Social), comandou a operação.
De luvas, ele autorizava três
seguranças e um guarda municipal a levar os mendigos para
um ônibus da viação Realtur.
Os seguranças não davam informações aos abordados. Apenas apontavam para a condução. Nove moradores de rua foram levados. Apenas um resistiu. Ele foi colocado no ônibus
com violência. Dois seguranças
o levantaram do chão e o atiraram porta adentro.
À reportagem o chefe da ação
declarou que a orientação recebida foi a de retirar os mendigos das ruas por causa da visita
do pessoal do comitê olímpico.
A prefeitura informou, por
meio de sua assessoria de imprensa, que a retirada dos sem-
-teto "é um trabalho rotineiro".
Segundo a assessoria, todos são
levados para hotéis alugados
pelo município.
Apesar da ação, a avenida foi
novamente ocupada por moradores de rua após a saída do
ônibus. Dez minutos depois,
sete outros já ocupavam a calçada da Calógeras, que ficou
vazia durante o feriado.
Da avenida, a equipe da secretaria seguiu para o aterro do
Flamengo, via expressa que liga o Centro a bairros da zona
sul. O ônibus já trazia outros
moradores de rua antes mesmo
de chegar à Calógeras.
A comitiva do COI passou
pela área à tarde, quando visitou a Marina da Glória, onde
ocorrerão provas de vela se o
Rio for sede da Olimpíada.
O diretor de marketing do
Comitê Olímpico Brasileiro,
Leonardo Gryner, disse que a
entidade não teve envolvimento com a retirada dos sem-teto
e que, se ela ocorrera naquela
região central, não poderia ter
relação com o COI.
"A comitiva não passa ali",
afirmou ele, referindo-se ao
trecho da avenida vizinho ao
Consulado dos EUA, onde os
moradores de rua estavam alojados sob marquises. O ponto
fica a 150 metros do aterro.
Reduto todos os dias de mendigos, que habitam as áreas
protegidas por passarelas e bilheterias, o entorno do Maracanã estava deserto ontem.
O estádio foi visitado pelo
COI à tarde. Os vigilantes dos
portões declararam que um
grupo de sem-teto que dormitava de manhã próximo à linha
férrea havia sido levado em um
ônibus da prefeitura.
Na quarta, o Comitê Olímpico Brasileiro apresentou aos
enviados do comitê olímpico
um filmete de cinco minutos e
fotos aéreas que mostram um
Rio sem favelas nas áreas vizinhas aos locais em que competições poderão ser disputadas.
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