São Paulo, domingo, 02 de maio de 2010

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JUCA KFOURI

Ronaldo e a crítica


Como é frequente, o Fenômeno não gosta de ser criticado e, em regra, só fala com..., bem..., os amigos


RONALDO É refratário às críticas. E o jornalista está convencido de que são as críticas que o fazem reagir.
Como no ano passado, em mais um retorno bem-sucedido, coroado por dois títulos no Corinthians que o fizeram dizer que o sacrifício já tinha valido a pena, mesmo que ainda quisesse mais.
Esse mais era a Copa do Mundo, que não o terá e, ao que tudo indica, acabou por ser a responsável pelo momento lamentável que ele vive, descontados os problemas familiares e de saúde que a vida de popstar sempre acarreta.
Ronaldo fecha a cara e acha que certos detalhes são particulares e interessam só a ele e aos seus mais próximos, o que seria verdade se ele estivesse desempenhando bem o seu papel público.
Com a tranquilidade de quem, antes da Copa da Alemanha, aqui, no dia 12 de março de 2006, escreveu coluna cujo título era "Eu acredito em Ronaldos", volto ao tema que, durante aquela Copa, mereceu outra coluna, mas com apelo a Carlos Alberto Parreira para que este preservasse a imagem de Ronaldo e não o expusesse ao vexame de o mundo vê-lo tropeçar na bola e cair de bunda no campo. Como, aliás, ocorreu.
Então, no dia 14 de junho, sob o título "Dá nele, bola!", escrevi: "Deu dó de Ronaldo. Quando, aos 69, Robinho entrou , a maior diferença foi a de que, enfim, a seleção passou a ter 11 jogadores em campo. Porque até aí eram dez, quase nove, pois Adriano também não rendia.
E este talvez tenha sido o maior mérito da seleção. Ter vencido a Croácia jogando com dez, quase nove. Até por sensibilidade, Parreira deve poupar o Fenômeno, preservar seu enorme nome. Porque foi torturante vê-lo como um peso-pesado cambaleante, vagando pelo gramado, como se nada que tivesse acontecendo em volta fosse com ele.
Matar uma simples bola parecia um sacrifício hercúleo, algo assim como nunca vi em um campeão indiscutível como ele". Qualquer semelhança com os dias atuais não é mera coincidência.
Parreira não só não ouviu o apelo como xingou meio mundo ao ver Ronaldo fazer o gol que valeu o recorde da artilharia nas Copas. O final da história todos conhecemos, embora seja justo reconhecer que Ronaldo, contra a França, no jogo que eliminou a seleção brasileira, foi dos poucos que ainda tentaram alguma coisa.
Mas Mano Menezes está diante do mesmo dilema que Parreira e até já respondeu que manterá o centroavante como titular.
É compreensível, não só pelo que, potencialmente, sempre, e cada vez mais, potencialmente, Ronaldo pode fazer, como porque, essencialmente, Ronaldo paga parte do salário de seu técnico. E esta é a sinuca de bico em que Mano Menezes e o Corinthians estão metidos: Ronaldo é sócio.
Ou ele mesmo toma a iniciativa, fruto de uma necessária autocrítica, ou ninguém o tira do time. Daí mais esta crítica, de quem aprendeu a não duvidar dele, mas, também, está convencido de que ele só se move para calar seus críticos.
Que gostam dele, apesar de ele não achar. E não querem vê-lo desmoralizado no fim da carreira. Que chegou, inexorável.

blogdojuca@uol.com.br


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