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Sem prorrogação
Derrota nas quartas-de-final da Copa para a França deve pôr fim na seleção brasileira ao ciclo da geração liderada por Cafu, Roberto Carlos e Ronaldo
DOS ENVIADOS A FRANKFURT
Eles já não têm hoje o mesmo
vigor físico, algo evidente na
derrota de ontem para a França. E é pouco provável imaginá-los na África do Sul em quatro
anos. A eliminação na Alemanha, portanto, deve ser o capítulo final de um trio que ganhou títulos, bateu recordes e
também foi a imagem da seleção brasileira por mais de dez
anos. Cafu, 36, Roberto Carlos,
33, e Ronaldo, 29, formam um
grupo que simboliza com perfeição a era mais midiática da
história da equipe nacional.
Com os dois laterais e o atacante, o Brasil atravessou duas
Copas do início até a final -no
vice-campeonato na França em
1998 e no triunfo no Mundial
da Ásia em 2002. Cafu e Ronaldo também participaram da
conquista do tetracampeonato
nos Estados Unidos, em 1994.
Ontem, no último capítulo
na Alemanha, os três tiveram
desempenho muito abaixo do
esperado. Responsável pela
marcação de Henry no lance do
gol francês, Roberto Carlos parou para arrumar suas meias no
momento da cobrança da falta
e permitiu que o atacante corresse livre para finalizar.
Cafu assistiu à eliminação do
Brasil do banco de reservas, ao
dar lugar a Cicinho, na primeira
vez em que foi substituído em
20 partidas de Copas. E Ronaldo não conseguiu superar a defesa francesa e continuou sem
fazer gols contra o maior algoz
do Brasil em Mundiais.
Foi o quarto confronto da seleção brasileira contra a França
do qual os três participaram. O
desempenho é pífio: dois empates e duas vitórias para os
Bleus. Os triunfos rivais ocorreram sempre nos momentos
mais importantes: a final de Paris (3 a 0) e ontem.
Fora de campo, os dramas e
as glórias dos três atletas-celebridades foram escancarados
como nunca na trajetória da
equipe nacional. Quem não vai
se lembrar do Ronaldo dentuço
e magrelo de 1994, do seu drama de 1998, da sua incrível recuperação em 2002 e do seu sobrepeso de 2006?
Como esquecer de Cafu levantando a taça em 2002 homenageando sua mulher, Regina, e o Jardim Irene, bairro da
periferia paulistana onde cresceu? Ou de Roberto Carlos, veloz no ataque e com chutes fortes e precisos, em 2002, e lento,
mal posicionado e com disparos desgovernados agora?
Tudo isso com as câmeras da
Rede Globo coladas nos três.
Eles falaram de suas vidas no
programa "Domingão do Faustão", nas amenidades matinais
de Ana Maria Braga e foram
protagonistas de reportagens
nos horários mais nobres da
emissora, como no "Fantástico" e no "Jornal Nacional".
Romances e casamentos de
Ronaldo sempre foram assunto
de destaque em páginas de jornais e revistas. Alvos de paparazzi, o camisa 9 ensaiou na
Alemanha reclamar do assédio.
"Cada probleminha que
acontece aqui [na seleção] tem
uma repercussão enorme. As
pessoas do Brasil não têm culpa
disso. Mas não sou eu que faço
o jornalismo", disse Ronaldo.
"Incomoda um pouco [o trabalho dos paparazzi]. Mas vai
fazer o quê? Isso vende", falou
Roberto Carlos, após ser flagrado por um jornal sensacionalista em uma boate da Basiléia, na
Suíça, onde a seleção fez um
amistoso antes do Mundial.
Nesse mesmo período, Cafu
foi a voz dissonante e criticou o
comportamento de alguns colegas de profissão. "Tem jogador que fala muita besteira",
declarou o lateral e capitão.
Dos três, o único que ainda
não deu sinais de que deixará a
seleção é justamente o mais velho. Cafu disse que até pensa
em jogar o Mundial de 2010,
quando será um quarentão.
Ronaldo afirmou em entrevista a uma TV espanhola que
esta seria sua última Copa. Depois, desmentiu. Anteontem, o
técnico Carlos Alberto Parreira
falou que o atacante terá condições de jogar na África do Sul.
Ao jornal "AS", da Espanha,
Roberto Carlos disse na semana passada que este deve ser
seu último Mundial. "Estamos
concentrados há 50 dias para
jogar sete vezes. Trancados,
com seguranças para todo lado.
O contato com a família é mínimo", lamentou o lateral.
Sem os três, a seleção vai perder os donos de recordes do time. Ronaldo é agora o maior artilheiro da história das Copas,
com 15 gols, marcados ao longo
de três edições da competição.
E Cafu se transformou no brasileiro com mais participações
em jogos em Mundiais.
A hora de dizer adeus para
eles na Copa parece ter chegado. Resta saber quem serão
seus substitutos na primeira
Copa na África: Cicinho, Gilberto e Fred, os reservas na
Alemanha, manterão o bom nível até 2010?
(EDUARDO ARRUDA, FÁBIO VICTOR, PAULO COBOS, RICARDO
PERRONE E SÉRGIO RANGEL)
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