São Paulo, domingo, 2 de maio de 1999

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TÊNIS
Suíça Patty Schnyder, 10ª colocada no ranking mundial, tem carreira conturbada por relacionamento polêmico
Paixão por curandeiro ameaça 'top ten'

da Reportagem Local

Patty Schnyder, 20, décima colocada no ranking mundial, US$ 1,36 milhão em premiações na carreira, não computados os contratos de patrocínio.
Desde o início do ano, entretanto, a revelação do tênis suíço, que conquistou seu espaço sem ser ofuscada pela compatriota Martina Hingis, é o centro de uma história estranha e, para muitos, triste.
Despediu seu técnico de vários anos, o holandês Eric van Harpen, deixou a casa da família e o país, passando a viver na Sardenha, Itália, induzida por seu guru, um alemão que também deixou o próprio país -onde está sendo investigado por suspeita de homicídio.
Nesta semana, Patty Schnyder corre o risco de perder seu principal patrocinador -e último que ainda não a deixou, por causa do guru-, a marca de material esportivo Adidas, da qual recebe US$ 200 mil anuais.
"Há certos compromissos nos contratos, como comportamento e cuidado com a imagem, que Patty vem desrespeitando desde que passou a priorizar o novo namorado", afirmou Töns Hartmann, manager da tenista, à Folha, referindo-se a Reiner Harnecker, 42.
O homem se diz médico, sem ter concluído a escola de medicina, age como curandeiro, anunciando, entre outras qualidades milagrosas, o poder de curar câncer com suco de laranja -as frutas têm de ser espremidas na hora.
Segundo a revista alemã "Der Spiegel", a Procuradoria de Kemtem, na Alemanha, está investigando a possibilidade de Harnecker ter levado à morte, há alguns anos, naquela cidade, uma pessoa que acreditou em seus métodos e acabou com câncer generalizado.
Como parte do tratamento, agulhas que causavam ferimentos feios nos pacientes também chamavam atenção.
Harnecker foi apresentado à Schnyder, por meio do ex-fisioterapeuta da tenista Fireder Schömezler, em dezembro, quando ela treinava em Mallorca, Espanha, com outras jovens jogadoras.
Aproveitando a ausência do técnico Van Harpen, o alemão teria "encantado" as garotas com eloquência. Apresentou-lhes uma dieta à base de suco de laranja, espaguete e arroz secos, com a qual teria curado pacientes com câncer. Nunca disse quem nem quantos.
Schnyder, segundo a "Der Spiegel", teria sido das que mais demorou para cair em sua conversa. Mas, uma vez envolvida, é a única que ainda não se livrou dele.
Atualmente, ela toma cinco litros de suco de laranja por dia e só come legumes, vegetais e cereais. Ex-gordinha, a tenista aparenta ter perdido vários quilos e também adotou horários de treino estranhos, como após as 11h da noite.
No momento, ela está sem treinador, já que Harnecker nunca trabalhou com tênis na vida.
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Série de problemas Era janeiro quando Schnyder exigiu levar Reiner Harnecker para a Austrália. Perdeu na segunda rodada do primeiro Grand Slam do ano, para a francesa Amelie Mauresmo, e despediu Van Harpen. Também cortou relações com os pais, que condenaram a atitude.
Desde então, não voltou mais para a Suíça. Foi jogar na Alemanha e depois nos EUA. "Ela precisava do passaporte para ir para a Califórnia e acabou tirando um novo, na embaixada suíça em Bonn, para não ter que ir buscar o seu em casa", conta Nick Gast, jornalista suíço que acompanha a jogadora.
Nos EUA, Patty obteve bons resultados, como a semifinal em Hilton Head e as quartas-de-final em Amelia Island. Foi eliminada, nos dois torneios, pela russa Anna Kournikova, a quem teria chamado de estúpida, o que causou mal estar com a Adidas, também patrocinadora de Kournikova.
O primeiro problema com patrocinador, no entanto, aconteceu com a marca suíça de softwares Asetra, que rompeu o contrato com a tenista depois de ver seu nome ligado a episódios nada positivos fora das quadras de tênis.
No último mês, por não ter participado da Fed Cup, a versão feminina da Copa Davis, contra a Eslováquia, ela perdeu os apoios das também empresas suíças Amag, que vende carros, e Crossair, companhia aérea. A marca internacional Triumph, de roupas íntimas, é outra que suspendeu o contrato.
Em um fax à Federação Suíça de Tênis, Schnyder justificou sua ausência na Fed Cup, após ter sido esperada sem dar notícias por alguns dias, pois não queria jogar sob a orientação do ex-técnico Van Harpen, capitão da equipe suíça.
"Continuo mostrando meu potencial, e os resultados são bons, como antes. É muito estranho, deixa-me triste", disse a tenista, sobre a perda de patrocínios, há cerca de dez dias, no Torneio do Cairo, Egito -onde foi às quartas-de-final.
Para Rene Stauffer, do jornal "Tagnes Anzeiger", de Zurique, que esteve com Schnyder no Cairo, a tenista começa a admitir que não tem agido da melhor forma, mas ainda está apaixonada pelo guru.
"Em Hannover, no início do ano, ela parecia um brinquedo manipulado. Agora, já conversa, mas com um jeito de quem não está ligando, pois saberia tudo o que precisa sobre Harnecker", disse Stauffer.
Segundo ele, a tenista chegou a dizer que iria ver a mãe, na Suíça, mas acabou desistindo da viagem, porque estava com febre alta.
No Torneio de Hamburgo, que termina hoje, Schnyder foi às semifinais em 1998. Ela recusou-se a participar desta edição, pois não queria "ficar diante de 40 jornalistas que só querem especular sobre sua vida particular". Se conseguiu evitar esse assédio, deve se preparar para, a partir de amanhã, ser importunada, em Roma. (FeP)



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