São Paulo, domingo, 02 de junho de 2002

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Homem de ferro

France Presse
O ala direito Cafu faz alongamento durante treino da seleção na Coréia do Sul


Quando Cafu pisar amanhã no gramado para enfrentar a Turquia, poderá pedir sua inscrição no "Guinness Book", o livro dos recordes. Mais de 11 anos após sua estréia na seleção, o lateral e hoje ala pela direita vestirá a camisa amarela pela 114ª vez e se igualará a Taffarel como o homem que mais defendeu o país em partidas oficiais na história. Dono de uma galeria de troféus que inclui três títulos mundiais (dois pelo São Paulo e um pela seleção), Cafu fará sua terceira Copa. Um verdadeiro "homem de ferro".

DOS ENVIADOS A ULSAN
E DO ENVIADO A YOKOHAMA

Naquele 12 de setembro de 1990, Cafu estreou na seleção, saiu de campo substituído por Paulo Egídio e derrotado pela Espanha por 3 a 0. Não se podia imaginar que, daquele amistoso, sairia o atleta que mais disputou jogos oficiais na história do time nacional.
Chamado pelo técnico Paulo Roberto Falcão, jogou na ponta direita. Com só 20 anos, não ostentava em sua galeria de troféus o bicampeonato mundial interclubes, a Libertadores (93 e 94) e o Brasileiro (91), pelo São Paulo.
Não tinha passado pelo arqui-rival Palmeiras, onde participou do invicto time de mais de cem gols no Paulista-96. E nem sequer tinha experiência internacional, adquirida em uma temporada no Zaragoza (Espanha) e, desde 1997, na Roma, onde ganhou o cobiçado scudetto em 2000/2001.
Amanhã cedo, no estádio Munsu, o lateral de 31 anos igualará a marca do goleiro Taffarel, como ele tetracampeão mundial nos Estados Unidos, em 1994.
Se não se machucar e disputar a partida contra a China, no dia 8, Cafu, conhecido por seu fôlego e capacidade física, se isolará como o mais veterano jogador da seleção, com 115 jogos oficiais.
Mais: se o time de Luiz Felipe Scolari chegar a Yokohama, em 30 de junho, será o único atleta na história do futebol a ter disputado três finais de Copas.
Em 1994, seu primeiro Mundial, Cafu começou na reserva. Tinha no time titular o já consagrado Jorginho. Em solo norte-americano, jogou três vezes: nas oitavas-de-final, contra os EUA, nas quartas-de-final, contra a Holanda, e na final, contra a Itália.
Depois do título mundial e da saída de Jorginho, Cafu virou soberano na lateral direita. Foi chamado por Zagallo, Luxemburgo, Candinho (que comandou a seleção em apenas um jogo), Leão e Scolari. Nenhum técnico que assumiu depois da conquista nos EUA deixou de convocá-lo para torneios de primeira linha.
De lá para cá, quando o time nacional entra em campo, o torcedor já sabe: Cafu estará com a camisa 2. Há oito anos, ninguém faz sombra para o jogador. Hoje, apesar das deficiência defensivas (apontadas pelo próprio técnico), segue intocável no setor.
Na única partida importante em que Cafu não pôde estar em campo, nas semifinais da Copa de 1998, contra a Holanda, o são-paulino Zé Carlos não foi bem.
Enquanto na lateral esquerda brotam jovens talentos a toda hora, do outro lado há só aridez. O reserva de Cafu na Ásia, Belletti, chegou a amargar o banco em seu clube pouco antes da convocação. E, a menos que o titular se contunda, será desse lugar que o são-paulino verá a Copa-2002.
Mesmo com toda a história na seleção, Cafu nunca foi tratado como estrela. Nas entrevistas, é bem menos procurado do que seus colegas Ronaldo, Rivaldo, Roberto Carlos ou Ronaldinho.
Capitão por muito tempo devido a sua longevidade na seleção, o lateral, hoje na posição de ala, perdeu o posto para o volante Emerson, queridinho do técnico.
Ele, no entanto, diz não se incomodar com isso. "O importante é o grupo. Minha vontade é ser campeão do mundo, sentir de novo o gosto que experimentei em 1994 e apagar aquela derrota contra a França em 1998", afirma.
Evitou com isso repetir a postura do meia Leonardo, que abandonou a equipe nacional na Copa América de 1999 porque, entre outros motivos, perdeu a tarja de capitão para Cafu.
Questionado sobre os recordes que pode bater, sorri. "Isso é fruto de um trabalho sério e está acontecendo por mérito meu. Quero muito comemorar os recordes. De preferência, com mais uma estrela no peito, levantando o caneco", diz ele, autor de cinco gols com a camisa canarinho, após o último coletivo antes do jogo contra a Turquia. (FÁBIO VICTOR, FERNANDO MELLO, JOSÉ ALBERTO BOMBIG, RODRIGO BUENO E SÉRGIO RANGEL)


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