São Paulo, sexta-feira, 02 de junho de 2006

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Sem conseguir dormir, enfermeira conta nos dedos dias para o adeus

DO ENVIADO A WEGGIS

O repórter toca a campainha do sobrado em estilo alpino ao lado do campo onde treina a seleção. São 10h30 em Weggis, e os jogadores se exercitam a todo o vapor ali ao lado. Toca uma, duas vezes. Só na terceira surge Jacqueline Wild na janela.
Está de roupão, com cara de arrasada. Desce para atender e explica tudo. É enfermeira, passou a noite anterior trabalhando e só voltou de manhã. Até que tentou dormir, mas logo começou a movimentação dos torcedores. São mais de 5.000 pessoas na Thermoplan Arena, e a arquibancada principal está a uns 20 metros do quarto dela; o campo, a cerca de uns 30 metros.
"É impossível pegar no sono assim. Consegui dormir por duas horas, mas depois tornou-se impraticável", conta, resignada.
Vive esse martírio há dez dias. "Estou contando nos dedos os dias para acabar e eu finalmente conseguir dormir em paz."
Quando o miniestádio foi planejado, ela conta, os administradores procuraram a família para informar que haveria mudanças na rotina da região e pedir a compreensão dela, do marido (o agrônomo Buholzer Xaver) e do filho (Manuel, 8 anos). Não foi bem uma consulta, mas quase um comunicado.
"Pediram de um jeito que não dava para negar", relata a enfermeira, que trabalha numa casa de repouso transmutada em hotel para abrigar uma equipe de TV brasileira -ela agora acumula as funções originais com as de camareira, garçonete etc.
A insônia involuntária não é o único pesadelo dos Wild. A estrada que passa em frente à casa deles foi bloqueada para dar lugar à arquibancada, o que obriga a pegar caminhos mais longos.
Indenização não houve alguma, ou melhor, quase nenhuma. A família recebeu dois ingressos para ver a seleção. Nem deu bola. "Dei de presente a uma amiga. Já vi Ronaldinho passar num ônibus, isso me basta."
Manuel, o filho, até gosta de futebol, mas não precisou do tíquete. Vai amanhã ao treino numa excursão da escola. (FV)

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