São Paulo, domingo, 02 de julho de 2006

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Sem prorrogação

Derrota nas quartas-de-final da Copa para a França deve pôr fim na seleção brasileira ao ciclo da geração liderada por Cafu, Roberto Carlos e Ronaldo

DOS ENVIADOS A FRANKFURT

Eles já não têm hoje o mesmo vigor físico, algo evidente na derrota de ontem para a França. E é pouco provável imaginá-los na África do Sul em quatro anos. A eliminação na Alemanha, portanto, deve ser o capítulo final de um trio que ganhou títulos, bateu recordes e também foi a imagem da seleção brasileira por mais de dez anos. Cafu, 36, Roberto Carlos, 33, e Ronaldo, 29, formam um grupo que simboliza com perfeição a era mais midiática da história da equipe nacional.
Com os dois laterais e o atacante, o Brasil atravessou duas Copas do início até a final -no vice-campeonato na França em 1998 e no triunfo no Mundial da Ásia em 2002. Cafu e Ronaldo também participaram da conquista do tetracampeonato nos Estados Unidos, em 1994.
Ontem, no último capítulo na Alemanha, os três tiveram desempenho muito abaixo do esperado. Responsável pela marcação de Henry no lance do gol francês, Roberto Carlos parou para arrumar suas meias no momento da cobrança da falta e permitiu que o atacante corresse livre para finalizar.
Cafu assistiu à eliminação do Brasil do banco de reservas, ao dar lugar a Cicinho, na primeira vez em que foi substituído em 20 partidas de Copas. E Ronaldo não conseguiu superar a defesa francesa e continuou sem fazer gols contra o maior algoz do Brasil em Mundiais.
Foi o quarto confronto da seleção brasileira contra a França do qual os três participaram. O desempenho é pífio: dois empates e duas vitórias para os Bleus. Os triunfos rivais ocorreram sempre nos momentos mais importantes: a final de Paris (3 a 0) e ontem.
Fora de campo, os dramas e as glórias dos três atletas-celebridades foram escancarados como nunca na trajetória da equipe nacional. Quem não vai se lembrar do Ronaldo dentuço e magrelo de 1994, do seu drama de 1998, da sua incrível recuperação em 2002 e do seu sobrepeso de 2006?
Como esquecer de Cafu levantando a taça em 2002 homenageando sua mulher, Regina, e o Jardim Irene, bairro da periferia paulistana onde cresceu? Ou de Roberto Carlos, veloz no ataque e com chutes fortes e precisos, em 2002, e lento, mal posicionado e com disparos desgovernados agora?
Tudo isso com as câmeras da Rede Globo coladas nos três. Eles falaram de suas vidas no programa "Domingão do Faustão", nas amenidades matinais de Ana Maria Braga e foram protagonistas de reportagens nos horários mais nobres da emissora, como no "Fantástico" e no "Jornal Nacional".
Romances e casamentos de Ronaldo sempre foram assunto de destaque em páginas de jornais e revistas. Alvos de paparazzi, o camisa 9 ensaiou na Alemanha reclamar do assédio.
"Cada probleminha que acontece aqui [na seleção] tem uma repercussão enorme. As pessoas do Brasil não têm culpa disso. Mas não sou eu que faço o jornalismo", disse Ronaldo.
"Incomoda um pouco [o trabalho dos paparazzi]. Mas vai fazer o quê? Isso vende", falou Roberto Carlos, após ser flagrado por um jornal sensacionalista em uma boate da Basiléia, na Suíça, onde a seleção fez um amistoso antes do Mundial.
Nesse mesmo período, Cafu foi a voz dissonante e criticou o comportamento de alguns colegas de profissão. "Tem jogador que fala muita besteira", declarou o lateral e capitão.
Dos três, o único que ainda não deu sinais de que deixará a seleção é justamente o mais velho. Cafu disse que até pensa em jogar o Mundial de 2010, quando será um quarentão.
Ronaldo afirmou em entrevista a uma TV espanhola que esta seria sua última Copa. Depois, desmentiu. Anteontem, o técnico Carlos Alberto Parreira falou que o atacante terá condições de jogar na África do Sul.
Ao jornal "AS", da Espanha, Roberto Carlos disse na semana passada que este deve ser seu último Mundial. "Estamos concentrados há 50 dias para jogar sete vezes. Trancados, com seguranças para todo lado. O contato com a família é mínimo", lamentou o lateral.
Sem os três, a seleção vai perder os donos de recordes do time. Ronaldo é agora o maior artilheiro da história das Copas, com 15 gols, marcados ao longo de três edições da competição. E Cafu se transformou no brasileiro com mais participações em jogos em Mundiais.
A hora de dizer adeus para eles na Copa parece ter chegado. Resta saber quem serão seus substitutos na primeira Copa na África: Cicinho, Gilberto e Fred, os reservas na Alemanha, manterão o bom nível até 2010? (EDUARDO ARRUDA, FÁBIO VICTOR, PAULO COBOS, RICARDO PERRONE E SÉRGIO RANGEL)

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