São Paulo, sexta-feira, 02 de junho de 2006

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FÁBIO SEIXAS

Blecaute

Não se pode ignorar o que Schumacher tem a dizer, assim como é errado afirmar que ele foi punido sem provas

NICE, FRANÇA, segunda-feira. Um café expresso, o principal jornal esportivo italiano e o mais bem-acabado diário inglês. Primeiro, a "Gazzetta dello Sport". Nas páginas rosas, manchete para o escândalo no futebol, destaque para o fim da Volta da Itália, chamada para a F-1: "Alonso rei, Schumi show". E um artigo, "Fórmula suspeita", assinado por Umberto Zapelloni, velho colega de paddocks por aí. E que, por sinal, não esteve em Mônaco. Para ele, Schumacher foi "condenado sem provas". Escreve que "no direito, em caso de dúvida, o réu é absolvido; na F-1, é condenado, naturalmente com a pena máxima". Brada que não se pode punir ninguém por "achar que cometeu propositalmente um delito " e que o caso pode abrir um precedente grave. Um gole no café e o "Guardian". Foto do papa em Auschwitz, o número atualizado das mortes em Java, a nota curiosa sobre um alpinista australiano tido como morto no Everest e encontrado dias depois, sem camisa, delirando. Acreditava estar num navio. Dentro, um longo artigo, "Schumacher mostra sua habilidade suprema, mas a mancha é indelével". O autor, Richard Wil-liams. Que, sim, foi ao principado. O inglês classifica a manobra no treino de sábado de "a mais espalhafatosa trapaça já cometida por um esportista desse porte". Mas logo volta atrás e aponta, sim, um paralelo. "Foi como ver aquele desesperado Tyson arrancar com os dentes um pedaço da orelha de Holyfield". Traduzido em papel e tinta, era esse o cenário na sala de imprensa, no sábado, durante as sete horas e meia de investigações. Italianos atônitos, ingleses sentindo cheiro de sangue. A certa altura, 22h30, por aí, Schumacher resolve falar. Aviso um inglês. "Não me interessa o que esse pulha tem a dizer", retruca. Mais tarde, punição anunciada, mesa de jantar com 15 italianos. Todos silenciosos. Comem, bebem, vão embora. Refletidas até nos instintos de quem deveria se manter imparcial, a imprensa, foram essas as reações de quem tem todo o direito de ser parcial, o público. Uma encruzilhada de amor ou ódio, de defesa ou ataque. Para esta coluna, há excessos dos dois lados. Não se pode ignorar o que Schumacher tem a explicar, assim como não se pode afirmar que ele foi condenado sem provas. É leviano acusá-lo de trapaceiro, como é inadequado colocá-lo num pedestal. A história mostra, o alemão deu blecaute todas as vezes que vivenciou duas situações: 1) um carro ligeiramente inferior e 2) as chances de título escorrendo entre os dedos. Foi assim em Macau-90, ainda na F-3, jogando Hakkinen nos pneus. Foi assim em Adelaide-94, em Jerez-97, em Mônaco-seis dias atrás. Schumacher é esse homem, sempre foi. Genial, talentoso, determinado, maníaco por vitórias. Mas dono de um ponto fraco vexaminoso. Polêmico. E capaz de gerar saudades até naqueles que hoje o detestam. Duvida? Espere o ano que vem.

MAKING OFF
A TV gastou alguns segundos no domingo com Hamilton. A mulher a seu lado era Lisa, senhora Ron Dennis. Ele corre na F-1 em 2007.

RESSURREIÇÃO
Rossi renovou com a Yamaha. Voltou a pensar em moto e só. Azar de Hayden, Melandri, Capirossi...

IMPREVISÍVEL?
Ganhou Hornish. Como todos sabiam desde o primeiro treino.

EXPLANAÇÕES
Em seu site, Barrichello classifica de "baboseira" a história de que se confundiu com os botões. "É que quando eu realmente apertei o botão pensando que fosse a primeira vez, já era a segunda (...)" Ahhh... Então tá. Falando em drive-through, esta coluna migrará para a Folha Online durante a Copa.

@ - fseixas@folhasp.com.br


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