São Paulo, Segunda-feira, 02 de Agosto de 1999
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Ronaldinho é o novo nome do futebol-arte

JOSÉ GERALDO COUTO
da Equipe de Articulistas

Escrevo estas linhas ainda arrepiado pelo golaço de Ronaldinho, no final de Brasil 8 x 2 Arábia Saudita.
Há quem diga que estamos nos precipitando ao dizer que o garoto é um craque. Houve um leitor que me pediu mais comedimento, dizendo: "Nem bater pênalti direito o cara sabe".
Eu pergunto: e daí? Por esse critério, Zico, Sócrates, Platini e Roberto Baggio também não foram craques, pois perderam pênaltis em jogos decisivos.
O entusiasmo pode até ser excessivo, mas é inevitável. Quem ama o futebol, e tudo o que nele é surpresa e alegria, não pode ficar indiferente a uma jogada inspirada como a do oitavo gol brasileiro no passeio de ontem.
Um lance assim é o coroamento de uma arte lapidada ao longo de um século: a de "dar aos pés astúcia de mão", como cantou João Cabral de Melo Neto. É mais um elo na linha evolutiva do futebol brasileiro, que passa por Leônidas, Garrincha, Pelé, Reinaldo, Zico, Romário...
Mil hinos, um milhão de discursos patrióticos, não podem nos dar o orgulho íntimo que um gol como esse nos dá.
  Agora, sossegando o facho, cabe ver com calma o que o Brasil fez em campo ontem.
Em primeiro lugar, o placar não deve impressionar ninguém. A Arábia Saudita nunca teve um time competitivo. Sua própria classificação para a semifinal de ontem foi obtida num jogo totalmente atípico e atribulado contra o Egito (outra equipe fraca), que teve três jogadores expulsos.
O que chamou a atenção, isso sim, foi a facilidade com que os árabes fizeram dois gols no Brasil, empatando o jogo no meio do primeiro tempo. Bobeadas como as que o Brasil cometeu nesses gols não podem se repetir contra equipes mais sérias.
O miolo da defesa e a marcação do meio-campo continuam sendo os pontos fracos do time de Luxemburgo.
A força ofensiva aumentou, e muito, com a entrada de Alex. Ao lado de Zé Roberto, ele foi um dos grandes nomes do time.
Trocando de posição constantemente, triangulando com Ronaldinho e com Serginho e chegando na área para a finalização, Alex e Zé Roberto provaram que dois meias canhotos podem jogar juntos, desde que sejam inteligentes e se entrosem.
O time ficou um pouco torto para o lado esquerdo, sobretudo depois da saída de Evanílson, mas quem se importa?
O importante é que surgiram jogadas variadas de ataque e uma fartura de lances de gol.
Roni entrou muito bem, fez um lindo gol e tornou mais injustificável a permanência de Christian no time. Ninguém pode perder tantos gols impunemente, tendo Warley e Roni fazendo sombra no banco.
  Os leitores Alexandre Lilla Destailleur, Fábio Pindorama e Pedro (um são-paulino indignado que não deu o sobrenome) me escreveram para lembrar que houve, sim, nas últimas décadas, um jogador que atuou nos quatro grandes paulistas: Neto.
São-paulinos indignados, aliás, não têm faltado, depois dos últimos reveses do time. Em geral, eles perguntam (e eu também): será que, com o dinheiro das vendas de Serginho, Dodô, Bordon etc., não dava para formar uma zaga melhor?
De que adianta Carpegiani tentar inovar, escalando três zagueiros, se os três juntos não valem por um?


E-mail: jgcouto@uol.com.br

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