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FÁBIO SEIXAS
Blecaute
Não se pode ignorar o que Schumacher tem a dizer, assim como é errado afirmar que ele foi punido sem provas
NICE, FRANÇA, segunda-feira.
Um café expresso, o principal jornal esportivo italiano
e o mais bem-acabado diário inglês.
Primeiro, a "Gazzetta dello Sport".
Nas páginas rosas, manchete para o
escândalo no futebol, destaque para
o fim da Volta da Itália, chamada para a F-1: "Alonso rei, Schumi show".
E um artigo, "Fórmula suspeita", assinado por Umberto Zapelloni, velho colega de paddocks por aí. E que,
por sinal, não esteve em Mônaco.
Para ele, Schumacher foi "condenado sem provas". Escreve que "no
direito, em caso de dúvida, o réu é
absolvido; na F-1, é condenado, naturalmente com a pena máxima".
Brada que não se pode punir ninguém por "achar que cometeu propositalmente um delito " e que o caso pode abrir um precedente grave.
Um gole no café e o "Guardian".
Foto do papa em Auschwitz, o número atualizado das mortes em Java, a nota curiosa sobre um alpinista
australiano tido como morto no
Everest e encontrado dias depois,
sem camisa, delirando. Acreditava
estar num navio. Dentro, um longo
artigo, "Schumacher mostra sua habilidade suprema, mas a mancha é
indelével". O autor, Richard Wil-liams. Que, sim, foi ao principado.
O inglês classifica a manobra no
treino de sábado de "a mais espalhafatosa trapaça já cometida por um
esportista desse porte". Mas logo
volta atrás e aponta, sim, um paralelo. "Foi como ver aquele desesperado Tyson arrancar com os dentes
um pedaço da orelha de Holyfield".
Traduzido em papel e tinta, era esse o cenário na sala de imprensa, no
sábado, durante as sete horas e meia
de investigações. Italianos atônitos,
ingleses sentindo cheiro de sangue.
A certa altura, 22h30, por aí, Schumacher resolve falar. Aviso um inglês. "Não me interessa o que esse
pulha tem a dizer", retruca. Mais
tarde, punição anunciada, mesa de
jantar com 15 italianos. Todos silenciosos. Comem, bebem, vão embora.
Refletidas até nos instintos de
quem deveria se manter imparcial, a
imprensa, foram essas as reações de
quem tem todo o direito de ser parcial, o público. Uma encruzilhada de
amor ou ódio, de defesa ou ataque.
Para esta coluna, há excessos dos
dois lados. Não se pode ignorar o que
Schumacher tem a explicar, assim
como não se pode afirmar que ele foi
condenado sem provas. É leviano
acusá-lo de trapaceiro, como é inadequado colocá-lo num pedestal.
A história mostra, o alemão deu
blecaute todas as vezes que vivenciou duas situações: 1) um carro ligeiramente inferior e 2) as chances
de título escorrendo entre os dedos.
Foi assim em Macau-90, ainda na
F-3, jogando Hakkinen nos pneus.
Foi assim em Adelaide-94, em Jerez-97, em Mônaco-seis dias atrás.
Schumacher é esse homem, sempre foi. Genial, talentoso, determinado, maníaco por vitórias. Mas dono de um ponto fraco vexaminoso.
Polêmico. E capaz de gerar saudades
até naqueles que hoje o detestam.
Duvida? Espere o ano que vem.
MAKING OFF
A TV gastou alguns segundos no
domingo com Hamilton. A mulher
a seu lado era Lisa, senhora Ron
Dennis. Ele corre na F-1 em 2007.
RESSURREIÇÃO
Rossi renovou com a Yamaha.
Voltou a pensar em moto e só. Azar
de Hayden, Melandri, Capirossi...
IMPREVISÍVEL?
Ganhou Hornish. Como todos
sabiam desde o primeiro treino.
EXPLANAÇÕES
Em seu site, Barrichello classifica
de "baboseira" a história de que se
confundiu com os botões. "É que
quando eu realmente apertei o botão pensando que fosse a primeira
vez, já era a segunda (...)" Ahhh...
Então tá. Falando em drive-through, esta coluna migrará para a
Folha Online durante a Copa.
@ - fseixas@folhasp.com.br
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