São Paulo, quarta, 2 de junho de 1999 |
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice FUTEBOL Clima causado por sequestro coletivo leva polícia colombiana a armar superesquema para a primeira decisão Cali tenta isolar a Libertadores do terror
FÁBIO VICTOR enviado especial a Cali O sequestro coletivo ocorrido no último final de semana em Cali, quando guerrilheiros do ELN (Exército de Libertação Nacional) invadiram uma missa e fizeram mais de cem reféns, serviu para mostrar o ambiente de insegurança que o Palmeiras vai encontrar para o primeiro jogo da decisão da Libertadores da América, contra o Deportivo Cali, hoje, às 22h05 (horário de Brasília), na Colômbia. Mesmo acostumada com o clima permanente de guerra civil, a cidade de 2 milhões de habitantes (é a terceira maior da Colômbia) está bastante abalada com o caso. "Demência" tem sido a palavra mais utilizada pelos meios de comunicação locais para definir a ação do ELN. É o assunto nas ruas, no táxi, nos bares. Movimentos civis e religiosos pressionam o governo local para que aja contra o ELN, que se escondeu nas montanhas com os reféns (84 já foram libertados, e calcula-se que outros 40 ainda estão com os terroristas). O Conselho Extraordinário de Segurança restringiu a circulação de pessoas e veículos na zona em que as buscas são feitas. As tentativas que estão sendo feitas para tranquilizar a população têm reflexo direto na partida decisiva de hoje à noite. Com a ajuda do exército, a polícia armou um esquema especial de segurança para o jogo. Aproximadamente 3.000 policiais estarão mobilizados -normalmente, cerca de 400 policiais são deslocados para um clássico em São Paulo. Os ingressos -35 mil foram postos à venda- se esgotaram nas bilheterias. Os que restam estão nas mãos de cambistas (US$ 10 o mais barato) e com a diretoria do Deportivo Cali. Para entrar no estádio, que estará totalmente cercado pela polícia, os torcedores terão que passar por três barreiras de segurança, nas quais serão revistados. Próxima à igreja onde ocorreu o sequestro, a sede campestre do Deportivo Cali, onde o time está concentrado e treinou ontem à tarde, está cercada por seguranças particulares armados. Todos os deslocamentos da equipe local, assim como os do Palmeiras, serão acompanhados por uma escolta reforçada -a polícia não soube precisar o número de homens envolvidos. Apesar da cruzada contra o narcotráfico empreendida, com relativo sucesso, pelo governo nos anos 90, a realidade de crime perdura, e respinga no futebol. Em fevereiro último, o presidente do Deportivo Cali, Humberto Arias, foi sequestrado quando ia assistir ao primeiro jogo de seu time na Libertadores, contra o Once Caldas, no Pascual Guerrero. O carro de Arias foi interceptado por outros dois, dos quais surgiram os sequestradores. Ele ficou um mês em cativeiro, sendo liberado mediante o pagamento de um resgate, cujo valor não foi revelado. ² Histórico A Colômbia é a líder mundial em número de sequestros, com uma média anual de mil casos. Hoje, aparentemente paralisadas, as relações entre futebol e crime organizado já foram muito estreitas no país. O América de Cali, quatro vezes vice-campeão da Libertadores, era comandado há até pouco tempo por Miguel Rodríguez Orejuela, ex-chefe do cartel de Cali que cumpre pena de prisão ao lado do irmão Gilberto. Os irmãos Rodríguez chegaram até a receber uma homenagem do atacante da seleção colombiana Anthony de Ávila. Em julho de 97, ele dedicou um gol marcado contra o Equador aos irmãos narcotraficantes. Antes, em 94, o zagueiro Andres Escobar, que havia defendido a seleção colombiana na Copa dos EUA, foi assassinado com 12 tiros em Medellín por ter marcado um gol contra no Mundial -que resultou na derrota de 2 a 1 para a equipe anfitriã e a consequente eliminação da Colômbia. Presume-se que seu assassino, Humberto Muñoz, que cumpre pena de 43 anos de prisão, era à época um apostador ligado aos narcotraficantes e perdera dinheiro com a eliminação da Colômbia. Apesar da prisão de seus principais chefes, é impossível garantir que o narcotráfico tenha desistido de investir no futebol. "Antes haviam muitas coisas obscuras nesse universo, mas isso está mudando. Um dos reflexos é que, com a diminuição do dinheiro investido pelo narcotráfico, os principais clubes estão recorrendo às divisões de base, pois não têm como contratar jogadores consagrados", relatou à Folha o jornalista Javier Tejada, do diário "Occidente", de Cali. "Lamentavelmente, o controle não é total. A Fifa, que poderia ajudar, não parece estar preocupada." ² NA TV - Globo, ESPN Brasil e Sportv, às 22h05 Texto Anterior | Próximo Texto | Índice |
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