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UM MUNDO QUE TORCE
Fim de festa
Destroçados com a queda da Azzurra , italianos já pensam na Olimpíada para esquecer a Copa
FÁBIO SEIXAS
ENVIADO ESPECIAL A ROMA
São 16h em Roma, calor de
32C. Na Villa Borghese, os
bares estão abertos, a quadra
de futebol, à disposição. Os
estandes esperam o público.
Mas não há um só visitante.
Então ele chega. Toalha
enrolada sob o braço direito,
mochila, fones de ouvido. Escolhe um lugar. Estende a
toalha. Pega um livro, "Crime
Lords". E fica ali, aproveitando o verão, o sossego, a tranquilidade. A solidão.
"Eu sabia que aqui seria
um lugar calmo", diz Peter
Ryan. Não, nem italiano ele
é. É irlandês, mora em Roma,
estuda artes. E está deitado a
poucos metros do telão da Fifa Fan Fest. Um lugar que
uma semana antes, no mesmo horário, fervia.
Na quinta anterior, no
mesmo horário, começava
Itália x Eslováquia, pela última rodada do Grupo F. Vitória dos eslovacos, eliminação
dos campeões do mundo.
Um choque que os italianos ainda não assimilaram.
Ou que encaram à sua maneira, tentando esquecer que
existe uma Copa em curso.
Roma é a 20ª escala da série "Um Mundo Que Torce".
Nas ruas da capital italiana, apenas turistas envergam camisas de seleções.
"O pessoal de fora compra.
Os italianos não querem ouvir falar de futebol", conta Simon Hasan, de Bangladesh,
camelô às portas do Vaticano, que vende camisas falsificadas a € 6. "Eles estão destroçados. Mas dá para entender. Nós, espanhóis, também
ficamos assim nas derrotas",
diz José Franco, de Murcia,
passeando por ali.
Nas lojas, os preços das camisas oficiais deve dizer algum coisa. As do Brasil, Espanha, Argentina, Holanda e
Alemanha, seleções ainda no
torneio, custam 70.
A da Itália sai por 45.
Mais: as vitrines tentam tocar a bola para a frente. O foco já é a Olimpíada de 2012.
"Desilusão... Não esperávamos muito, é verdade, mas
alguma coisa melhor teria de
vir. Agora, só vamos voltar a
falar de futebol quando começar o Campeonato Italiano", fala Fulvio Fabiani, 56,
condutor de charretes.
Quarenta anos mais novo,
Giovanni Marini ataca o ex-
-técnico da Azzurra, Marcello
Lippi: "Ele errou na convocação, errou nos momentos em
que mexeu no time. Não parecia que a Itália estava jogando a Copa do Mundo".
Na Fan Fest, os concessionários das barraquinhas não
querem falar sobre prejuízo.
"Este calor todo... E não vem
ninguém passear, jogar bola", desabafa um vendedor
de raspadinhas. Para hoje,
esperam lucrar um pouco
com torcedores brasileiros.
Mas, apesar da tentativa
de deixar a Copa de lado, vira
e mexe o fantasma aparece.
Ontem, a TV mostrava a entrevista coletiva de Cesare
Prandelli, sucessor de Lippi.
Melancólico, e irônico, é o
que ocorre nas bancas de jornais pela cidade. As prateleiras ainda expõem as edições
de junho das revistas italianas. A edição local da "Men's
Health" traz na capa a foto de
um sorridente Fabio Cannavaro, capitão do time.
O título, em grandes letras
vermelhas e brancas: "Os segredos dos campeões".
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