São Paulo, segunda-feira, 02 de agosto de 2004

Texto Anterior | Índice

FUTEBOL

O time que destoa

JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA

O primeiro turno do Brasileirão, que está chegando ao fim, foi marcado pela alternância de equipes no topo da tabela. Mas tudo indica que o returno será diferente.
No nivelamento do torneio, um time se destaca claramente, não apenas pelos números, mas pela qualidade do futebol apresentado. Estou falando do Santos, é claro, que ontem passeou sobre o Paysandu. Ganhou de 6 a 0, mas poderia ter feito mais uns dois ou três.
Claro que, num campeonato longo como o Brasileiro, muita coisa pode mudar, mas a equipe da Vila Belmiro tem condições privilegiadas para chegar ao título: ótimo elenco, ótimo conjunto e ótimo técnico.
Não quero encher demais a bola de Vanderlei Luxemburgo, até porque ele já infla demais o próprio ego. Além disso, ele só foi campeão quando teve em mãos um grupo excepcional de atletas. Foi assim no Palmeiras, no Corinthians e no Cruzeiro. Quando o elenco deixava a desejar, ele arranjava um jeito de cair fora logo.
Dito isso, é preciso reconhecer sua competência. No Santos, Luxemburgo soube conduzir com muita habilidade, e praticamente sem traumas, a troca de algumas peças fundamentais da equipe, como Renato e Diego.
Sob seu comando, jogadores como Ricardinho e Deivid reencontraram seu espaço em campo e seu melhor futebol. Tudo flui como se os atuais jogadores atuassem juntos há muito tempo -o que só é verdade para a metade deles.
Claro que o Santos ainda padece de uma certa vulnerabilidade defensiva, e Luxemburgo parece ainda procurar a melhor escalação do meio-campo. Não parece sentir firmeza nem em Bóvio nem em Preto Casagrande.
É possível que, diante de um rival mais forte que o Paysandu, o time volte a sofrer gols bobos. Mas sua capacidade ofensiva é tamanha (chegou ontem aos 47 gols) que pode compensar essa falha.
No jogo de ontem, Ricardinho, Deivid e Robinho tiveram atuações impecáveis, tocando com rapidez, criatividade e alegria.
O terceiro gol, de Ricardinho, foi um bom exemplo da solidariedade ofensiva -ou ofensividade solidária- do Santos. Deivid levou a bola até a ponta direita e cruzou rasteiro. Robinho, de costas para o gol, ameaçou recolher a bola, mas deixou-a passar para Ricardinho, que vinha de frente e chutou cruzado no canto. Foi um lance ao mesmo tempo enxuto e exuberante. Poucos toques, mas muita inteligência e categoria.
O que me espanta é que muitos ainda contestem o futebol de Robinho e não percebam como ele evolui a cada dia, aprimorando fundamentos como o chute de longa distância e a cabeçada, e jogando cada vez mais para o time, sem abrir mão de sua fantasia.
Ontem, depois de ter feito dois gols e participado de outros dois, Robinho chutou ainda uma bola na trave e, no finzinho, quase marcou de bicicleta. Minha tentação é plagiar Nélson Rodrigues: os que negam Robinho têm a aridez de três desertos.

Toda-poderosa Fiel
Aos trancos, sem padrão de jogo, o Corinthians vai subindo na classificação. Ontem, no Pacaembu, fez o primeiro gol na base da raça e do acaso, resistiu à pressão do São Caetano no segundo tempo e acabou fazendo 2 a 0. A Fiel joga junto. Como alguém já disse, o Corinthians não é um time que tem uma torcida; é uma torcida que tem um time.

Nau sem rumo
O novo técnico do Flamengo, Paulo César Gusmão, proibiu seus atletas de usarem chinelos e bonés no clube. Em início de carreira, resolveu imitar o que alguns treinadores têm de pior: decisões arbitrárias e sem efeito prático. Em campo, como mostrou ontem contra o Palmeiras, o rubro-negro continua, literalmente, batendo cabeça.

E-mail: jgcouto@uol.com.br


Texto Anterior: Futebol: Dirigente inglês se demite após escândalo sexual
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.