No subsolo da instalação que receberá a natação, policiais vigiam abrigo de autoridades construído por temor de ataques

Grossos portões de ferro e travas similares às de submarinos compõem o surreal cenário no parque aquático da Olimpíada

CAIO GUATELLI
EDUARDO OHATA
ADALBERTO LEISTER FILHO
ENVIADOS ESPECIAIS A PEQUIM


Quem percorre o segundo subsolo do Cubo D"Água, o parque aquático dos Jogos de Pequim, se depara com um cenário surreal: um bunker subterrâneo para as autoridades se abrigarem no caso de um eventual ataque. A placa na porta não deixa margem para dúvidas: informa ser o ""Abrigo de Emergência para VIPs".
A simples existência da instalação demonstra que, apesar de o discurso oficial do governo chinês cravar que a Olimpíada correrá às mil maravilhas e que as disputas políticas serão esquecidas, seus dirigentes não apenas trabalham com a hipótese de que haverá problemas de maior gravidade como até já se prepararam para eles.
No Cubo D'Água, os uniformes coloridos, os sorrisos dos voluntários e a decoração, que imprimem um tom de festividade ao local, contrastam com o que é encontrado no piso mais profundo da instalação.
Nele, a visibilidade é bastante prejudicada pelo fato de a iluminação artificial ser limitada e pela inexistência de janelas -o andar do bunker se localiza abaixo do nível do solo.
Além de abrigar a instalação de proteção a personalidades, o lugar é usado também para armazenar material que será utilizado durante os Jogos como, por exemplo, equipamento esportivo e também enfeites.
De todo o Cubo D'Água, é justamente nele, chamado de ""B2" (segundo subsolo), que se cruza com o maior número de seguranças, todos com seus tradicionais uniformes. Alguns caminham de uma direção a outra. Outros se mantêm em constante posição de sentinela para proteger as passagens da entrada de estranhos.
Por três vezes a reportagem da Folha foi detectada, e, quando isso aconteceu, foi expulsa daquele andar pela segurança.
Antes de isso acontecer, no entanto, foi possível passar pelo espaço que será usado como estacionamento dos VIPs. Conta com portões de metal reforçado e travas em formato circular, similares àquelas utilizadas em submarinos.
Mais à frente há outra instalação para eventualmente ser usada pelas celebridades que assistirão às provas de nado: uma sala com grossas paredes e cujo acesso acontece por meio de um corredor equipado com no mínimo duas portas de metal. Pelo menos uma delas somente pode ser aberta pelo lado de dentro.
Ao ser questionada pela Folha sobre a utilidade do abrigo de emergência para os VIPs, uma funcionária do local justificou que era exatamente para a contingência descrita na placa. Mas na seqüência informou que não seria possível a reportagem ficar naquele local e pediu que seguisse caminhando.
De volta à iluminada superfície do Cubo D'Água, uma das arenas esportivas abertas à mídia e onde os atletas da natação já aproveitam para realizar seus treinamentos, a reportagem se viu, de novo, envolta por sorrisos e cumprimentos disparados pelos alegres e animados voluntários dos Jogos.
As ameaças de ataques terroristas durante a Olimpíada são uma das principais preocupações do governo da China.
O temor é que algum grupo aproveite a visibilidade dos Jogos de Pequim para atuar.
Em abril, a Interpol (polícia internacional) alertou as autoridades locais sobre a possibilidade de haver ataques de organizações como a Al-Qaeda.


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