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FUTEBOL
O time que destoa
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
O primeiro turno do Brasileirão, que está chegando
ao fim, foi marcado pela alternância de equipes no topo da tabela. Mas tudo indica que o returno será diferente.
No nivelamento do torneio, um
time se destaca claramente, não
apenas pelos números, mas pela
qualidade do futebol apresentado. Estou falando do Santos, é claro, que ontem passeou sobre o
Paysandu. Ganhou de 6 a 0, mas
poderia ter feito mais uns dois ou
três.
Claro que, num campeonato
longo como o Brasileiro, muita
coisa pode mudar, mas a equipe
da Vila Belmiro tem condições
privilegiadas para chegar ao título: ótimo elenco, ótimo conjunto e
ótimo técnico.
Não quero encher demais a bola
de Vanderlei Luxemburgo, até
porque ele já infla demais o próprio ego. Além disso, ele só foi
campeão quando teve em mãos
um grupo excepcional de atletas.
Foi assim no Palmeiras, no Corinthians e no Cruzeiro. Quando o
elenco deixava a desejar, ele arranjava um jeito de cair fora logo.
Dito isso, é preciso reconhecer
sua competência. No Santos, Luxemburgo soube conduzir com
muita habilidade, e praticamente
sem traumas, a troca de algumas
peças fundamentais da equipe,
como Renato e Diego.
Sob seu comando, jogadores como Ricardinho e Deivid reencontraram seu espaço em campo e
seu melhor futebol. Tudo flui como se os atuais jogadores atuassem juntos há muito tempo -o
que só é verdade para a metade
deles.
Claro que o Santos ainda padece de uma certa vulnerabilidade
defensiva, e Luxemburgo parece
ainda procurar a melhor escalação do meio-campo. Não parece
sentir firmeza nem em Bóvio nem
em Preto Casagrande.
É possível que, diante de um rival mais forte que o Paysandu, o
time volte a sofrer gols bobos. Mas
sua capacidade ofensiva é tamanha (chegou ontem aos 47 gols)
que pode compensar essa falha.
No jogo de ontem, Ricardinho,
Deivid e Robinho tiveram atuações impecáveis, tocando com rapidez, criatividade e alegria.
O terceiro gol, de Ricardinho,
foi um bom exemplo da solidariedade ofensiva -ou ofensividade
solidária- do Santos. Deivid levou a bola até a ponta direita e
cruzou rasteiro. Robinho, de costas para o gol, ameaçou recolher a
bola, mas deixou-a passar para
Ricardinho, que vinha de frente e
chutou cruzado no canto. Foi um
lance ao mesmo tempo enxuto e
exuberante. Poucos toques, mas
muita inteligência e categoria.
O que me espanta é que muitos
ainda contestem o futebol de Robinho e não percebam como ele
evolui a cada dia, aprimorando
fundamentos como o chute de
longa distância e a cabeçada, e jogando cada vez mais para o time,
sem abrir mão de sua fantasia.
Ontem, depois de ter feito dois
gols e participado de outros dois,
Robinho chutou ainda uma bola
na trave e, no finzinho, quase
marcou de bicicleta. Minha tentação é plagiar Nélson Rodrigues:
os que negam Robinho têm a aridez de três desertos.
Toda-poderosa Fiel
Aos trancos, sem padrão de jogo, o Corinthians vai subindo
na classificação. Ontem, no Pacaembu, fez o primeiro gol na
base da raça e do acaso, resistiu
à pressão do São Caetano no segundo tempo e acabou fazendo
2 a 0. A Fiel joga junto. Como
alguém já disse, o Corinthians
não é um time que tem uma
torcida; é uma torcida que tem
um time.
Nau sem rumo
O novo técnico do Flamengo,
Paulo César Gusmão, proibiu
seus atletas de usarem chinelos
e bonés no clube. Em início de
carreira, resolveu imitar o que
alguns treinadores têm de pior:
decisões arbitrárias e sem efeito
prático. Em campo, como mostrou ontem contra o Palmeiras,
o rubro-negro continua, literalmente, batendo cabeça.
E-mail: jgcouto@uol.com.br
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