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Ronaldinho é o novo nome do futebol-arte
JOSÉ GERALDO COUTO
da Equipe de Articulistas
Escrevo estas linhas ainda arrepiado pelo golaço de Ronaldinho,
no final de Brasil 8 x 2 Arábia
Saudita.
Há quem diga que estamos nos
precipitando ao dizer que o garoto é um craque. Houve um leitor
que me pediu mais comedimento,
dizendo: "Nem bater pênalti direito o cara sabe".
Eu pergunto: e daí? Por esse critério, Zico, Sócrates, Platini e Roberto Baggio também não foram
craques, pois perderam pênaltis
em jogos decisivos.
O entusiasmo pode até ser excessivo, mas é inevitável. Quem
ama o futebol, e tudo o que nele é
surpresa e alegria, não pode ficar
indiferente a uma jogada inspirada como a do oitavo gol brasileiro
no passeio de ontem.
Um lance assim é o coroamento
de uma arte lapidada ao longo de
um século: a de "dar aos pés astúcia de mão", como cantou João
Cabral de Melo Neto. É mais um
elo na linha evolutiva do futebol
brasileiro, que passa por Leônidas, Garrincha, Pelé, Reinaldo,
Zico, Romário...
Mil hinos, um milhão de discursos patrióticos, não podem nos
dar o orgulho íntimo que um gol
como esse nos dá.
Agora, sossegando o facho, cabe
ver com calma o que o Brasil fez
em campo ontem.
Em primeiro lugar, o placar não
deve impressionar ninguém. A
Arábia Saudita nunca teve um time competitivo. Sua própria classificação para a semifinal de ontem foi obtida num jogo totalmente atípico e atribulado contra
o Egito (outra equipe fraca), que
teve três jogadores expulsos.
O que chamou a atenção, isso
sim, foi a facilidade com que os
árabes fizeram dois gols no Brasil,
empatando o jogo no meio do primeiro tempo. Bobeadas como as
que o Brasil cometeu nesses gols
não podem se repetir contra equipes mais sérias.
O miolo da defesa e a marcação
do meio-campo continuam sendo
os pontos fracos do time de Luxemburgo.
A força ofensiva aumentou, e
muito, com a entrada de Alex. Ao
lado de Zé Roberto, ele foi um dos
grandes nomes do time.
Trocando de posição constantemente, triangulando com Ronaldinho e com Serginho e chegando
na área para a finalização, Alex e
Zé Roberto provaram que dois
meias canhotos podem jogar juntos, desde que sejam inteligentes e
se entrosem.
O time ficou um pouco torto para o lado esquerdo, sobretudo depois da saída de Evanílson, mas
quem se importa?
O importante é que surgiram jogadas variadas de ataque e uma
fartura de lances de gol.
Roni entrou muito bem, fez um
lindo gol e tornou mais injustificável a permanência de Christian
no time. Ninguém pode perder
tantos gols impunemente, tendo
Warley e Roni fazendo sombra no
banco.
Os leitores Alexandre Lilla Destailleur, Fábio Pindorama e Pedro
(um são-paulino indignado que
não deu o sobrenome) me escreveram para lembrar que houve, sim,
nas últimas décadas, um jogador
que atuou nos quatro grandes
paulistas: Neto.
São-paulinos indignados, aliás,
não têm faltado, depois dos últimos reveses do time. Em geral, eles
perguntam (e eu também): será
que, com o dinheiro das vendas de
Serginho, Dodô, Bordon etc., não
dava para formar uma zaga melhor?
De que adianta Carpegiani tentar inovar, escalando três zagueiros, se os três juntos não valem por
um?
E-mail: jgcouto@uol.com.br
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