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Clóvis Rossi
Os sem-alma
HÁ UM velho ditado
gauchesco que diz
que lobo velho perde o pêlo, mas não perde a
manha. Aplica-se à perfeição ao extraordinário Zizou, nascido Zinedine Zidane faz 34 anos.
É daqueles de ficar na
história o recital de magia
que Zidane aplicou ontem
em uma seleção brasileira
sem alma, sem organização, sem futebol, sem nem
sequer lampejos daquela
mágica de que tanto falamos os jornalistas.
Zizou parecia ontem um
daqueles velhos elefantes
que buscam seu cemitério
para morrer dignamente.
Procurou e achou: o gramado do Waldstadion de
Frankfurt. Pode não ter sido seu jogo final (despede-se dos campos após a Copa), mas foi certamente seu
último grande concerto.
Pena que não teve um
adversário à altura. O Brasil cometeu todos os pecados que haviam sido apontados à exaustão durante
os quatro jogos anteriores,
mais ou menos perdoados
porque o time ganhava, aos
trancos (exceto contra o
Japão), mas ganhava.
O Brasil de ontem foi o
mesmo amontoado amorfo de jogadores preguiçosos, burocráticos, incapazes de acertar mais do que
um mísero chutinho na direção do gol de Barthez.
Melhorou, por incrível
que pareça, a defesa, que
permitiu bem menos oportunidades aos franceses, a
não ser depois que, no desespero de buscar o empate, a seleção, agora ex-campeã do mundo, desorganizou mais ainda o que já era
um espetáculo de desorganização inexplicável.
Afinal, Parreira pôs Juninho para organizar o jogo,
pôs Ronaldinho mais à
frente, como joga (e brilha)
no Barcelona, pôs até Robinho, tarde demais, mas
pôs. E daí? Nada. Bem feitas as contas, em vez de futebol feio mas de resultados, teve-se futebol feio e
sem resultado.
Tudo isso diante de uma
França que não é nada dessas coisas. Tem Zidane, é
verdade, mas no ataque depende dos lampejos de
Thierry Henry, excelente
ontem, e de Franck Ribéry,
um jovem (23 anos) que fez
a América ou melhor a Alemanha neste Mundial.
A alma que o Brasil não
mostrou em Frankfurt estava em Gelsenkirchen,
onde Portugal de Luiz Felipe Scolari, desfalcado de
seu "Zidane" (o meio Deco), matou-se em campo
durante 120 minutos mais
os pênaltis e foi à semifinal,
igualando a façanha de 40
anos antes, quando tinha
Eusébio, o Pelé luso.
crossi@uol.com.br
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