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"Corri muito", relata cubano desertor
Rafael Capote, que pode atuar nos Jogos Abertos por São Caetano, diz ter fugido da Vila do Pan por baixo de uma cerca
Primeira baixa de seu país nos Jogos do Rio, jogador da seleção de handebol afirma que a saudade da terra natal será superada com o tempo
RENAN CACIOLI
DA REPORTAGEM LOCAL
Quando Rafael Capote se viu
sozinho no meio da Vila Pan-Americana, no Rio, foi a senha
para uma fuga cinematográfica
que começou no dia 11 como
um grande susto e encontra-se
agora bem perto de um sonho.
O jovem armador da seleção
cubana de handebol, 19, foi o
primeiro atleta do país a desertar nos Jogos. Depois dele, dois
dos principais boxeadores do
país seguiriam trilha parecida,
mas com destino à Alemanha.
Capote não foi tão longe. Seu
paradeiro: São Caetano do Sul,
na Grande São Paulo. Assim como os colegas do boxe, tinha
em mente o objetivo que os faz
utilizar algumas das principais
competições ao redor do mundo como portas de saída.
"Podia seguir em Cuba. Mas
sei que tenho talento para jogar
aqui [Brasil] ou na Europa. Posso melhorar de vida em outro
país", disse à Folha o jogador,
que acabou adotado pelo Imes-Santa Maria/São Caetano.
O clube já tem um atleta com
trajetória igual à de Capote. O
goleiro Michel, ex-companheiro de seleção, aproveitou uma
série de amistosos que o país
veio fazer no Brasil em dezembro de 2005 para escapar da
delegação e nunca mais voltar.
"Fazia algum tempo que eu
pensava em vir para o Brasil.
Conversava com o Michel pela
internet sobre a possibilidade
de jogar aqui. Ele falou que não
tinha problema e que iria me
ajudar", explicou o atleta.
Foi Michel, via MSN, quem
deu as coordenadas sobre o que
Capote deveria fazer quando
estivesse em solo carioca.
Na noite do dia 11, Capote relata que chovia muito e que a
maior parte da delegação de
Cuba -inclusive os seguranças
responsáveis por vigiar possíveis desertores- estava em
seus quartos na Vila.
"Aproveitei e fugi por debaixo de uma cerca. E corri. Corri
muito", afirmou ele.
A essa altura, ele sabia que
precisava chegar à rodoviária
da cidade e pegar algum ônibus
com destino a São Paulo.
"Falei com um motorista, e
ele disse que, àquela hora [segundo ele, por volta das 23h], o
mais seguro seria um táxi."
Capote pagou US$ 300 (R$
565) para ir até a casa onde Michel mora, em São Caetano.
Chegou às 6h do dia seguinte.
Dias depois, com a notícia já
correndo -a Folha revelara a
deserção no dia 14-, ficou assustado e teve a ajuda dos companheiros do time do ABC para
se isolar no interior de SP. Ficou duas semanas em Itapira
(176 km da capital), alojado na
casa de um dos colegas.
Capote só voltou a São Caetano nesta semana, quando teve certeza de que a delegação
cubana não estava mais à sua
procura. Ontem, já com o uniforme da equipe da cidade, estava no banco de reservas, à espera de uma chance no amistoso que a equipe fazia contra a
seleção brasileira juvenil.
"Ele tem muita competência.
Voltou pra cá, está atrás da legalização e vai trabalhar com a
gente", disse o técnico do São
Caetano, Washington Nunes.
Como o time já conta com
dois atletas estrangeiros -o limite para o Paulista e o Nacional-, Capote não pode jogar.
Mas Nunes admitiu a hipótese de utilizá-lo nos Jogos Abertos do Interior, entre os dias 15
e 28 de outubro, em Praia
Grande, litoral sul de São Paulo. "A gente conversou com a
direção do clube, e resolveram
ajudar. Ele vai ter uma casa para morar e vai treinar aqui."
Ontem, o cubano foi à Polícia
Federal dar entrada na documentação para, posteriormente, pedir asilo político no Brasil.
Tímido, Capote tem o olhar
distante e não é de muitas palavras. Quando comenta sobre
Cuba, prefere não fazer críticas. Mas não esconde a apreensão com o que as pessoas andam falando sobre ele no país.
"Isso [deserção] não agrada
muito ao nosso governo. Chamam a gente de traidor."
Saudade da terra natal? "É
estranho, porque vivi 19 anos
lá. Mas é só uma questão de
tempo", disse ele, que só ligou
para casa e contou o fato quando já estava bem longe do Rio.
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