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Sem conseguir dormir, enfermeira conta nos
dedos dias para o adeus
DO ENVIADO A WEGGIS
O repórter toca a campainha do sobrado em estilo alpino ao lado do campo onde
treina a seleção. São 10h30
em Weggis, e os jogadores se
exercitam a todo o vapor ali
ao lado. Toca uma, duas vezes. Só na terceira surge Jacqueline Wild na janela.
Está de roupão, com cara
de arrasada. Desce para
atender e explica tudo. É enfermeira, passou a noite anterior trabalhando e só voltou de manhã. Até que tentou dormir, mas logo começou a movimentação dos torcedores. São mais de 5.000
pessoas na Thermoplan Arena, e a arquibancada principal está a uns 20 metros do
quarto dela; o campo, a cerca
de uns 30 metros.
"É impossível pegar no sono assim. Consegui dormir
por duas horas, mas depois
tornou-se impraticável",
conta, resignada.
Vive esse martírio há dez
dias. "Estou contando nos
dedos os dias para acabar e
eu finalmente conseguir
dormir em paz."
Quando o miniestádio foi
planejado, ela conta, os administradores procuraram a
família para informar que
haveria mudanças na rotina
da região e pedir a compreensão dela, do marido (o
agrônomo Buholzer Xaver) e
do filho (Manuel, 8 anos).
Não foi bem uma consulta,
mas quase um comunicado.
"Pediram de um jeito que
não dava para negar", relata
a enfermeira, que trabalha
numa casa de repouso transmutada em hotel para abrigar
uma equipe de TV brasileira
-ela agora acumula as funções
originais com as de camareira,
garçonete etc.
A insônia involuntária não é o
único pesadelo dos Wild. A estrada que passa em frente à casa
deles foi bloqueada para dar lugar à arquibancada, o que obriga
a pegar caminhos mais longos.
Indenização não houve alguma, ou melhor, quase nenhuma.
A família recebeu dois ingressos
para ver a seleção. Nem deu bola. "Dei de presente a uma amiga. Já vi Ronaldinho passar
num ônibus, isso me basta."
Manuel, o filho, até gosta de
futebol, mas não precisou do tíquete. Vai amanhã ao treino numa excursão da escola.
(FV)
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