São Paulo, domingo, 02 de julho de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Clóvis Rossi

Os sem-alma

HÁ UM velho ditado gauchesco que diz que lobo velho perde o pêlo, mas não perde a manha. Aplica-se à perfeição ao extraordinário Zizou, nascido Zinedine Zidane faz 34 anos. É daqueles de ficar na história o recital de magia que Zidane aplicou ontem em uma seleção brasileira sem alma, sem organização, sem futebol, sem nem sequer lampejos daquela mágica de que tanto falamos os jornalistas.
Zizou parecia ontem um daqueles velhos elefantes que buscam seu cemitério para morrer dignamente.
Procurou e achou: o gramado do Waldstadion de Frankfurt. Pode não ter sido seu jogo final (despede-se dos campos após a Copa), mas foi certamente seu último grande concerto.
Pena que não teve um adversário à altura. O Brasil cometeu todos os pecados que haviam sido apontados à exaustão durante os quatro jogos anteriores, mais ou menos perdoados porque o time ganhava, aos trancos (exceto contra o Japão), mas ganhava.
O Brasil de ontem foi o mesmo amontoado amorfo de jogadores preguiçosos, burocráticos, incapazes de acertar mais do que um mísero chutinho na direção do gol de Barthez.
Melhorou, por incrível que pareça, a defesa, que permitiu bem menos oportunidades aos franceses, a não ser depois que, no desespero de buscar o empate, a seleção, agora ex-campeã do mundo, desorganizou mais ainda o que já era um espetáculo de desorganização inexplicável.
Afinal, Parreira pôs Juninho para organizar o jogo, pôs Ronaldinho mais à frente, como joga (e brilha) no Barcelona, pôs até Robinho, tarde demais, mas pôs. E daí? Nada. Bem feitas as contas, em vez de futebol feio mas de resultados, teve-se futebol feio e sem resultado.
Tudo isso diante de uma França que não é nada dessas coisas. Tem Zidane, é verdade, mas no ataque depende dos lampejos de Thierry Henry, excelente ontem, e de Franck Ribéry, um jovem (23 anos) que fez a América ou melhor a Alemanha neste Mundial.
A alma que o Brasil não mostrou em Frankfurt estava em Gelsenkirchen, onde Portugal de Luiz Felipe Scolari, desfalcado de seu "Zidane" (o meio Deco), matou-se em campo durante 120 minutos mais os pênaltis e foi à semifinal, igualando a façanha de 40 anos antes, quando tinha Eusébio, o Pelé luso.


crossi@uol.com.br

Texto Anterior: Globo chega a 90%
Próximo Texto: ESPORTE
Schumacher, "em casa", encerra série de poles de Alonso

Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.