São Paulo, terça-feira, 02 de agosto de 2005

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"Nenhum aventureiro vai mandar aqui", diz Dualib

Presidente do Corinthians fica do lado de seu Conselho em atrito com Kia Joorabchian e cobra igualdade nos lucros e carta de crédito de US$ 12 mi

Robson Ventura/Folha Imagem
O goleiro Fábio Costa se estica para defender bola em treino do Corinthians, que já levou 33 gols em 16 partidas neste Brasileiro


RICARDO PERRONE
DO PAINEL FC

Os episódios que marcaram a assinatura de contrato de patrocínio entre MSI e Samsung fizeram Alberto Dualib mostrar os dentes para Kia Joorabchian publicamente, em entrevista à Folha.
"Nenhum aventureiro vai chegar aqui achando que vai ser dirigente, botando banca de líder", afirmou o presidente corintiano.
Ele se estranhou com o iraniano por causa da decisão da MSI de não pagar comissão à SMA, empresa de Carla Dualib, neta do presidente, que alega participação na negociação com a Samsung.
Depois, os conselheiros se irritaram por não terem sido convidados para a apresentação da nova camisa e pelo fato de ela ter sido mostrada fora do clube. Pressionado, Dualib, 84, ficou do lado de seu Conselho. O dirigente diz que vai mudar o contrato para dividir igualmente os lucros da parceria.
 

Folha - Conselheiros reclamam de não terem participado da apresentação do contrato com a Samsung e de ela ter sido feita longe do Parque São Jorge. Qual sua opinião?
Alberto Dualib -
O Conselho ficou muito aborrecido, com razão. Da noite para o dia, ninguém, nenhum aventureiro vai chegar aqui achando que vai ser dirigente, botando banca de líder, o clube repudia isso. A pessoa tem que ter história dentro do Corinthians.

Folha - Vai dar confusão quando o Kia ler isso...
Dualib -
Não estou citando nomes, falo de maneira generalizada, mas, se a carapuça servir, é outra história. O Corinthians tem comando, quero deixar isso bem claro, por isso estou falando. Ninguém pode chegar aqui, em cinco ou seis meses, e fazer o que quiser, aqui tem um Conselho que tem poderes. Quem não respeitá-lo cai em desgraça.

Folha - E se a MSI fizer outro evento desses fora do clube? Dualib - Não vai fazer. Se o Kia fizer, sem convidar os conselheiros, eu não vou, o Corinthians não vai. Tudo o que eu faço o Conselho ratifica, ele merece respeito.

Folha - O que pensa de Carla Dualib ter notificado judicialmente a MSI por não receber comissão no negócio com a Samsung?
Dualib -
Acho que a Samsung só aceitou patrocinar o Corinthians por causa do levantamento que a empresa da Carla fez, mostrando o valor da nossa marca.

Folha - Essa é a terceira parceria feita durante a sua gestão. É a de convivência mais difícil?
Dualib -
O difícil é administrar a vaidade do Kia, ele gosta de aparecer na mídia. Por exemplo, ele não podia falar mal da defesa, existe corporativismo, fala mal de um jogador e os outros tomam as dores. O futebol brasileiro tem uma cultura, ninguém pode aparecer mais do que o clube.

Folha - Qual a maior queixa dos conselheiros sobre o Kia?
Dualib -
Falam do deslumbre dele, que ele tem que se colocar no lugar dele, não aparecer como vedete, as estrelas são os atletas

Folha - A oposição reclama que a MSI manda no clube...
Dualib -
Falei para o Kia que vou mudar o contrato. A divisão dos lucros vai ser 50% a 50%, não 51% para a MSI e 49% para o Corinthians. Muda pouca coisa, mas do jeito que está as pessoas acham que isso significa controle acionário por parte da empresa, não é verdade. O Kia aceitou mudar.

Folha - É difícil fazer o Kia concordar com o senhor?
Dualib -
Não, ele me ouve, sabe da minha experiência. Meus argumentos são convincentes, muitas vezes ele pensa numa coisa que não dá certo. Ele [34] é muito novo para entrar no futebol.

Folha - Ele virou ídolo da torcida. Isso incomoda o senhor?
Dualib -
A torcida se empolga com o time e ovaciona o Kia, não me incomodo. Seria pior se a torcida estivesse querendo bater nele na rua, aí seria a derrota da parceria. Se aplaudem o Kia, me aplaudem também, se a parceria tem algum sucesso, o mérito é de quem bancou a parceria, fui eu.

Folha - Existem cláusulas do contrato que não foram cumpridas?
Dualib -
Faltam US$ 12 milhões e a carta de crédito, o Kia viajou e vai trazer isso. O dinheiro está vindo dentro dos prazos, a carta de crédito já deveria ter vindo. Mas isso não é uma sangria desatada, a parceria está dando certo. Temos R$ 10 milhões em caixa para investir no clube. O Corinthians hoje não tem passivo, não tem dívidas, só reclamações trabalhistas. Além disso, a parceria fez bem ao futebol brasileiro, que ficou mais forte com as caras contratações feitas. Se a parceria não tivesse investido tanto no futebol brasileiro, o Santos não teria vendido o Robinho por uma fortuna.

Folha - O fato de a carta de crédito não ter sido apresentada dá brecha para a rescisão do contrato...
Dualib -
Dá, mas não é o caso. A diferença é que agora, em vez de ela ser de US$ 20 milhões, será só do valor que falta, para garantir que será pago. Se algum dia houver caso para rescindir o contrato, quem vai decidir é o Conselho.


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